Ele morava em uma fazenda, onde havia muitos animais, inclusive outros porcos.
Um dia, enquanto Fedroso procurava seus amiguinhos porcos com os quais brincava de esconder, ouviu em meio a muitas gargalhadas a conversa de outros animais:
-Coitado dos porcos, nascem com destino traçado: a panela! Hahahaha! Disse a vaca. Ainda bem que eu tenho o meu leite, que me garante vida longa e folgada!
E a galinha:
-Pois eu tenho meus ovos, extremamente necessários à alimentação de toda a família do fazendeiro.
Já o cavalo, debochado como ele só acrescenta:
-É por isso que eles só olham para baixo! Hahahaha!
E o jumento:
-Dizem que é porque a mãe é uma porca! Hahaha!
E os animais se esbaldavam chacoteando os vizinhos porcos.
Fedroso ficou tão perplexo e angustiado ao ouvir toda aquela conversa, que esqueceu-se de sua brincadeira. Então, foi falar com sua mãe:
-Mãe, é verdade que um dia vamos todos para panela?
E sua mãe atônita lhe perguntou:
-Quem disse isso filho?
E ele refez a pergunta:
-Só me diga: É verdade mãe? Nascemos destinados a isso?
Então a mãe se viu diante da necessidade de conversar com seu filho precocemente sobre o que toda mãe porca adiava.
-Filho, que nascemos é certo, e que morreremos também. Assim o é com todos os seres vivos, sejam animais, plantas, ou seres humanos. Mas ninguém sabe o dia de nosso fim, a não ser, quando muito, o fazendeiro. Então ninguém sabe como, nem quando será esse dia. Mas o importante meu filho é que a que serviu sua vida não está necessariamente no dia, ou forma de sua morte, e sim, no que você fez no intervalo entre esses dois momentos certos, que podem inclusive acontecer no mesmo dia: nascimento e morte. Aí estará seu legado.
-Mãe, mas eu sou só um porco, e nem sequer consigo olhar para cima...
-Filho, você não é só um porco, é um porco, entendeu?
E o porquinho ficou pensando no que a mãe disse, e assim se passou um dia inteiro.
No dia seguinte, Fedroso subiu no cocheiro, de onde via o cavalo e perguntou:
-Sr. Cavalo, o senhor é um dos mais inteligentes dos animais da fazenda, e eu o admiro, poderia me responder uma pergunta?
E o cavalo, envaidecido, com seu ego inflado, lhe diz:
-Como não?! Provavelmente eu serei o único animal que poderá te responder mesmo.
E humildemente Fedroso pergunta:
-O senhor acha que posso conseguir ver o céu?
E com uma risada sórdida, ele responde:
-Talvez no dia em que você se tornar um cavalo. E explica-lhe: Vocês não tem vertebras longitudinais, que impedem que vocês virem o pescoço, então só podem olhar para baixo e para frente.
E o insistente porquinho:
-Mas e seu eu conseguir olhar para cima?
Mas a resposta do Cavalo foi somente uma risada.
Então Fedroso começou a sua busca por um meio de olhar para o céu. Foram tantas as tentativas, e tantas quantas foram também as risadas debochadas dos animais que assistiam a cena do porco que queria ver o céu, ao ponto de seus próprios colegas porcos caçoarem junto e a cada tentativa sentarem acreditando que estavam para assistir mais um fracasso do porco. Aliás, nenhum porco entendia porque ele queria ver o céu.
Um dia, quando Fedroso se preparava para subir num caixote e encaixar seu pescoço numa engenhoca que projetará para o fim que almejava, ele tomou um grande tombo, e podia se ouvir ao longe as gargalhadas da plateia que aumentava a cada dia, mas nenhum animal se preocupara em saber se ele havia se machucado.
Alguns minutos depois, os risos foram diminuindo, porque fora se percebendo que o porquinho que caiu não se levantara. De repente, um colega porco correu para ver o que acontecera, e encontrou Fedroso, deitado, de barriga para cima, em meio à palha que amortecera sua queda, com os olhos brilhantes refletindo o céu.
O porco amigo parou admirado, assistindo a cena que o emudeceu, até que um grito irrompeu o silêncio de todos os animais que aguardavam para saber o que acontecera com Fedroso:
-Ele conseguiu!
Nenhum animal acreditava, e agora surpresos, muitos diziam:
-“Eu sabia que ele conseguiria”. “-Ele é muito persistente, uma hora daria certo”...
E por conseguir superar os limites impostos pelos que não acreditavam na busca por uma alternativa, e no descrédito e zombaria dos outros, e na conquista alcançada, Fedroso ficou ali por muito tempo, contemplando o céu que nunca vira antes, acreditando que encontrara o sentido de sua própria vida: Acreditar em si mesmo apesar dos outros!
Quando sua mãe o felicitou, ela disse:
-Satisfeito filho? Já fez algo significativo que desse sentido à sua existência.
Ele respondeu:
-Não mamãe, eu descobri que esse foi só o pontapé para minha busca, porque o que eu procurava era apenas esperança apesar das possibilidades.
Já pensou no sentido que você tem dado à sua existência? Pois ousadia é a marca daqueles que acreditam que podem fazer aquilo que os outros dizem que não!
A vitória nos instiga a continuar, mas a derrota deve nos impulsionar à ir além, pois muitas vezes é errando que encontramos o caminho. Pois a resposta pode estar nos meios simples...
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