terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Estradas, caminhos

No domingo que se passou, em viagem, vinha observando a estrada. Ou melhor, as estradas, os caminhos. A que estávamos era asfaltada, alguns trechos com buracos, outros não. Mas havia as estradas ao lado, estradas de chão, terra. 
Com isso imaginei que a nossa a vida é assim, cheia de estradas. Estrada estreitas, largas, movimentadas, desertas, boas, ruins, excelentes, péssimas. Mas todas elas levam à algum lugar.  
Para chegar é preciso vencer o cansaço, o desanimo, chutar as pedras do caminho, enfrentar o barro, o calor, aproveitar a sombra quando a encontra. O importante é chegar.
Muitos tem sido os caminhos pelos quais passei, mas em todos era preciso caminhar sem parar, apesar de... Era e ainda é preciso ter fé, esperança, folego.
Ainda é assim, e que 2013, independente da estrada que nossa vida tenha que trilhar, é preciso força, coragem, resitencia, fé, e quando as forças esvairirem, pedir socorro à Deus, porque Ele sempre está conosco. Vamos lá!!

A MISSÃO EM MARCOS

A MISSÃO EM MARCOS

Dr. Frei Vicente Artuso – Professor de Teologia da PUCPR

 

I-Sumário da missão de Jesus:
Em Mt e Mc o ministério publico de Jesus começa com a proclamação: “O tempo se cumpriu e o reino de Deus está próximo, arrependei-vos e crede no evangelho”. Mc 1,14-15; Mt 4,17
1-o tempo se cumpriu (peplerotai) – é o momento, kairós de anunciar, é urgente,
Em Mc euthus, imediatamente Jesus foi anunciar, curar, anunciar, pregar,
2- O reino de Deus está próximo: basileia tou Theou: O reino é o amor do Pai, que salva a humanidade na pessoa, na palavra e na ação de Jesus.
3-Arrependei-vos, metanoeite – mudança, de mentalidade, dos valores que contam, da linha de pensamento, das estruturas de pecado. Trata-se de incutir uma nova mentalidade evangélica,
4- crede no evangelho: A fé vem junto com a conversão:
(Vendo a fé dos que carregavam o paralítico…(Mc 2), não tenha medo mas creia…disse ao chefe da sinagoga no milagre da cura de Talita (Mc 5,36) Tudo é possível ao que cré (Mc 9,23). Em verdade vos digo se disser a este monte…se crer, isso acontecerá (Mc 11,23)
Tudo que pedires, crede, que tenhas recebido e isso acontecerá (11,24)
Quem crer e for batizado será salvo, e sinais acompanham os que crerem (Mc 16,16-17)
-A missão é urgente, o tempo é agora,
-o reino está próximo, está presente e deve acontecer
-a exigência do reino para que aconteça é preciso fé e conversão

II-Conceito de missão e vocabulário em torno da missão
No AT - Schaliah-enviar – quem recebe missão é enviado e tem ligação com aquele que envia – fidelidade a pessoa, a tarefa confiada, a palavra a ser transmitida.
No NT- apostelo, eu envio. (12 v. em Mc, em Lc.27 v. mt 23)
Mc 1,2- eis que envio (apostelo) o meu mensageiro (angelon mou)- há grande fidelidade de J.Batista na missão: O mesmo que João prega, Jesus prega. Em Mt, o mesmo conteúdo da pregação de João Batista é o conteúdo da pregação de Jesus: “arrependei-vos porque o reino dos céus está próximo” (Mt 3,2 e 4,17)
Mc 3,13-14: Subiu a montanha, chamou a si, constituiu doze, para que ficassem com ele, a fim de enviá-los (apostelei) a anunciar (kerusein) e ter autoridade (exousian de expulsar demônios)
Mc 6,6b-7: Ele percorria os povoados circunvizinhos, ensinando (edidaskein) (6,6) chamou (ekalesen) a si os doze, e começou a enviá-los (apostelein) dois a dois.
A missão aparece em 6,12-13: Partindo eles, pregavam (kerusein) que todos se arrependessem, e expulsavam muitos demônios ungindo-os com óleo.
Mc 8,26- o cego de betsaida curado Mc, relata que “Jesus enviou-o (apostelein) para casa dizendo “não entres no povoado”
Mc. 9,17- aquele que me recebe, não recebe a mim mas aquele que me enviou –ton aposteilanta me, (identidade entre o que envia e o enviado)
Mc 12,2-13- na parábola dos vinhateiros homicidas é onde aparece 6 vezes o verbo apesteilen (enviou) (insistência no envio)
Outro termo importante em Marcos: é ensinar (didaskein) 17 vezes:
A característica do ensino, não é a palavra pronunciada mas a prática, basta ver os milagres, Jesus ensina fazendo (Mc 1,28ss, 2,1-4; 1,40-45) Era um ensino com autoridade, éra um ensino constante até no templo: “cada dia estava com vocês no templo ensinando (didaskon) e não me prendeste” (Mc 14,49)
Ensinava na sinagoga aos sábados (Mc 1,21-28)
Ensinava com autoridade e não como os escribas (Mc 1,22)
Todo povo veio a ele e ensinava a beira mar.(Mc 2,13)
De novo começou a ensinar junto ao mar (Mc 4,1) em parábolas (4,2)
Percorria as aldeias ensinando (Mc 6,2)
Vendo a multidão, sentiu compaixão, e começou a ensinar (Mc 6,30)
Começou a ensinar que o filho do homem deve morrer (Mc 8,31)
Ensinava seus discípulos (9,31)
Foi para o território da judéia, além do jordão e como de costume ensinava as multidões (Mc 10,1-10). Os discípulos começaram a ficar assustados com seu ensinamento.
Ensinava e dizia “minha casa será casa de oração para todos os povos)
O escriba doutor reconheceu que Jesus ensinava a verdade do caminho de Deus verdade (Mc 12,14)
Jesus tinha consciência e confirmou com sua missão: “É necessário que primeiro o evangelho seja pregado a todas as nações” Mc 13,10). Ensinar (didaskein) anunciar (kerusein) falava (elalen-Mc 2,2), e proclamação está unidos

III- Considerações sobre as características da missão em Marcos:
-A missão consiste em anunciar que o reino de Deus está próximo, que é preciso fé e conversão. Fé e conversão tem resultados. Cria o mundo de paz, e novas relações (Jesus estava entre as feras e os anjos o serviam. , Os discípulos que crerem, se pegarem em serpentes ou beberem o veneno, nada lhes fará mal (Mc 16)
-Fé e conversão tem resultado concreto: pela fé esclarecida o seguimento é fiel até o fim, pela conversão acontece mudança no relacionamento. Cria-se comunidade sem disputa de poder, e comunidade de serviço. Quem quiser ser o maior seja como aquele que serve.
-a missão requer formação de comunidades, Jesus começou formando um grupo de discípulos.
-A missão é esclarecer o que é ser discípulo, quais as exigências do seguimento. Missão é curar a cegueira que impede de ver a cruz, e reconhecer que Jesus é o enviado do Pai que deve passar pela cruz.
- As obras da missão é que dão autoridade ao missionário, a mística, fidelidade a palavra.
-A missão também é trabalho mais personalizado e não apenas com as multidões. Mc mostra que Jesus ensinava os discípulos em particular, na casa, a parte, longe da multidão esclarecia as dificuldades e fazia as correções (cf.Mc 7,17; 8,17-18; 6,52; 8,27-28; 9,11-12; 9,35-36; 9,33; 10,32-33; 11,21; 9,28; 12,43; 10,10)
-A missão de envangelizar é prioritária desde a introdução de Mc 1,1-15. O vocabulário em torno da missão: anunciar, ensinar, ecoar a voz. A dupla missão de João e Jesus, no início confirmam isso, bem como a inclusão do termo evangelho em Mc 1,1-2 e 1,15.
-A missão tem a finalidade de mostrar que Jesus é o filho de Deus. O filho de Deus é o Messias oculto, o servo, Jesus de Nazaré. Segundo Bultmann Mc quis unir o credo helenista do Filho de Deus com o Jesus histórico. Entende-se que o objetivo de Mc na primeira parte é responder a pergunta: quem é Jesus, e na segunda parte que tipo de filho de Deus ele é, que tipo de messias.
-A missão tem sucessos, no início tudo dá certo, mas depois tem crises e desencontros, fracassos (ver parábola do semeador: os que veem e não enchergam, ouvem e não escutam) Mc 4,
-a missão exige abertura e conversão pastoral: É o que vemos no exemplo de Jesus que mudou seus paradigmas ao curar a filha endemoninhada da Siro-fenícia. Reconheceu que há uma pressão de fora, há um apelo constante. Por isso na multiplicação dos pães do outro lado do mar, para os pagãos saciou fartamente a todos. Um contraste com as migalhas só por acaso são aproveitadas quando caem da mesa dos donos, como pensavam alguns que privilegiavam o povo eleito, “a mesa dos filhos”
-Jesus contou com um grupo de discípulos mais próximos, aos quais dedicava atenção especial na formação. Contou com discípulas que forma as principais missionárias e testemunhas da ressurreição aos próprios discípulos.
-A missão se expande também com o testemunho e a atuação dos discípulos e discípulas anônimos:
-Sogra de Pedro que se colocou a serviço (Mc 1,30-31). O leproso curado que saiu a proclamar a boa notícia (1,44-45) O que era endemoninhado foi proclamar na decápole (Mc 5,20). A viúva pobre que deu mais que todos (Mc 12,42-44) A mulher de Betânia que derramou o frasco de óleo (Mc 14,4.9), o cégo de Jericó, que deixa o manto e segue Jesus (Mc 10,49). Enfim uma grande multidão que vinha da Galiléia o seguia (Mc 3,7). Eram muitos publicanos e pecadores que o seguiam (Mc 2,15)
-No meio das muitas atividades é preciso saber parar como Jesus tentou fazer: refugiava-se em Lugares desertos e orava (Mc 1,34-36), tentava descançar (Mc 6,30-32)
-A missão requer também compaixão (splangnizomai), como Jesus teve com a multidão faminta no deserto.
-A missão requer ruptura, dos panos velhos, dos odres velhos, renovação a luz dos sinais dos tempos.
-Nossa missão é um recomeçar sempre de novo o seguimento de Jesus na galileia onde ele se revela. Ide contar a Pedro e a outros discípulos que ele caminha a vossa frente na Galileia.
-Portanto a missão em Mc no início atinge as multidões, famintos, possessos, pobres, doentes, cegos, mas depois inicia um trabalho mais personalizado ensinando os discípulos a patê.
-Não usar populismo fácil, mas discrição quando isso requer.
-A missão é caminhada para Jerusalém, onde aparecem também a cruz na curva, mas também missão inclui experiência alegre do anúncio da ressurreição.
-A missão é chamamento e mandado que pede resposta generosa como fez o cego de Jericó que largou o manto e foi pulando atrás de Jesus.
-a missão de Jesus é integral, libertadora, pois ele cura e liberta para o serviço.
-A morte de Jesus na cruz estabelece um elo com o problema da missão. Marcos considera a cruz o ponto decisivo e paradoxal na história da salvação (Mc 15,39). A morte de Jesus é morte “por muitos” (Mc 10,45; 14,24) e o centurião gentio é sinal desses “muitos”, que reconhecerão a morte e a ressurreição de Jesus como o ato de salvação de Deus para o mundo. Na narrativa da paixão segundo Marcos, nenhum discípulo testemunha a morte de Jesus, mas somente o centurião romano e as mulheres (15,39-40). Estas com efeito serão apontadas como discípulas porque “subiram da Galiléia para Jerusalém”(Mc 15,40-41) e são as primeiras a proclamar a mensagem da ressurreição (Mc 16,7). Mas o fracasso tornasse apelo para novo recomeço “Depois que eu ressurgir, eu vos precederei na Galiléia” (Mc 14,28) O fracasso final torna-se apelo para novo recomeço na mensagem: “ide dizer a seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galiléia, lá o vereis como vos tinha dito” (Mc 16,7). No entanto a profecia da reconciliação está no mesmo nível da predição do fracasso”(C.Stuhlmueller, e S.Donald. Os fundamentos bíblicos da missão.Paulinas,1987,p.312).

IV - Hermenêutica: Desafios da missão na realidade de hoje inspirando-nos na prática de Jesus.
-Jesus formou os discípulos e ajudou a abrir-lhes os olhos para entenderem o que significa seguir, perseverar com fé, mesmo com o peso das cruzes de cada dia. Como formar mais discípulos para seguir Jesus, e viver as exigências do reino no mundo de hoje?
-O Evangelho de Marcos, mostrou que Jesus ensinava fazendo ações que lhe davam autoridade perante o povo. Assim os projetos de missão ad intra e ad extra, precisam se impor com autoridade que vem da mística missionária, da dedicação e planejamento em vista de resultados mais animadores.
- Especialmente em Mt, a missão é fazer discípulos todas as nações. Porém em Mc também a expansão da missão acontece até mediante o testemunho de discípulos e discípulas anônimos que se colocaram a serviço.
-O conteúdo da pregação: é o Reino de Deus, sua proximidade, a conversão, a fé. Há sinais de um aumento na fé da comunidade, aumento de convertidos e engajados em atividades missionárias?
-A prática de Jesus em Mc veio ao encontro dos impuros, marginalizados, cegos, leprosos, pecadores, doentes, gente sem rumo, como ovelhas sem pastor. A pastoral da Igreja, quer ser integral investe na promoção humana junto com o evangelho anunciado?
-Se os discípulos foram chamados para seguir e estar na companhia de Jesus, como os discípulos e discípulas de hoje alimentam sua fé para perseverar na obra? Temos em mente que “É preciso que o evangelho seja proclamado a todas as nações”(Mc 13,10)?
- O Evangelho mostrou a experiência do relacionamento entre os discípulos e discípulas com o mestre, ás vezes foi até dura, pois eles demoravam a entender (Mc 7,17), mas mesmo assim Jesus esteve sempre com eles, e até dedicou-se a ensiná-los e questioná-los em particular. A missão e evangelização mais particularizada, individual ou de casa em casa, pode ser meio mais eficaz de atingir os objetivos.
-É no encontro com o ressuscitado, na experiência de comunidade, e vida no Espírito, que a Igreja vai encontrar forças para recomeçar nas “Galiléias” o seguimento de Jesus pois Ele caminha na nossa frente e nos desafia na missão: “Ide por todo mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Nascer de novo é preciso

"Uma pessoa pode ir à igreja duas vezes por dia, participar da ceia do Senhor, orar em particular o máximo que puder, assistir a todos os cultos e ouvir muitos sermões, ler todos os livros que existem sobre Cristo. Mas ainda assim tem que nascer de novo". Jonh Wesley
 
 

 

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Gritos

“Não tenho nenhuma das qualidades necessárias para vencer na vida” (Franz Kafka, O processo, p. 253). É isso o que as pessoas falam, mas sem palavras.
É a vida delas que “grita” por elas. Esses gritos precisam ser ouvidos e se a teologia cristã tem falhado em ouvir essas vozes é porque pouco eco ficou das palavras de Jesus segundo Mateus: “ Pois eu tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; eu era estrangeiro e não me acolhestes; estava nu e não me vestistes; doente e na prisão, e não me visitastes.” (MT 25:42ss TEB).
Atentar para a vida no cotidiano, para as pessoas é, dar passos com paixão como aquelas pessoas que, à margem das sociedades, vivem no medo e na morte e que precisam de força para poder gozar da vida dentro das limitações de suas possibilidades de vida. É com paixão que se vive, porque a vida é efêmera. Apaixonar-se não pode ser visto como algo breve, passageiro, sentimental, que se sobrepõe à lucidez e à razão. Apaixonar-se é assumir a condição de efemeridade do viver, como já observara Fernando Pessoa, “a vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na duvida, há um ponto final”.  
Pois é na banalidade do cotidiano que é possível dar alguns passos, passos com paixão, sensíveis a singularidade de cada pessoa, em dialogo com uma teologia preocupada em transformar.
 

Milton Nascimento, Tadeu Franco e Simone - COMUNHÃO


segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Siegfried Fietz singt 'Von guten Mächten wunderbar geborgen'



Versão: Ilson Kayser
Hino escrito pelo P. Dietrich Bonhoeffer... em meio à desesperança do Regime Nazista... Quanta confiança e fé no porvir... possamos nós crer de tal maneira... Com esta letra desejo a todas as pessoas amigas do face um Feliz ano de 2013. Que os bons poderes possam acompanhar a cada um e cada uma de vocês.

1. De bons poderes fiel e em paz cercado,
tranqüilo consolado, sem pesar,
ao vosso lado nestes dias quero
estar, convosco em ano novo entrar.

Maravilhosamente bem guardados,
confiantes esperamos o porvir.
De noite e dia em Deus aconchegados
e assim em cada dia que surgir.

2. Ainda nos oprimem dias idos,
fantasmas do passado sobrevêm.
Ó Deus, concede aos homens desvalidos
a salvação que guarda lá no além.

3. E caso o amargo cálice servires,
de sofrimento a transbordar, então
mui gratos, sem tremer, conforme o queres,
o recebemos de tua boa mão.

4. Porém, se queres dar-nos alegrias
no mundo, ainda, com o seu fulgor,
então lembrar queremos idos dias,
e a vida tua só será, Senhor.

5. E que ardam hoje cálidas as velas
que vieste em nossas trevas acender.
E a todos nós reúne – que o concedas!
A noite tua luz há de vencer.

6. E quando agora a calma nos envolve,
do mundo ouçamos o celeste som
que imperceptível sobre nós se estende,
dos filhos teus a glória em alto tom.

domingo, 30 de dezembro de 2012

textos - escola dominical

Para quem deseja bons estudos para ler, veja o link:
 http://1ipisjrp.org.br/site/img/arquivos/20081118112736cadernoiisimposio.pdf

The Hobbit An Unexpected Journey - Soundtrack by Howard Shore


Feliz 2013: com muito sabor, amor, perdão, graça


2013: cheio de sabor, beleza, alegria, vida, paixão, perdão, graça
Cozinhar pra mim é um prazer. Faz-me muito bem! E comer, é melhor ainda e quando se tem fome é uma felicidade. Todo mundo sabe disto, inclusive os ignorantes bebês. Mas poucos são os que se dão conta de que felicidade maior que comer é cozinhar. Alegra a alma, faz bem pro coração, para os olhos, para o olfato, pra tudo!
Como é bom cozinhar e comer, lavar, descascar, cortar, beliscar, rir, bebericar, conversar, saborear.  Ver @s amig@s deliciando-se. É como uma celebração, um culto.
E cozinhar exige paciência, calma, sossego. Não se pode ter pressa, apesar de que o prazer de comer, não é muito demorado. O que demora são os prazeres preliminares, pois quanto mais se demora maior será a fome, e claro, maior será a alegria de saborear a comida.
Gosto de cozinhar e colocar na comida muito temperos, ervas, misturar os opostos. Meu marido diz que isso é coisa de bruxa. Rubem Alves diz que quem cozinha “é parente próximo das bruxas e dos magos”. Pode ser e nesse sentido cozinhar é alquimia, feitiçaria e o ato de comer  é ser  enfeitiçad@ por tanto prazer.
Lembro-me do filme Festa de Babette. Ela bem sabia de tudo isso. Ela sabia os segredos de produzir a alegria pela comida e que após se deliciarem, as pessoas não permaneciam mais as mesmas.  Coisas mágicas acontecia com elas.  O filme retrata o cotidiano de uma pequena comunidade religiosa do século dezenove, que vivia com muita simplicidade, próxima ao mar, numa costa deserta da Dinamarca. O fundador da comunidade morre e deixa seu pequeno rebanho, formado praticamente por pessoas simples e avançadas em idade, como “herança” para suas duas filhas. De repente, para fugir da guerra, uma mulher chamada Babette sai de Paris e decide, por indicação de um amigo, viver junto a esta comunidade. Ela era uma famosa chef de cozinha de um importante hotel de Paris. Babette passa anos naquela comunidade sem poder mostrar o seu talento culinário. Até que um dia, ela recebe a notícia que havia uma fortuna para receber na França. Diferente do que muitos pensaram e em vez de retornar para Paris ou ir viver confortavelmente em outro lugar, Babette resolve oferecer um banquete à comunidade. Gastou todo o seu dinheiro para importar os alimentos, bebidas, especiarias, frutas, louças, talheres, toalhas etc., que seriam usados no banquete. Tudo da melhor qualidade para que o momento fosse perfeito.
A Festa de Babette é o desabrochar da alma, na descoberta do prazer sem culpa. Sua festa, é claro, escandaliza os mais velhos do lugar. A vida naquele lugar era de dar dó, um martírio passageiro para um plano maior: o céu. Os rostos eram rígidos as passadas pesadas, rancor entre pessoas e brigas que não eram declaradas e assim também não eram perdoadas. Pois a ofensa que não foi revelada também não pode ser perdoada. Não havia gosto pela vida e a vida, por si, era insossa, sem sabor.
Babette para eles era uma bruxa e o banquete oferecido era um ritual de feitiçaria. No que eles estavam certos! Que era feitiçaria, era mesmo. Só que não do tipo que eles imaginavam.
Achavam que Babette iria por suas almas a perder. Não iriam para o céu.  Decidiram aceitar o banquete, mas firmaram um pacto – durante o banquete não falariam uma só palavra sobre a comida. E de repente, receberam a visita de um General, e com a presença dele, formaram um grupo de 12 pessoas ao redor da mesa. Ele, é claro, não sabia do que havia sido acordado. E nem que Babette poderia ser bruxa, fazer feitiçarias.
Bem, não se pode negar que a feitiçaria aconteceu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, vinhos saborosos, o prazer amaciando os sentimentos e pensamentos, as durezas e rugas do corpo sendo alisadas pelo paladar, as máscaras caindo, os rostos endurecidos ficando bonitos pelo riso. Na singeleza do seu agir, Babette mostrou que a vida pode ser vivida no compartilhar do alimento e na descoberta de novos temperos e sabores.
Com isso, digo que a vida é saborosa e pode ser degustadas sem arrependimentos, medos, píeses ou neuras. E como no filme, os prazeres simples da vida não poderão ser  mais negados, como o prazer de comer e beber na companhia de bons amig@s.
No filme, a partir do banquete preparado por Babette, não haveria mais burocracia para o perdão e muito menos a inércia do amor, por que tod@s compartilhavam do mesmo momento de prazer. Prazer que não pode ser deixado de lado como o prazer de estar e beber entre amigos, comer e contar a sua vida de forma simples e compartilhar da sua vida em detalhes de forma aberta na clareza da informalidade.  Babette nos apresenta que a graça está nas pequenas coisas, que a graça não é monopólio de um culto, uma religião ou somente um grupo de pessoas destinadas a viver com graça.
Por isso, ao final de mais um ano, quando estivermos reunid@s ao redor da mesa para saborear os pratos especiais da ceia de final de ano, que possamos perceber que a vida pode ter diferentes sabores e tonalidades, além do cinza e do preto, que também são importantes. Que sempre possamos dar às nossas vidas novos sentidos e significados. Que possamos continuar cozinhando os mais diferentes e saborosos pratos, para que juntos com amig@s e familiares, reconheçamos que nunca é tarde para percebermos  que a vida, apesar de tantas lutas, contradições, dissabores e decepções, dores, mágoas,  vale a pena ser vivida com muito sabor, alegria, comunhão, partilha, perdão. Afinal, a vida é uma graça, uma dádiva! Feliz e abençoado 2013! Bom apetite!! Odete Liber




Coldplay - Paradise (Peponi) African Style (Piano/Cello Cover) - ThePian...








trilha sonora do filme As Aventuras de Pi.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Nina Simone - Here Comes The Sun


Fim do ano de 2012

Sempre que viajo ou encontro pessoas conhecidas ou que acabo de conhecer, elas me perguntam se já me acostumei com a cidade onde estou morando. Confesso que não sou fã dessa cidade, apesar de gostar da beleza de alguns lugares. Sinto falta de tanta coisa... de tantas pessoas... Tem sido um tempo de reflexão, questionamentos, aprendizado. Lógico que esse ano não foi lá “aquele ano”. Já tive tempos melhores.  Mas também devo confessar que "me sinto abençoada nesse lugar, e por isso tento  adaptar- me e ver a coisas boas e belas!". E como diz Clarice Lispector "Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas."