domingo, 26 de julho de 2015

Sonho

O sonho é como uma ponte que nos possibilita atravessar os rios e até ares da vida. Porque nessa vida, só temos uma certeza: nossa caminhada um dia será interrompida. Quando? Não sabemos e também não importa. Gosto de ler uns trechos bíblicos, como o do sonhador Jeremias. Ele me faz pensar que vale a pena continuar sonhando e tendo esperança: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança (Lamentações 3.21)” Esperança diária, esperança para cada dia, cada amanhecer.
Em especial, por acreditar que não há esperança mais gostosa do que saber que há um Deus gracioso, amoroso, que de tudo está cuidando, que por mim e por nós está zelando e que nada foge ao controle de suas mãos, apesar de nós e de nossas escolhas. As alegrias são dádivas, as perdas são amostras de sua zelosa pedagogia, que num primeiro momento nos ensina a desapegar, para num segundo momento pedirmos. Nada nesta vida é sem sentido, só temos que encontrar o ensinamento ali contido: Seja agradável ou não, ruim ou bom, alegre ou feliz, dolorido ou prazeroso... Em tudo e com tudo podemos e devemos aprender!
Afinal, um dia a gente sorri e em outro a gente chora, um dia a gente perde e em outro ganha, a vida é dura, não é fácil, as pessoas erram, nós erramos, em um dia a gente se sente só em outro não, em algum dia a gente não sente nada, só um vazio, em outro a gente vive intensamente a alegria, amor. Enquanto a vida não é interrompida, sigamos em frente, com esperança, fé, amor, paciência, garra...Vida  que segue!! Odete Liber.



domingo, 19 de julho de 2015

Mulher é a imagem do Deus invisível

Livro fascinante escrito da história humana. Relata a reflexão sobre Deus e como este age no mundo. As mulheres não aprecem muito no texto, mas os temas dos diálogos são importantes para os assuntos que preocupam as mulheres nos dias atuais.
O livro de Jó, nos apresenta um homem sofredor, e começa afirmando que ele era pai de 7 filhos e três filhas, que morrem tragicamente. No fim, porém, capitulo 42:13-14, a família reaparece como dom de Deus.
Diz o texto 42: 13-17:
Também teve sete filhos e três filhas. E chamou o nome da primeira Jemima (Rola), e o nome da segunda Quezia (Cassia), e o nome da terceira Quéren-Hapuque (Azaviche). E em toda a terra não se acharam mulheres tão formosas como as filhas de Jó; e seu pai lhes deu herança entre seus irmãos. E depois disto viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos, e aos filhos de seus filhos, até à quarta geração. Então morreu Jó, velho e farto de dias. 
Esse é o único lugar da Bíblia em que um pai dá nome às filhas. Rola significa pomba brilhante; Cássia é um tipo de perfume e Azeviche é como o rímel para embelezar os contornos dos olhos e os cílios.
Na Bíblia, os nomes são significativos, pois enfatizam a importância da pessoa desde o seu nascimento. Jó atribuiu valor as três filhas e elas se tornaram herdeiras. Ele ainda questiona todos os costumes de seu tempo e termina enfraquecendo o patriarcalismo.
No cap. 1:20-22, diz:
Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR. Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.
Nesse texto temos a figura de Jó em seu sofrimento. Evoca a figura da mãe, ao falar do ventre que lhe deu a vida. Para qualquer ser humano frágil, limitado e passageiro, o ventre materno é a fonte da vida. Essa é a condição de Jó em seu sofrimento extremo, conforme o capitulo 3:3ss:
Pereça o dia em que nasci, e a noite em que anunciaram:’nasceu um menino’! [...] Pois não fechou a porta do ventre que me trouxe, e não escondeu dos meus olhos tantos males! Por que não morri no ventre materno, ou não expirei logo ao sair das entranhas? Por que em dois joelhos fui acolhido e em dois peitos, amamentado? Pois agora, dormindo, eu estaria calado e repousaria no meu sono.
Em Jó, também temos a apresentação da esposa dele, e de maneira dramática. Depois de perder todos os bens, a casa, os 10 (dez) filhos, Jó é atingido por uma doença de pele. Sua mulher, que também perdeu os filhos, casa e sustento, volta-se desesperada para o marido e clama:
Ainda continuas na tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre de uma vez! Ele respondeu: Falas como uma insensata. Se recebemos de Deus os bens, não deveríamos receber também os males?
As palavras da mulher são duras criticas e Jó as critica. Mas, nos últimos diálogos do livro, ele próprio chega a entender o que sua mulher/esposa queria dizer. O problema é este: como entender o sofrimento dos inocentes e íntegros e, ao mesmo tempo, afirmar a bondade e misericórdia de Deus?
A resposta de Jó é uma procura do sentido de seu sofrimento. Os males não vêm de Deus. A esposa mostra ao marido, desde o começo do livro, que ele não conhece a Deus de verdade. Ela abre os olhos dele para trilhar o caminho que leva a um conhecimento mais profundo e a um amor mais verdadeiro de Deus.
No capitulo 14:1-2:
O ser humano, nascido da mulher, tem a vida curta, mas cheia de inquietação. É como a flor que se abre e logo murcha; foge como sombra, e não permanece.
Na Bíblia, entre todos os termos usados para se falar dos seres humanos, o mais comum é ‘filho do homem’, expressão que pretende contrastar a mortalidade humana com a imortalidade de deus. Numa sociedade patriarcal, o homem é a medida do verdadeiro ser humano. Jó, porém, fala da mortalidade humana em termos femininos. Em linguagem poética, ele lamenta a brevidade e a dificuldade da vida humana, ou seja, do mortal, nascido de mulher.
No capitulo 17: 1-16, temos o auge da dor do inocente que sofre no meio de uma sociedade a qual entende o sofrimento como castigo pelo pecado. E Jó faz seu clamor.
Empobrecido, doente, marginalizado, incompreendido pelos amigos, objeto de espanto e de zombaria, Jó se encontra á beira do desespero. Assim, a própria morte é vista por ele como maneira de escapar do sofrimento. Chega a tal intimidade com a morte que o esterco, ou tumulo, segundo outras traduções, chega a tornar-se seu pai e os vermes, sua mãe e sua irmã, tão familiares são para ele as dores que sofre.
O grito final é uma suplica pedindo o dom da esperança. No fim de sua conversão, Jó encontrará essa virtude em Deus. Nesse momento ele ainda está a procura.
No capitulo 19:7-18, é mostrado o extremo abandono de Jó no seio de sua família. Temos um Jó cercado pela violência de todos os seus parentes e amigos, e ainda abandonado por seus serv@s. Ele é repugnante até para sua própria casa. Nessa situação de abandono total, Jó faz o seu ato de esperança em Deus, que virá salva-lo e refazer-lhe a vida plena. No cap. 19:25-26, temos uma bela oração de esperança.
 Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne verei a Deus...   
 Já em Jó 31:35-40, temos o sofrido personagem em seu protesto de inocência, confessando sua integridade pessoal. Ele não se desviou da justiça, nem em seus desejos mais íntimos. No decorrer do capítulo, Jó confessa a deus que sempre foi fiel no seu casamento. Fez justiça para com seus empregados e sempre ajudou a viúva necessitada.    
O livro de Jó, em seguida, a imagem de mãe para ensinar que todo o mundo criado vem do mais intimo da vida de Deus. A criação é como o nascimento de uma criança, cuja vida vem do útero de sua mãe. Esse é o ensinamento do poeta, no cap. 38:4ss.
A figura da mãe, fonte de vida e do amor torna-se então a imagem principal para revelar a vida intima de Deus: ele é a fonte de vida e de amor sem limites, tal como as entranhas da mãe. A mulher é a imagem do Deus invisível, principio do mundo criado e da nova criação. A mulher é valoriza e citada, a ordem estrutural é quebrada em Jó. Que possamos fazer isso em nossa caminhada como mulheres e cristãs.  Odete Liber

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Tempos em que precisamos de algo mais

Tempos em que precisamos de algo mais
 Quando ligo a TV, ou pego uma revista para folhear (cultura inútil), me deparo com modelos e padrões de moda, seja na maneira de vestir, seja, no modelo de porte físico, cor do cabelo, magra, alta, etc. Tod@s perfeit@s e eu aqui, na minha imperfeição. Depois, vem a questão de que tod@s devemos ser bem sucedid@s na vida. E novamente eu, na luta do dia a dia. Não há lugar para perdedor/a. É preciso ter muito. O ser já não importa. Tudo é muito rápido e passa quase sem deixar vestígio da sua ocorrência. Vamos apenas vivendo, acordando e dormindo, acordando e dormindo...
Nessa loucura da vida atual, vem à sensação de vazio, de eterna busca "do não sei o que".  O ser humano perde-se em si mesmo, já não sabe muitas vezes quem é, para que veio e para onde vai. E acabamos nos levando pelo ditado que "felicidade são apenas momentos", e depois fica a angustia, solidão, vazio.  
E com isso, às vezes bate a porta de nossa vida uma sensação de que algo nos falta. É a sensação de que nos faz lembrar que somos humanos, por isso vivemos esse emaranhado de emoções. O sentido da vida não pode ser inventado, tem de ser descoberto na caminhada da vida. O mundo nos diz que é preciso correr contra o tempo, é preciso ter, ter... E o relógio não para: tic, tac, tic, tac.. O tempo não para!!!
E nós vamos vivendo como louc@s, sem sentir, viver intensamente a vida na sua simplicidade. Leonardo Boff indaga: “Para onde vamos, já que sabemos tão pouco de onde viemos e apenas um pouco do que somos? As respostas nos fazem corajosos ou covardes, felizes ou trágicos, esperançosos ou indiferentes”.
Recordo-me que uma amiga querida sempre diz: "A vida é um circulo". E isso tem sentido. É uma afirmação circular, que significa que vida nos confronta com desafios e, à medida que o indivíduo se torna capaz de enfrentá-los, ele cresce como pessoa e encontra sentido. Pois todo ser humano tem a liberdade de mudar a qualquer instante. O ser humano é capaz de mudar o mundo para melhor, se possível, e de mudar a si mesmo para melhor, se necessário. E nós sabemos que quanto mais a pessoa se esquece de si mesma — dedicando-se a servir uma causa ou a amar o ser humano como são — mais humana será e mais se realizará. É como diz Eclesiates: “E compreendi que não há felicidade para o homem a não ser a de alegrar-se e fazer o bem durante sua vida. E, que o homem coma e beba, desfrutando do produto de todo o seu trabalho, é dom de Deus” (Ec 3.12 e 13)
E vale lembrar que o livro de Eclesiastes foi escrito por um homem em crise. Alguém que não estava satisfeito com as respostas do senso comum religioso de sua época. Seu discurso revela uma inquietude com a vida em todas as suas dimensões. É uma pessoa crítica que, mesmo sem saber, fez análise de conjuntura e colocou questões cruciais para a existência humana, especialmente em sua vertente religiosa. 
Com isso também me recordo de Jó. Jó, um dos personagens que mais representa o sofrimento absurdo, ou como poderíamos dizer, ele era o campeão em sofrimento, a medalha de ouro. Lembremo-nos que o sofrimento, de certo modo, deixa de ser sofrimento no instante em que encontramos nele um sentido. Voltemos a Jó. Com ele vemos e aprendemos muitas coisas. Com Jó, temos a superação dos medos em relação ao destino, porque ele reage contra as teologias que aumentam o sofrimento (lei da retribuição), e propõe uma ação solidária dos seres humanos como sujeitos de sua própria história coletiva e individual, e resgata uma nova experiência de Deus, um Deus que caminha com seu povo, ao seu lado. Vale citar, que antes Jó enfrentou, a face desse Deus que ele ousou interrogar no seio da tempestade e de quem recebeu uma palavra à altura: “Quem é esse que obscurece meus desígnios com palavras sem sentido? Onde estavas, quando lancei os fundamentos da terra? Dize-mo, se é que sabes tanto” (Jó 38,2.4). 
Vive-se hoje numa sociedade que cobra tanto do ser humano que às vezes é difícil viver tranquilamente. As pessoas vivem num constante emaranhado de emoções e exigências, como se a vida fosse uma constante tempestade, que é difícil continuar a caminhar com tranquilidade. E com isso, somos confrontad@s como Jó, com uma busca de sentido. E como ele, somos convocad@s a nos cingirmos, tateando uma nova maneira de se situar nesse mundo.
E se tivermos coragem, talvez possamos descobrir, no final, que o vazio que sentimos muitas vezes, pode ser resolvido com pequenos atos e gestos. Ajudando o próximo, ganhando um abraço paertado, um bom papo,  uma boa gargalhada, encontrar uma amig@ que ha tempos não se via, um abraço apertado, uma boa noticia que ha tempos se espera.... Nas coisas simples encontramos a felicidade, e é justamente a coleção das pequenas alegrias que vamos colhendo e celebrando pelo meio do caminho que nos impulsionam a continuar e a crer que Deus está conosco sempre. Como todos nós, nossa felicidade também é peregrina. Guimarães Rosa sabia disso ao afirmar: “a felicidade não está nem na partida nem na chegada, mas no meio da travessia”.
E já que a vida é infinita enquanto dura, então devemos celebrá-la constantemente fazendo o bem e fazendo isso muito bem. Se a felicidade é peregrina, o bem é definitivo. E no meio disso tudo está a vida, dom de Deus a ser celebrado, a ser desfrutado. Pa. Odete Liber