2013: cheio de sabor,
beleza, alegria, vida, paixão, perdão, graça
Cozinhar pra mim é um
prazer. Faz-me muito bem! E comer, é melhor ainda e quando se tem fome é uma felicidade.
Todo mundo sabe disto, inclusive os ignorantes bebês. Mas poucos são os que se
dão conta de que felicidade maior que comer é cozinhar. Alegra a alma, faz bem
pro coração, para os olhos, para o olfato, pra tudo!
Como é bom cozinhar e
comer, lavar, descascar, cortar, beliscar, rir, bebericar, conversar,
saborear. Ver @s amig@s deliciando-se. É
como uma celebração, um culto.
E cozinhar exige paciência,
calma, sossego. Não se pode ter pressa, apesar de que o prazer de comer, não é
muito demorado. O que demora são os prazeres preliminares, pois quanto mais se
demora maior será a fome, e claro, maior será a alegria de saborear a comida.
Gosto de cozinhar e
colocar na comida muito temperos, ervas, misturar os opostos. Meu marido diz
que isso é coisa de bruxa. Rubem Alves diz que quem cozinha “é parente próximo
das bruxas e dos magos”. Pode ser e nesse sentido cozinhar é alquimia,
feitiçaria e o ato de comer é ser enfeitiçad@ por tanto prazer.
Lembro-me do filme Festa
de Babette. Ela bem sabia de tudo isso. Ela sabia os segredos de produzir a
alegria pela comida e que após se deliciarem, as pessoas não permaneciam mais
as mesmas. Coisas mágicas acontecia com
elas. O filme retrata o cotidiano de uma
pequena comunidade religiosa do século dezenove, que vivia com muita
simplicidade, próxima ao mar, numa costa deserta da Dinamarca. O fundador da
comunidade morre e deixa seu pequeno rebanho, formado praticamente por pessoas
simples e avançadas em idade, como “herança” para suas duas filhas. De repente,
para fugir da guerra, uma mulher chamada Babette sai de Paris e decide, por
indicação de um amigo, viver junto a esta comunidade. Ela era uma famosa chef de cozinha de um importante hotel
de Paris. Babette passa anos naquela comunidade sem poder mostrar o seu talento
culinário. Até que um dia, ela recebe a notícia que havia uma fortuna para
receber na França. Diferente do que muitos pensaram e em vez de retornar para
Paris ou ir viver confortavelmente em outro lugar, Babette resolve oferecer um
banquete à comunidade. Gastou todo o seu dinheiro para importar os alimentos,
bebidas, especiarias, frutas, louças, talheres, toalhas etc., que seriam usados
no banquete. Tudo da melhor qualidade para que o momento fosse perfeito.
A Festa de Babette é o desabrochar
da alma, na descoberta do prazer sem culpa. Sua festa, é claro, escandaliza os
mais velhos do lugar. A vida naquele lugar era de dar dó, um martírio
passageiro para um plano maior: o céu. Os rostos eram rígidos as passadas
pesadas, rancor entre pessoas e brigas que não eram declaradas e assim também
não eram perdoadas. Pois a ofensa que não foi revelada também não pode ser
perdoada. Não havia gosto pela vida e a vida, por si, era insossa, sem sabor.
Babette para eles era
uma bruxa e o banquete oferecido era um ritual de feitiçaria. No que eles
estavam certos! Que era feitiçaria, era mesmo. Só que não do tipo que eles
imaginavam.
Achavam que Babette iria
por suas almas a perder. Não iriam para o céu. Decidiram aceitar o banquete, mas firmaram um
pacto – durante o banquete não falariam uma só palavra sobre a comida. E de
repente, receberam a visita de um General, e com a presença dele, formaram um
grupo de 12 pessoas ao redor da mesa. Ele, é claro, não sabia do que havia sido
acordado. E nem que Babette poderia ser bruxa, fazer feitiçarias.
Bem, não se pode negar
que a feitiçaria aconteceu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, vinhos saborosos, o prazer amaciando os
sentimentos e pensamentos, as durezas e rugas do corpo sendo alisadas pelo
paladar, as máscaras caindo, os rostos endurecidos ficando bonitos pelo riso. Na
singeleza do seu agir, Babette mostrou que a vida pode ser vivida no
compartilhar do alimento e na descoberta de novos temperos e sabores.
Com isso, digo que a vida
é saborosa e pode ser degustadas sem arrependimentos, medos, píeses ou neuras. E
como no filme, os prazeres simples da vida não poderão ser mais negados, como o prazer de comer e beber na
companhia de bons amig@s.
No filme, a partir do
banquete preparado por Babette, não haveria mais burocracia para o perdão e
muito menos a inércia do amor, por que tod@s compartilhavam do mesmo momento de
prazer. Prazer que não pode ser deixado de lado como o prazer de estar e beber
entre amigos, comer e contar a sua vida de forma simples e compartilhar da sua
vida em detalhes de forma aberta na clareza da informalidade. Babette nos apresenta que a graça está nas
pequenas coisas, que a graça não é monopólio de um culto, uma religião ou
somente um grupo de pessoas destinadas a viver com graça.
Por isso, ao final de
mais um ano, quando estivermos reunid@s ao redor da mesa para saborear os
pratos especiais da ceia de final de ano, que possamos perceber que a vida pode
ter diferentes sabores e tonalidades, além do cinza e do preto, que também são
importantes. Que sempre possamos dar às nossas vidas novos sentidos e
significados. Que possamos continuar cozinhando os mais diferentes e saborosos
pratos, para que juntos com amig@s e familiares, reconheçamos que nunca é tarde
para percebermos que a vida, apesar de
tantas lutas, contradições, dissabores e decepções, dores, mágoas, vale a pena ser vivida com
muito sabor, alegria, comunhão, partilha, perdão. Afinal, a vida é uma graça,
uma dádiva! Feliz e abençoado 2013! Bom apetite!! Odete Liber
Nenhum comentário:
Postar um comentário