terça-feira, 30 de maio de 2017

Marcas que marcam

Marcas que marcam
Segundo a visão anglicana, a missão da Igreja consiste na proclamação do Evangelho, no ensino, no batismo, na formação dos fiéis, na resposta às necessidades humanas com amor, na busca da transformação das estruturas injustas da sociedade, na luta pela salvaguarda da integridade da criação, e sustento e renovação da terra. São cinco (5) marcas. A primeira é "Proclamar o Evangelho do Reino" e a segunda é "ensinar, batizar e formar os fiéis", e por isso são consideradas como o mínimo esperado pelas igrejas cristãs. A terceira é "Responder às necessidades humanas com amor" que está relacionada com o que temos feito para ajudar os que necessitam, seja física, emocional ou espiritual. É a acolhida, a inclusão. Já a quarta marca da missão é "Buscar a transformação das estruturas injustas da sociedade", ou seja, é o engajamento de tod@ cristão/ã em busca de um mundo melhor pra se viver. E finalmente, "Lutar pela salvaguarda da integridade da criação, sustento e renovação da terra". É uma visão holística.
Assim, a partir das cinco (5) marcas, não se pode perder de vista que a Igreja existe no poder do Espírito para Proclamar as Boas Novas do amor reconciliador de Deus em Jesus Cristo; Batizar e nutrir a quem passa a crer em Cristo; Responder às necessidades humanas com serviço zeloso; Trabalhar pela transformação da sociedade de acordo com os valores do Evangelho e Salvaguardar a integridade da criação e a renovação da vida na terra.
É preciso incitar no processo diário o ato de amar e trabalhar com outros, ou seja, deve comprometer-se com a "missio dei" e vivenciando a nossa fé Trinitária, pois "Cremos em um Deus como Criador e Sustentador, Redentor e Doador da Vida". Somos uma comunidade de batizad@s, chamad@s para a fé e esperança e com isso, existimos para brilhar como luzes do mundo para a glória de Deus, preparando o caminho para a liberdade que há Cristo e para que o amor de Deus seja revelado no meio de nós.
Somos tod@s chamad@s a proclamar as boas novas. Deus chama a tod@s para a uma vida nova no poder da ressurreição de Cristo, que é precedida pela morte. Morte para tradições apreciadas, morte para preconceitos inveterados; morte para um ego antiquado, e então uma chamada para uma vida nova e revitalizada em serviço e esperança. Missão numa perspectiva anglicana é proclamar as boas novas, é proclamar o shalom de Deus, o reino da totalidade, da paz, da restauração, da cura, solidariedade, do amor e da justiça.  E como disse Queiroz, [...] Quem assim ama, vive em missão permanente".  Odete Liber


domingo, 28 de maio de 2017

A teologia que acredito

A teologia que acredito envolve todos os sentidos, é indecente e provocativa. Ela mexe com estruturas sociais e eclesiásticas. Deixa tudo de ponta cabeça. Não está presa em doutrinas, dogmas, cadernos do sim e não, pode ou não pode, é pecado ou não. 
A teologia que acredito não está presa à Bíblia, porque a Bíblia não prende Deus. A Bíblia não contempla todo Mistério e muito menos dá as respostas para todas as questões da vida. 
A teologia que acredito não é a de um Deus punitivo ou manipulador. Não tem seu foco no sangue, no sacrifício e na lógica da morte e abandono. 
A teologia que acredito é a da terra, do povo, da luta, da alegria, do amor, do sonho e da festa mesmo em meio às dificuldades, do diálogo interreligioso, da diversidade sexual, do direito do corpo da mulher. Não é uma teologia que exclui, que massacra os corpos, que é rígida, que define quem é Deus. É a teologia do Mistério da Vida, da nuvem do não-saber, da mística e da beleza. É a teologia que acontece em meio à vida cotidiana com suas alegrias e agruras, lutas, vitória, perdas, mas que nos anima e dá esperança para seguir na caminhada da vida. Odete Liber


terça-feira, 16 de maio de 2017

Quem nunca sofreu?



É interessante falar sobre a questão do sofrimento. Ainda mais em tempos de muitas teologia vagas, que se fundamentam no ter e não no ser. Olham pros textos bíblicos como se esses fossem manuais prontos e acabados.  Falam que o bom cristão não sofre, tem tudo do bom e melhor. Fácil?  Até parece! Mas quero apenas lembrar que não existe ser humano que não tenha sofrido, passado por momentos difíceis nessa vida. É a nossa fragilidade, humanidade que faz com que soframos. Não somos invencíveis, como os super heróis das histórias. Por isso, a dor, maldade, injustiça, pobreza, fome, violência, morte, relacionamentos rompidos, seja qua for o sofrimento, ele atinge a todas as pessoas. Inclusive as pessoas justas, cristãs e com isso, abrolham as dúvidas a respeito da justiça de Deus. No Salmo 34 se lê que Deus é justo e que os seres humanos de coração reto procuram a justiça do Senhor. O salmo nos apresenta que o salmista louva ao Senhor por livrá-lo de seus temores e de seus inimigos. Davi se coloca como aluno de Deus (vs. 1-7), aluno no sentido de que ele aprende com a vida. Pois a vida ensina quando a gente assume a posição de alun@. Na escola da vida, porém, as vezes, primeiro vem a prova, depois a tarefa e a nota.  As provações/ lutas amadurecem àqueles/as que querem aprender, mas endurecem àqueles/as que não estão dispostos a crescer, a mudar.  Após  as dificuldades e adversidades, Davi  aprendeu que Deus salva, liberta e protege. Deus livra não só dos inimigos externos (perseguidores), mas também de inimigos internos (medos). A lição aprendida não é que os justos não tenham problemas, mas que Deus os livra em seus problemas. Deus nem sempre livra dos problemas, mas sempre livra nos problemas. Os problemas servem para crescimento e amadurecimento de quem quer que seja. E assim, seguiremos, cantando: “Bendirei o SENHOR em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios” (v. 1).  Deus nos agracie e nos fortaleça para seguirmos pela estrada da vida com fé, amor..
Odete Liber 

sua fé te compromete ou não??



Deus quer que tod@s nós tenhamos uma vida digna, que a verdade prevaleça, que o amor seja a prioridade e o essencial, que haja paz, justiça, alegria. Jesus nos ensina como podemos contribuir e cooperar para que os sinais do Reino de Deus se façam presentes na vida de todos. Para que os sinais do Reino se multipliquem, se tornem reais, transformem a realidade. E nesse sentido a missão da igreja, a missão de cada cristão/cristã é a de dar testemunho dos feitos, da misericórdia e do amor de Deus, do poder de sua graça, mobilizando pessoas, indo ao encontro de tod@s, denunciando as injustiças sociais, enfrentando o sofrimento e possibilitando um novo começo. A missão de cada um/a é romper com preconceitos, questionando a discriminação, os privilégios de alguns em prejuízo de muitos, pois afinal "Quem tem medo de se comprometer e de sujar as mãos não pode ser discípulo" (Weber). A nossa fé nos compromete, alimenta a esperança e produz frutos quando se torna ativa no amor. Por isso, penso que precisamos ser ousad@s, teimos@s, afinal, temos o privilegio de nos encontrarmos com o Senhor em sua PALAVRA, SACRAMENTOS, conversar com Ele, clamar por ajuda, falar das graças recebidas, interceder, pois a cruz e a ressurreição revelaram o sentido da vinda de Jesus. Assim como aconteceu com o leproso que foi curado, e passou ater nova vida, nós também devemos partilhar essa nova vida com outras pessoas, sejam aquelas que se afastaram por um motivo ou outro, seja porque se sintam rejeitadas ou então por se acharem imerecedoras da graça de Deus. Que Deus nos ajude a confiar em suas palavras e vivencia-las para superar as sombras da morte e promover a vida à tod@s. Amém. ODete Liber

segunda-feira, 8 de maio de 2017

É porque Deus nos ama que devemos nos amar




É porque Deus nos ama que devemos nos amar
I João 5.1-5
Que a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos @s irmãos e  irmãs em todos os dias de suas vidas! Os textos bíblicos nos falam de amor, serviço, fé. Ambos resumem-se em: "Há um só Evangelho para tod@s, e tod@s precisam amar a Deus e ao próximo com atos concretos"!
O texto de Atos nos diz que a palavra é pregada e que precisamos ter a capacidade de ver o mundo, a igreja e a nossa vida a partir da perspectiva de Deus.  Deus está dizendo a todos que vivem além da barreira da separação de Deus, que a vida em Jesus e a presença do Espírito Santo quebra tudo que separa você de mim.  Pois uma das grandes barreira da proclamação do Evangelho no passado foi o preconceito e ainda o é nos dias de hoje. Não há um Evangelho separada para judeu e outro para gentios. O que há, é apenas um evangelho para tod@s.
No Evangelho de João 15:9-16 aprendemos que os discípulos de Jesus Cristo o servem e esse serviço não é escravidão, mas amor. Por isso para Jesus, a maior prova da existência do amor é “dar a vida pelos amigos” (v.13). Foi exatamente isto que ele fez por nós (v. 12) e é exatamente isto que ele espera que façamos uns pelos outros. Dar. “Deus amou o mundo de tal maneira que deu...)  Se amamos também seremos capazes da dar; dar nosso tempo, nossa atenção, nosso carinho, nosso abraço, nosso apoio, nossa ajuda, nosso pão, nossa compaixão, nosso perdão, enfim, nossa vida!   Em sua introdução sobre o Evangelho de João, Brakemeier escreve que esse Evangelho compromete a pregação cristã de articular, ao lado da esperança, a realidade da nova vida que, com Jesus, despontou em meio a um mundo cheio de trevas e dor.
E em I João 5:1-6, que é texto que iremos refletir especificamente nesta noite, nos leva a continuarmos a refletir assim, como os outros dois textos, sobre o tema fé e amor. O texto inicia com uma confissão de fé: Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo... (5.1a). Gira em torno das consequências práticas da confissão Jesus é o Cristo. E conclui com a afirmação (apesar de ser em tom de pergunta): Quem é que vence o mundo senão aquela pessoa que crê que Jesus é o Filho de Deus? (5.5.) A partir da confissão de fé, em torno dela e para ela, flui todo o texto.
Com certeza @s irmãos/ãs já ouviram muito falar sobre o amor e a fé. Também muito já indagaram: O que é fé? Fé é amar o próximo, mas, e daí? Como? Será que fé tem algo em comum com o amor?
Tod@s nós sabemos que Deus mostrou seu amor ao mundo, tornando-se humano, um de nós. E este ato solidário criou para nós a possibilidade de encontrarmos o próprio Deus. Deus mostrou-se solidário com sua criatura – nós.
João destaca no capítulo anterior que a fé precisa de ação e que esta ação só pode ser o amor fraternal. Com isso pode-se afirmar que no amor ao irmão ou irmã se reconhece quem pertence a Deus. É nossa fé que supera o mundo, é a nossa fé que confessa Jesus Cristo e que, como consequência, exerce o amor.
Segundo o texto, todas as pessoas que integram a comunidade confessam crer em Jesus (assim como tod@s aqui presentes). Todas confessam amar a Deus. Mas as consequências de sua fé são diferentes. O amor que brota dessa fé se revela de forma distinta. Como medir, pois, a fé autêntica? Como atestar, pois, o amor verdadeiro? Não é este um drama que nos atormenta ao longo da história da Igreja, até hoje?
Vale também frisar que crer, neste texto, significa confirmar, ficar com fé ou permanecer em Cristo. “Jesus é o Cristo” (v.1) é um credo cristológico mais simples e mais antigo dos primeiros cristãos. Em nosso texto esse credo recebe uma atenção especial. O Cristo é o homem Jesus, ou seja, não se trata de uma pessoa espiritual. E quando lemos “nascidos de Deus”, fica claro que mais uma vez Deus se encarnou.
Em vários momentos desta carta, inclusive neste texto, se lê que há critérios que apontam para a fé autêntica. Em seu início, esta perícope indica: (...) porque todo aquele que ama a quem o gerou, ama a quem dele/dela foi gerado (5.1b). Em outras palavras: quem tem amor por seu pai e/ou sua mãe, ama os filhos e as filhas por ele/ela gerados. Ama, portanto, seus próprios irmãos e irmãs; pois, pela ótica de Deus, que nos tem como filhos e filhas, somos irmãos e irmãs. Deus não nos trata como filho único ou como filhas que exigem exclusividade. Ele nos quer como a uma família, em que irmãs e irmãos se ajudam mutuamente.
De acordo com o credo, praticar o amor e os mandamentos é sinal de que se é filh@ de Deus. Amar, aqui, não tem nada a ver com sentimentos entusiásmaticos ou sentimentalistas, mas sim, sublinha a ação responsável diante do irm@, diante do mundo. É assumir as responsabilidades, as consequências dos erros/pecados e acertos.
O teólogo alemão Zink escreveu o seguinte: “Sem fé é impossível – Todo ser humano crê em algo, mesmo pensando que nada crê. Não se pode ver e provar. [...] Pois crer significa confiar. Quem crê confia, mesmo onde nada vê. Está certo da sua causa.”
Segundo Helmut Gollwitzer, confissões de fé que não tem como consequência transformações terrenas e profundas na sociedade não passam de uma questão particular que traz apenas satisfação pessoal. A Confissão de fé em Cristo deve trazer e gerar mudanças na vida das pessoas, na comunidade de fé, na sociedade. É com e a partir de  Jesus de Nazaré que é o Cristo (5.1), que é o Filho de Deus (5.5),  que está toda nossa esperança. Não é por esforço próprio que venceremos o mundo, mas pelo poder que vem dessa fé.
Então, a fé e o amor que nascem de Deus vencem o mundo, porque Deus é amor. Não é qualquer fé que vence o mundo, quem vence é a nossa fé, que é a única. Esta consciência faz com que os mandamentos não sejam penosos.
O amor cristão leva a outra pessoa a ser como Deus quer que ela seja: um ser humano criado à sua imagem.
Amar não é um cumprimento de uma lei divina, mas é reconhecer a situação do irmão no mundo, é reconhecer que o outro também quer ser tratado com justiça, amar é consequência do amor de Deus, o qual reconhece de uma maneira real e solidária a situação e necessidade do ser. E amar é algo para agora e não pra amanhã.
Os gestos de amor são, portanto, movidos pela gratidão a Deus. São atos de liberdade, em favor do próximo. Os mandamentos de Deus não são lei, mas apontam possibilidades concretas de amar. Confissão de fé e prática dos mandamentos são inseparáveis. Não se trata de amar por amar. O cristão sabe por que ama. Este saber, que lhe dá um poder incomum, o leva à persistência na luta e lhe dá a esperança de vencer as adversidades.
Amar e ter fé significa romper o esquema das más estruturas, ser subversivo contra a lei humana, contra os círculos viciosos de nossa sociedade. Ou seja, é estar ao lado e com os desprezados pela sociedade, os que enfrentam a dor e a solidão, a indiferença, os pobres, os marginalizados. Pois a fé e o amor que nascem de Deus vencem o mundo, porque Deus é amor.
Na fé, a pessoa nasce de novo todos os dias.  Sabemos que é no encontro com o Sublime, o Sagrado, Jesus/Deus, com o qual podemos reclamar, gritar, chorar toda lágrima, na certeza que depois iremos nos alegrar novamente, porque é na fraqueza que nos tornamos fortes. E o milagre acontece!
Sabe, a sociedade nos manda descartar o outro, porém, Deus nos ordena a carregar o outro. Para Bonhoeffer “o outro só será irmão quando se tornar um fardo, e só então deixará de ser objeto dominado. [...]. Levar o fardo do outro significa aqui suportar a realidade do outro em sua condição de criatura, aceitá-la, e, sofrendo-a, chegar ao ponto de alegrar-se com ela”.
Portanto, somente “quem carrega sabe-se carregado, e somente com esta força poderá carregar”. Seguir na caminhada cristã é mais que dizer que vc se preocupa com o social. Ser Crist@  é trocar nosso fardo pelo de Jesus, e assim nos tornamos carregadores de fardos de esperança, de justiça, de amor, de misericórdia e da paz que excede todo entendimento humano. Andar e carregar o outro é ser solidário, é andar com o outro, é se encontrar com Cristo, é fazer parte do Reino de Deus.
Porque o amor de Deus nos mobiliza, não nos dá sossego, nos põe a experimentar sapatos alheios para ver onde é que eles verdadeiramente nos apertam.. Não podemos ficar em nosso marasmo, não nos cabe permanecer indiferentes ao mundo, porque conforme canta Mercedes Sosa: “Eu só peço a Deus que a dor não me seja indiferente...” E eu digo: Só sabe o que é o amor quem experimentou Deus. Quem busca meramente a realização pessoal ou a autogratificação viverá um amor insosso, sem sabor (como chuchu.). O amor é doação, é gratuidade.
E quem ama e tem fé, “[...] crê em Deus não é um otimista. Ele não precisa do pensamento positivo. Quem crê em Deus não é pessimista. Quem ora a Deus confia em Deus.” Apenas crê como disse Moltmann.
E que, com as palavras lidas nos textos bíblicos de hoje e a palavra partilhada, tenhamos fé, esperança e amor, para que, como Igreja, e como cristãos/ãs sejamos portadores/as dos sinais do reinado de Deus e que possamos ver no mundo a esperança que o Dia do Senhor proclama. E Que Deus nos abençoe!
Odete Liber