quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A MULHER ENCURVADA



MULHER ENCURVADA
O nosso texto base é Lucas 13.10-17, onde há o relato do encontro entre Jesus e uma mulher enferma, em dia de sábado. A mulher sofria a dezoito anos, de uma doença que não lhe permitia endireitar-se.  Jesus a curou, ela imediatamente começou a louvar a Deus pelo que lhe acontecera, mas houve a repreensão do chefe da sinagoga, que disse que aquele não era um dia apropriado para cura.
A resposta de Jesus, dirigida ao chefe da sinagoga, indica que era apropriado libertar a mulher em dia de Sábado.  Para Ele, nenhuma lei relacionada com a santidade do Sábado pode ser colocada no lugar da libertação da mulher enferma, mesmo quando se reconhece que até as pessoas mais exigentes no cumprimento da lei do Sábado levavam o boi ou jumento, no Sábado, para dar-lhes de beber.
Ora, se até mesmo um boi ou jumento eram desamarrados em dia de Sábado, quando tinham sede, para lhes dar de beber, muito mais um ser humano tem direito de ser desamarrado de tudo aquilo que o impede de desenvolver plenamente sua humanidade em dia de Sábado. Jesus diz com isso um ser humano vale mais do que um animal.
Segundo o texto, “achava-se ali uma mulher, que tinha um espírito de fraqueza”, isto é, “de enfermidade”. Naquela época a doença é atribuída ao poderio maligno de Satanás (v.16), mas a cura que segue aqui, não é descrita como exorcismo e, sim, como libertação: “Mas Jesus vendo-a, chamou-a e disse-lhe: ‘Mulher, está livres da tua doença’, e impôs nela as mãos; e imediatamente endireitou-se e louvava a Deus” (vv.12-13).  A doença havia se espalhado por todo o corpo da mulher, encurvando-a, atrapalhando seu movimento. O fato é que doença durava dezoito anos e, consequentemente, produzira mudanças no organismo da mulher.
Jesus toma a iniciativa, depois de perceber a necessidade da mulher, e a ela aceita o dialogo com Jesus. Depois de ter sido chamada, a mulher precisou deslocar-se. Sair do lugar onde estava, para ouvir o que Jesus tinha para lhe dizer, aceitando, então, em seu movimento, o diálogo com Ele.
Com certeza ela estava num lugar reservado só para as mulheres na sinagoga, ou em algum lugar onde não se poderia ver e perceber sua deformidade.  “Mas Jesus vendo-a, chamou-a e disse-lhe: ‘Mulher, está livres da tua doença”. Jesus dirige a palavra à mulher e impõe-lhe as mãos. A mulher foi curada imediatamente e glorificava a Deus.
Outro fator importante nesse texto é ação espontânea de Jesus. Um homem conversa com uma mulher. Ele percebe a necessidade dela. Jesus a vê, olha, chama e impõe-lhe as mãos. 
Jesus impõe-se, anunciando uma libertação que se realiza instantaneamente numa mulher e em dia de sábado. 
Pode-se dizer que a fraqueza da mulher, sua enfermidade, corresponde a força que ela tem  dentro de si. Tirar as ataduras, desatar, desfazer o que Satanás havia feito é favorecer a recuperação da vida, é libertar a pessoa. Para que a fraqueza se converta em força e a escravidão em libertação, e a intervenção do poder de Deus  é necessária.
O texto acentua a incapacidade total da mulher de olhar para cima ao afirmar que ela não podia, de forma alguma, levantar-se. Na época alguém que não olha pra cima e não contempla a criação de Deus é alguém privado da sua humanidade.  Essa mulher só olhava pra baixo. Ela ficara sem uma parte essencial da humanidade e de um contato com a divindade, com Deus. Ao sentimento de não poder ser curada deve-se acrescentar também a humilhação pessoal, a degradação social, além das dores físicas.
E quantas vezes andamos assim, olhando pra baixo, fracas, encurvadas, sem olhar nos olhos do outro e nem para o alto. Sem forças para dialogar com Deus, o divino. Sem forças nem mesmo para nós.
“Estás livre da tua doença”. Ela foi de fato libertada. Restaurada, que significa levantar-se, pôr-se de pé, ficar ereto, recobrar o sentido vertical. A restauração a uma postura  normal, ereta.  A mulher levantou-se instantaneamente. Isso também indica que a cura vem de Deus. Ela foi curada repentinamente, assim como a doença fora duradoura, a cura foi tão completa quanto a enfermidade havia sido total. A libertação de Deus chegou para a mulher: “estás livre”/”tens sido libertada” da tua doença”. “Estás livre”//”tens sido libertada”, “agora estás livre”. Muitas vezes, como mulheres,  precisamos nos libertar do que nos aprisiona, nos tira a tranquilidade, a paz, a harmonia. As vezes precisamos nos libertar do poder autoritário masculino que quer se instalar, seja em casa, no trabalho ou na igreja. É sempre bom reafirmar que o Deus da Vida não combina, com os atos de morte, doença, encurvamento, autoritarismo.
Na época a mulher já não era valorizada e enferma, era pior. A doença da mulher a limitava totalmente. Além da limitação física, havia a social. A doença deixava a mulher excluída socialmente.
A ação de Jesus proporciona uma nova visão da mulher na sociedade: Jesus a curou num espaço público, pois a sinagoga era responsável pela manutenção das tradições religiosas. Com isso Jesus inverte os valores vigentes da época, representados pelo chefe da sinagoga. O que a Ipu tem feito para quebrar tradições religiosas que aprisionam a mulher? O que a igreja e vcs, mulheres, lideres tem feito para ir contra tudo o que aprisiona, silencia? Vocês tem voz e vez nas suas igrejas? E fora da igreja? Em casa, no trabalho? Vocês tem lutado por isso?
Jesus deu lugar para aquela mulher na sociedade, um lugar que provavelmente ela sonhara em ter, mas nunca alcançara devido a sua enfermidade a incapacitava totalmente. Porque naquela época a mulher não tinha valor algum. Mas Jesus veio para resgatar a mulher, o seu valor, colocando-a no mesmo grau de importância que o homem.
O olhar ultrapassa a constatação. Ele precede e motiva o gesto de Jesus. O olhar demonstra receptividade; o gesto, sua intercessão. A ação de Jesus deixa claro aos que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir que o Senhor não fica indiferente diante da miséria injusta e que Ele atua para corrigir seus efeitos.
Vale lembrar que às vezes carregamos tanta coisa dentro de nós e fazemos tanta coisa que leva o nosso físico e o emocional ao extremo, e com isso o espiritual também padece. Às vezes somos reféns da nossa própria religiosidade, que em vez de libertar, aprisiona, escraviza, machuca, dói!
Às vezes o fardo que nos impomos como mulheres ou fardo que nos impõe é tanto que ficamos encurvadas e nessa posição a gente não consegue olhar para nós e nem pr@ outr@, muito menos ajudar @ outr@ nas suas necessidades, porque o encurvamento é tanto que esquecemos que somos filhas de Deus.
O encurvamento da mulher pode simbolizar, talvez, a tendência de uma pessoa a fechar-se em si mesmo e a limitar seu horizonte às realidades terrenas. A dor, nos torna individualista, porque só olhamos para nossas dores, afazeres, nossa culpa, e ficamos doentes.  E nos sentimos responsáveis e culpados por tanta coisa.
E digo a vocês que a culpa é não estar inteira onde se está. É preciso lembrar que onde estamos é o centro da nossa vida e se formos inteiras onde estamos não vai nos faltar nada. O ser inteiro não é o dia todo, são alguns momentos, é o que chamamos de qualidade de vida, qualidade de tempo.
E vocês sabem, mulher, limitada, doente, traz consequências sociais: desprezo e angustia. Doença e dor! Não só para ela mesma, como para os outros.
E eu finalizo perguntando pra vocês: Quais as limitações impostas às mulheres? Na igreja e fora da igreja? Em família?  O que te faz ser mulher encurvada?  Quais são as coisas que nos faz hoje, como mulheres e cristãs, a olhar pra baixo, sem contemplar a criação de Deus?
Porque muitas vezes não temos saúde espiritual porque somos levadas a calar, aguentar tudo sozinha, sem alguém que nos diga “estás livre”!  
Que Deus nos abençoe e nos ajude a sermos livres, curadas e guerreiras.
Odete Liber 




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