MULHER: ESCRAVA HISTÓRICA DO HOMEM
Jó 1,1; 2,1-10 – Ainda conservas tua integridade
Salmo 26 – Faze-me justiça, Senhor, pois busco minha integridade
Hebreus1,1-4;2;5-12 – O homem e a mulher, igualmente, estão sujeitos a Deus
Marcos 10, 2-12 – Aqueles a quem Deus deu unidade, o homem não separe!
Salmo 26 – Faze-me justiça, Senhor, pois busco minha integridade
Hebreus1,1-4;2;5-12 – O homem e a mulher, igualmente, estão sujeitos a Deus
Marcos 10, 2-12 – Aqueles a quem Deus deu unidade, o homem não separe!
O profeta Isaías, antes do cristianismo, pontua sobre mulheres
israelitas chamando-as à confiança (emunah) e à fé. Mulheres deportadas
experimentavam violências religiosas nos guetos judaicos (Lv15,19-31),
políticas, sociais (Ex 21,5); israelitas vendiam suas filhas como escravas.
Babilônios, persas, gregos, romanos, hebreus, representam o patriarcalismo que
sobrevive no Oriente Islâmico. Entre cristãos, a inculturação patriarcal ainda
existe, mesmo disfarçada, no mundo inteiro.
Contudo, além da sexualidade compartilhada, “o homem e a mulher
levantam cedo para os afazeres da vida” (Ct 7,11-14), diz o poema rebelde,
como toda essa página bíblica de amor erótico, do cânon hebraico. Sem a
mãe-mulher, os filhos perdem as raízes da justiça. A mãe ama seus filhos com
isonomia. Nenhum é melhor que o outro, mesmo que dotado de capacidades maiores
na garantia da continuidade familiar, de gerenciar bens, produzir meios de
sobrevivência. Assim, podemos ter uma mulher na presidência da nação. Todos têm
direito igual ao carinho, ternura, amor e cuidado. Para entendermos
corretamente essa linguagem, que não é de exclusividade bíblica, precisamos
buscar os sentidos da compaixão pela humanidade e pela criação aviltada – ter
misericórdia (miseri-córdis), um coração cheio de amor (cor) que
sai na direção dos miseráveis (miseri) para socorrê-los.
Vem daí o fruto esperado, a prática da justiça para o exercício dos
direitos fundamentais do homem e da mulher, igualitariamente, sem considerar
ódios ancestrais, sexuais, raciais, preconceitos religiosos e classificações
sociais, sob o ethos principialista que organiza a justiça. E não
podemos esquecer os ódios ecológicos, contra a Terra, ensinados até por
importantes filósofos da modernidade, ou do progresso tecnológico. Isaías
aponta o amor que julga: “Ai dos que ao mal chamam bem, que fazem da
escuridade luz, e da luz escuridade; põem o amargo por doce, e o doce por
amargo ” (Is 5,20). Justiça é atributo e exigência para o homem e para a
mulher, indistintamente.
Esse amor que veste a justiça (“ágape” e “phileo” se
empregam aqui; reclama-se atenção, na exegese e na hermenêutica: não esquecer “ahavah”
e seu sentido no hebraico). Segundo a perspectiva joanina (1Jo …..), não é
humano, porque a seiva que recebe vem da raiz e do tronco que sustenta a fé no
Cristo de Deus. Jesus funda e engloba tudo que abrange a justiça e o direito
(Bíblia do Peregrino, Shöekel, p.2600). O modelo desse amor é o Pai (Abbah,
paínho, com toda a meiguice baiana quando pronuncia essa palavra maravilhosa),
e se estende aos “amigos” (phileo) da causa do Reino, força viva na
mensagem de Jesus.
No princípio, Deus criou o homem e a mulher em igualdade de condições,
em igualdade de direitos e obrigações de um para com o outro e com o resto da
criação. Mas houve tergiversações e interpretações ajeitadas, que até o próprio
Moisés “teria propiciado” (Bíblia Hebraica). Pois bem, Jesus apresenta o
original para resgatar a harmonia e o equilíbrio querido entre o homem e a
mulher, e a criação, desde o princípio. Pode-se notar também aqui a luta de
Jesus pelo mais fraco, pelo que não é contado, na sociedade. Para a sociedade
do seu tempo de Jesus, a mulher era somente um objeto que unicamente se usava
para a necessária ação da procriação e o cuidado das crianças e do lar (“… e
é sentada, em pé, muié tem é que trabaiá”, que Patativa do Assaré
não disse, mas Vinicius de Morais consagrou0 em Maria Moita). Jesus uma vez
mais denuncia este desequilíbrio na relação varão-mulher, quando toma partido
em favor das mulheres (Servicios Koinonia).
Jacob Bachofen (1815), talvez interpretando a Bíblia Hebraica, já falava
da figura positiva da mulher (ishah) na afirmação da vida, liberdade e
igualdade. Por sua própria natureza, a mulher gera a vida, iguala os gerados em
seu ventre; um valor próprio da têmpera feminina original, criada “ao lado” do
homem (“selah” significa “lado” nas línguas semíticas, e não costela,
termo adotado equivocadamente nas versões tradicionais). Mais impressionante,
no texto hebraico, é ignorar que a rûah, Espírito Criador, é uma
gigantesca mãe-pássaro da Criação que “choca”, agita as asas soprando a vida
que dá ordem ao caos, no princípio.
Tanto o homem como a mulher, no entanto, rompem o equilíbrio relacional
e dão rédea solta à tendência humana de dominar, de cobiçar o bem do outro. E
isto se transforma em “norma social”, é quando se começa a agir em
contraposição do que implica ser modelado pela mão de Deus e ser portador do
próprio hálito de Deus, e é como agir da maneira mais rasteira, como guiado
somente pela matéria, pelo pó da terra; isto é, da maneira mais vil e vulgar.
Em suma, os versículos, retirados de um conjunto tão amplo, tão rico e tão
profundo, não nos podem fazer esquecer que fazem parte de uma preocupação muito
mais ampla que explicar a origem do matrimônio e de sua indissolubilidade que,
desde cedo poderia ser iluminada a partir daí, mas não ser reduzida somente a
isso.
Derval Dasilio
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