quinta-feira, 10 de setembro de 2020

 

“O objetivo do consumidor não é possuir coisas, mas consumir cada vez mais e mais, a fim de que com isso compensar o seu vácuo interior, a sua passividade, a sua solidão, o seu tédio e sua ansiedade”. Érico Veríssimo

Esses dias conversava com duas amigas e disse que há muito tempo não compro mais roupas e sapatos. Questão de estilo de vida e também, de saber que não preciso ficar trocando de roupa a cada estação do ano. Tenho roupas que comprei a mais de 10 anos e estão em perfeito estado.

Lógico que não acreditaram, porque aparentemente sempre tenho novas roupas e nas poucas vezes que comprei e estávamos juntas comprei quatro vestidos de uma vez, de um bom tecido, bom corte, que posso usar por muitos anos e em diferentes momentos.

Não sigo mais a lógica do mercado que é consumir. Porém sei que a maioria segue o ditado “toda estação pede renovação de roupas e sapatos” e com isso, consumismo, gastos desnecessários e poluição do meio ambiente. Há tempos, faço o caminho inverso. Não renovo guarda roupa e nem sapateira. Optei por roupas duráveis, de brechós (que tem garimpo vintage- roupas que têm vida útil longa, pois os materiais são duráveis, o preço acessível e uma história de moda muito profunda) e  pequenos produtores (dinheiro gira localmente, ajudando na economia da região; você valoriza as pessoas que você conhece, você sabe a procedência do que comprou, entre outras coisas), além de  fazer reformas em minhas roupas (trabalhar muito a criatividade em looks incríveis combinando peças.Eu repito DEMAIS roupas e peças).

Depois de eu ter consciência de que a moda tem impacto social, político e ambiental, optei por diminuir aquilo que é chamado de "fast fashion", que são as roupas produzidas para serem consumidas e descartadas com certa rapidez, ou seja, a cada estação, novos modelos e cores, nova coleção, uma nova “tendência”. O mercado cumpre seu papel de estimular o consumo a todo momento e gerar o desejo do ter. Ter o prazer imediato. É preciso parar de se iludir com prazeres imediatos, esquecendo valores, que não se compram em lojas nem se adquirem a prestações. A sociedade de mercado oferece as pessoas objetos elevados à categoria daquilo que completaria a falta-a-ser. É frenesi de prazeres superficiais e descartáveis.

Nessa caminhada descobri que o mercado da moda é um dos mais poluentes do mundo, que ostenta o posto de uma das indústrias mais predatórias para a saúde ambiental, animal e humana do planeta. Roupa descartada vira resíduo, vira lixo no mundo. E de lixo o mundo já está cheio. Além dos recursos humanos, que muitas vezes são escravos ou análogos a isso. É preciso pensar nas mãos que costuram e constroem as peças. Um dos trabalhos mais negligenciados do mundo. Torna-se necessário parar e pensar um pouco. Exercitar o consumo consciente das roupas que se veste.

Minhas roupas têm história pra contar e seguem contando histórias. A vida é ser e não ter. Qualidade de vida não se confunde com o ter. A vida não está medida pelo que compro e pelo seguir a tendência, mas pelo que sou!