terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Gritos

“Não tenho nenhuma das qualidades necessárias para vencer na vida” (Franz Kafka, O processo, p. 253). É isso o que as pessoas falam, mas sem palavras.
É a vida delas que “grita” por elas. Esses gritos precisam ser ouvidos e se a teologia cristã tem falhado em ouvir essas vozes é porque pouco eco ficou das palavras de Jesus segundo Mateus: “ Pois eu tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; eu era estrangeiro e não me acolhestes; estava nu e não me vestistes; doente e na prisão, e não me visitastes.” (MT 25:42ss TEB).
Atentar para a vida no cotidiano, para as pessoas é, dar passos com paixão como aquelas pessoas que, à margem das sociedades, vivem no medo e na morte e que precisam de força para poder gozar da vida dentro das limitações de suas possibilidades de vida. É com paixão que se vive, porque a vida é efêmera. Apaixonar-se não pode ser visto como algo breve, passageiro, sentimental, que se sobrepõe à lucidez e à razão. Apaixonar-se é assumir a condição de efemeridade do viver, como já observara Fernando Pessoa, “a vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na duvida, há um ponto final”.  
Pois é na banalidade do cotidiano que é possível dar alguns passos, passos com paixão, sensíveis a singularidade de cada pessoa, em dialogo com uma teologia preocupada em transformar.
 

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