É porque Deus nos ama que devemos nos
amar
I João 5.1-5
Que a graça e
a paz de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos @s irmãos e irmãs em
todos os dias de suas vidas! Os textos bíblicos nos falam de amor,
serviço, fé. Ambos resumem-se em: "Há um só Evangelho para tod@s, e tod@s
precisam amar a Deus e ao próximo com atos concretos"!
O texto de Atos nos diz que a palavra é pregada e
que precisamos ter a capacidade de ver o mundo, a igreja e a nossa vida a partir
da perspectiva de Deus. Deus está
dizendo a todos que vivem além da barreira da separação de Deus, que a vida em
Jesus e a presença do Espírito Santo quebra tudo que separa você de mim. Pois uma das grandes barreira da proclamação
do Evangelho no passado foi o preconceito e ainda o é nos dias de hoje. Não há
um Evangelho separada para judeu e outro para gentios. O que há, é apenas um
evangelho para tod@s.
No Evangelho de João 15:9-16 aprendemos que os discípulos de
Jesus Cristo o servem e esse serviço não é escravidão, mas amor. Por isso para
Jesus, a maior prova da existência do amor é “dar a vida pelos amigos” (v.13).
Foi exatamente isto que ele fez por nós (v. 12) e é exatamente isto que ele
espera que façamos uns pelos outros. Dar. “Deus amou o mundo de tal maneira que
deu...) Se amamos também seremos capazes
da dar; dar nosso tempo, nossa atenção, nosso carinho, nosso abraço, nosso
apoio, nossa ajuda, nosso pão, nossa compaixão, nosso perdão, enfim, nossa
vida! Em sua introdução sobre o
Evangelho de João, Brakemeier escreve que esse Evangelho compromete a pregação
cristã de articular, ao lado da esperança, a realidade da nova vida que, com
Jesus, despontou em meio a um mundo cheio de trevas e dor.
E em I João 5:1-6, que é texto que iremos refletir
especificamente nesta noite, nos leva a continuarmos a refletir assim, como os
outros dois textos, sobre o tema fé e amor. O texto inicia com uma confissão de
fé: Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo... (5.1a). Gira em torno das
consequências práticas da confissão Jesus é o Cristo. E conclui com a afirmação
(apesar de ser em tom de pergunta): Quem é que vence o mundo senão aquela
pessoa que crê que Jesus é o Filho de Deus? (5.5.) A partir da confissão de fé,
em torno dela e para ela, flui todo o texto.
Com certeza
@s irmãos/ãs já ouviram muito falar sobre o amor e a fé. Também muito já indagaram:
O que é fé? Fé é amar o próximo, mas, e daí? Como? Será que fé tem algo em
comum com o amor?
Tod@s nós
sabemos que Deus mostrou seu amor ao mundo, tornando-se humano, um de nós. E
este ato solidário criou para nós a possibilidade de encontrarmos o próprio
Deus. Deus mostrou-se solidário com sua criatura – nós.
João destaca
no capítulo anterior que a fé precisa de ação e que esta ação só pode ser o
amor fraternal. Com isso pode-se afirmar que no amor ao irmão ou irmã se
reconhece quem pertence a Deus. É nossa fé que supera o mundo, é a nossa fé que
confessa Jesus Cristo e que, como consequência, exerce o amor.
Segundo o
texto, todas as pessoas que integram a comunidade confessam crer em Jesus
(assim como tod@s aqui presentes). Todas confessam amar a Deus. Mas as
consequências de sua fé são diferentes. O amor que brota dessa fé se revela de
forma distinta. Como medir, pois, a fé autêntica? Como atestar, pois, o amor
verdadeiro? Não é este um drama que nos atormenta ao longo da história da
Igreja, até hoje?
Vale também
frisar que crer, neste texto, significa confirmar, ficar com fé ou permanecer
em Cristo. “Jesus é o Cristo” (v.1) é um credo cristológico mais simples e mais
antigo dos primeiros cristãos. Em nosso texto esse credo recebe uma atenção
especial. O Cristo é o homem Jesus, ou seja, não se trata de uma pessoa
espiritual. E quando lemos “nascidos de Deus”, fica claro que mais uma vez Deus
se encarnou.
Em vários
momentos desta carta, inclusive neste texto, se lê que há critérios que apontam
para a fé autêntica. Em seu início, esta perícope indica: (...) porque todo
aquele que ama a quem o gerou, ama a quem dele/dela foi gerado (5.1b). Em
outras palavras: quem tem amor por seu pai e/ou sua mãe, ama os filhos e as
filhas por ele/ela gerados. Ama, portanto, seus próprios irmãos e irmãs; pois,
pela ótica de Deus, que nos tem como filhos e filhas, somos irmãos e irmãs.
Deus não nos trata como filho único ou como filhas que exigem exclusividade.
Ele nos quer como a uma família, em que irmãs e irmãos se ajudam mutuamente.
De acordo com
o credo, praticar o amor e os mandamentos é sinal de que se é filh@ de Deus.
Amar, aqui, não tem nada a ver com sentimentos entusiásmaticos ou sentimentalistas,
mas sim, sublinha a ação responsável diante do irm@, diante do mundo. É assumir
as responsabilidades, as consequências dos erros/pecados e acertos.
O teólogo
alemão Zink escreveu o seguinte: “Sem fé é impossível – Todo ser humano crê em
algo, mesmo pensando que nada crê. Não se pode ver e provar. [...] Pois crer
significa confiar. Quem crê confia, mesmo onde nada vê. Está certo da sua
causa.”
Segundo
Helmut Gollwitzer, confissões de fé que não tem como consequência
transformações terrenas e profundas na sociedade não passam de uma questão
particular que traz apenas satisfação pessoal. A Confissão de fé em Cristo deve
trazer e gerar mudanças na vida das pessoas, na comunidade de fé, na sociedade.
É com e a partir de Jesus de Nazaré que é o Cristo (5.1), que é o
Filho de Deus (5.5), que está toda nossa
esperança. Não é por esforço próprio que venceremos o mundo, mas pelo poder que
vem dessa fé.
Então, a fé e
o amor que nascem de Deus vencem o mundo, porque Deus é amor. Não é qualquer fé
que vence o mundo, quem vence é a nossa fé, que é a única. Esta consciência faz
com que os mandamentos não sejam penosos.
O amor
cristão leva a outra pessoa a ser como Deus quer que ela seja: um ser humano
criado à sua imagem.
Amar não é um
cumprimento de uma lei divina, mas é reconhecer a situação do irmão no mundo, é
reconhecer que o outro também quer ser tratado com justiça, amar é consequência
do amor de Deus, o qual reconhece de uma maneira real e solidária a situação e
necessidade do ser. E amar é algo para agora e não pra amanhã.
Os gestos de
amor são, portanto, movidos pela gratidão a Deus. São atos de liberdade, em
favor do próximo. Os mandamentos de Deus não são lei, mas apontam
possibilidades concretas de amar. Confissão de fé e prática dos mandamentos são
inseparáveis. Não se trata de amar por amar. O cristão sabe por que ama. Este
saber, que lhe dá um poder incomum, o leva à persistência na luta e lhe dá a
esperança de vencer as adversidades.
Amar e ter fé
significa romper o esquema das más estruturas, ser subversivo contra a lei
humana, contra os círculos viciosos de nossa sociedade. Ou seja, é estar ao
lado e com os desprezados pela sociedade, os que enfrentam a dor e a solidão, a
indiferença, os pobres, os marginalizados. Pois a fé e o amor que nascem de Deus
vencem o mundo, porque Deus é amor.
Na fé, a
pessoa nasce de novo todos os dias.
Sabemos que é no encontro com o Sublime, o Sagrado, Jesus/Deus, com o
qual podemos reclamar, gritar, chorar toda lágrima, na certeza que depois
iremos nos alegrar novamente, porque é na fraqueza que nos tornamos fortes. E o
milagre acontece!
Sabe, a
sociedade nos manda descartar o outro, porém, Deus nos ordena a carregar o
outro. Para Bonhoeffer “o outro só será irmão quando se tornar um fardo, e só
então deixará de ser objeto dominado. [...]. Levar o fardo do outro significa
aqui suportar a realidade do outro em sua condição de criatura, aceitá-la, e,
sofrendo-a, chegar ao ponto de alegrar-se com ela”.
Portanto,
somente “quem carrega sabe-se carregado, e somente com esta força poderá
carregar”. Seguir na caminhada cristã é mais que dizer que vc se preocupa com o
social. Ser Crist@ é trocar nosso fardo
pelo de Jesus, e assim nos tornamos carregadores de fardos de esperança, de
justiça, de amor, de misericórdia e da paz que excede todo entendimento humano.
Andar e carregar o outro é ser solidário, é andar com o outro, é se encontrar
com Cristo, é fazer parte do Reino de Deus.
Porque o amor
de Deus nos mobiliza, não nos dá sossego, nos põe a experimentar sapatos
alheios para ver onde é que eles verdadeiramente nos apertam.. Não podemos
ficar em nosso marasmo, não nos cabe permanecer indiferentes ao mundo, porque
conforme canta Mercedes Sosa: “Eu só peço a Deus que a dor não me seja
indiferente...” E eu digo: Só sabe o que é o amor quem experimentou Deus. Quem
busca meramente a realização pessoal ou a autogratificação viverá um amor
insosso, sem sabor (como chuchu.). O amor é doação, é gratuidade.
E quem ama e
tem fé, “[...] crê em Deus não é um otimista. Ele não precisa do pensamento
positivo. Quem crê em Deus não é pessimista. Quem ora a Deus confia em Deus.” Apenas
crê como disse Moltmann.
E que, com as
palavras lidas nos textos bíblicos de hoje e a palavra partilhada, tenhamos fé,
esperança e amor, para que, como Igreja, e como cristãos/ãs sejamos
portadores/as dos sinais do reinado de Deus e que possamos ver no mundo a
esperança que o Dia do Senhor proclama. E Que Deus nos abençoe!
Odete Liber