segunda-feira, 12 de março de 2018

Teologia é vida e não meras palavras


Fazer teologia é viver a vida e suas agruras. É sujar as mãos, mexer e pisar na terra, correr, pular, brincar, rir, chorar, sonhar. Fazer teologia é mexer com os sentidos. Sentidos do ouvir os pássaros, os grilos, sapos, bichos, do apalpar, do tocar, do comer e beber, do sentir o aroma das flores, do olhar curioso, do olhar apaixonado ou sofrido, de andar com os que sofrem, pobre, viúva, órfãos, enfim, andar com necessitados.
A teologia se faz real e presente na vida e não em meras palavras ou em artigos sistematizados. Teologia que faz sentido pra vida não é a elaboração de longos textos acadêmicos, cheios de notas de rodapé e palavras difíceis. Talvez por isso Jesus não escreveu um livro, escritos, artigos.
A teologia pra vida não se faz na academia, não que essa não seja importante. A teologia acontece em casa, na vivencia, na mesa, no partir do pão, no compartilhar as experiências da vida, nas coisas simples, nas dificuldades. Teologia do dia a dia, teologia do pão com manteiga e café, da cerveja na sexta feira com amigos, na conversa com amig@s,  no frigir dos ovos, do brincar e cantar com o sobrinho, das crises de riso e choro, do sofrer por amor, do choro pela perda.
Teologia é coisa simples, porem os teólog@s gostam de complicar, usam palavras difíceis para explicar o simples, gostam de vocabulário robusto: pneumatologia, soteriologia,, longas elocubrações. E a teologia fica cada vez mais distante da vida das pessoas e se torna inútil. Perde seu sentido.
Creio que a teologia é para libertar as pessoas que estão oprimidas pela religiosidade vazia, vã, que escraviza ou faz com que as pessoas vivam uma duplicidade de vida.
A teologia que faz sentido para vida precisa despir-se das roupas antiquadas, tradição pesada, clericalismo que cheira legalismo, despir-se da roupagem que encobre o que deveria ser descoberto e mostrado. Precisamos de uma teologia sensorial e sensual, como dizia Rubem Alves. Corpo que dança em êxtase, deve ser a festa e comemoração da liberdade, deve se embriagar no vinho da vida. A teologia pra vida e da vida é aquela que liberta o Cristo dos religiosos, da teologia clássica, dos fundamentalistas. E deixa livre para ser quem é: esse ser de amor e liberdade. Uma teologia sem as amarras intelectuais, sem doutrina e moralismos. Saindo das bibliotecas, da academia, dos livros, dos artigos e indo para o mundo, abrindo suas tendas e habitando e lutando com o povo e pelo povo.
A teologia deve ser como a poesia, que se faz das “coisas insignificantes”. Deve aprender a gostar das “das coisinhas do chão- / Antes que das coisas celestiais”, deve ter “um olhar para baixo”, usar das “palavras apenas para compor silêncios” diante do Mistério da Vida, como a poesia simples e da vida de Manoel de Barros. A teologia deve ser desnudada da metafísica e lidar com a física, com o corpo a corpo, com o pé na terra, as mãos tateando a vida. E como disse Nancy Cardoso, é a “Palavra… se feitas de carne”.  Que a nossa teologia faça sentido, fale da vida, com a vida e transforme vidas, assim como sentamos e tomamos cafezinho com amig@s. Odete Liber