domingo, 26 de abril de 2020

A caminhada se faz caminho com Jesus – Lucas 24. 13-35

A caminhada se faz caminho com Jesus – Lucas 24. 13-35
O contexto da história todos nós sabemos. Dois discípulos seguiam para Jerusalém. Conversavam e discutiam a respeito de  tudo que tinha acontecido. E de repete aparece outra pessoa, o próprio Jesus, mas eles não o reconhecem. Jesus, esse estranho, então os questiona sobre o que estavam conversando e  percebe que eles estavam muito tristes e decepcionados.
Os discípulos caminharam com Jesus não por um mês, mas por anos e agora, não o reconhecem. Os olhos impedidos vedam visão e compreensão. Os dois discípulos não acreditaram na informação a respeito da sepultura vazia nem a notícia dos anjos de que ele vive, mesmo que prestadas por mulheres de seu próprio círculo de convívio! Mais ainda, não reconheceram a Jesus caminhando lado a lado com eles.
Fico imaginando quantas vezes talvez eu não tenha reconhecido Jesus nessa caminhada da vida. Não são provas históricas, nem o esforço humano, nem discursos filosóficos que abrem os nossos olhos e levam o nosso espírito a reconhecer Jesus Cristo.
Como cristãos e cristãs “Cremos num Deus que não vemos e nem caminhamos no passado com Ele, mas  percebemos sua ação em nossas vidas. Temos a  fé que é dádiva.  A graça doa esperança, mesmo quando tudo está ruindo. Então, os nossos olhos se abrem e o nosso coração compreenderá: Ele vive! 
Quero também lembrar que,  sem a presença, sem o encontro pessoal, há um empobrecimento da comunicação dialógica cara a cara, diante do olhar do outro; fora desta comunicação vivente com o outro, já não é possível autentificar a experiência do nosso próprio eu, pois nos falta a relação primordial com um tu. Vivem os em dias que as relações se pautam através do whatsap, da distância. Não se olha mais olho no olho.  O processo da presença do outro, da conversação produz mudanças em nós: uma determinada frase, dita ou escutada, uma experiência de vida que tocou nosso coração, uma pergunta que nos tirou de nossa maneira habitual de pensar… são sementes para transformações posteriores.
No caminho de Emaús, Jesus, como mestre sábio na arte da conversão, parte da situação existencial em que os dois discípulos se encontravam naquele momento: provoca-os para que falem à vontade das causas de sua tristeza. No fundo do coração dos discípulos há um grande vazio que, inconscientemente, querem preencher “conversando e discutindo entre si”.
Claro que muitas vezes em nossa caminhada da vida, temos medo, tristeza, decepções e expectativas frustradas, que nos impedem de ver em Jesus o Cristo e perceber caminhos alternativos ou até, ouvir sua voz.  Muitas vezes andei como esses discípulos, mas aí, veio o milagre e meus olhos se abriram. Aconteceu o encontro com Jesus!
A pergunta de Jesus sobre o problema que causava tamanho sofrimento neles foi o ponto de partida para encontrar a resposta que, no fim do itinerário, iria esclarecê-los, iluminá-los e devolver-lhes a alegria e a esperança perdidas. Aqui está uma sugestão de conversa, diálogo com o outro.
A pergunta de Jesus (“o que ides conversando pelo caminho?”) faz com que os discípulos levantem os olhos do chão e olhem para o rosto do peregrino desconhecido. Sem perceber começam a sair de seu fechamento e a alegrar-se porque alguém está interessado em saber quais são as causas de sua tristeza e quer ouvi-los.
A pedagogia amorosa de Jesus deu certo: eles abrem o coração e contam “o que aconteceu a Jesus de Nazaré”. No entanto, o que aconteceu com Jesus não é contado por um coração ardente e exultante, mas por um coração ferido, desiludido e triste. A resposta dos discípulos é um resumo do querigma cristão; mas esse conteúdo é relatado como uma tragédia irreparável.
Depois de uma longa conversa com o peregrino, os discípulos não discutem mais entre si, mas unânimes, insistem para que ele permaneça com eles naquela noite. O pedido “permanece conosco”, expressa o desejo de ser discípulo(a) de Jesus. Depois que o estranho peregrino – Jesus - aceitou o convite, a casa de Emaús, em vez de tornar-se um lugar de fuga e fechamento, como os discípulos pretendiam, tornou-se um lugar de acolhida e de partilha, de iluminação e ponto de partida para a retomada da comunhão com a comunidade dos demais companheiros.
O diálogo é consubstancial ao cristianismo. Deus é Palavra criadora e geradora de vida, mas em Jesus ela se manifesta como uma grande conversação. Sua presença junto aos discípulos de Emaús e  possibilita a passagem de uma “conversa e discussão” marcada pela tristeza, dor e fuga, para uma nova conversação, cheia de sentido e alegria. Os dois discípulos viveram uma verdadeira “páscoa”, pois passaram da discussão ao reconhecimento, do fechamento à abertura, do lamento ao agradecimento, do desânimo ao entusiasmo. Em suma,  a “passagem” do coração vazio e duro para o coração transbordante e abrasado. A nova conversação os arranca da solidão e os faz retornar à comunidade para relatar a boa nova da experiência que fizeram. Conversação expansiva, desencadeadora de outros relatos vitais. E assim, os laços são reatados.
A gente sabe que com uma posição conservadora, estática, rígida, é muito difícil que haja uma verdadeira conversação. Desse modo não há mudança, não há transformação. Fica-se igual a música Gabriela “nasci assim, vou morrer assim”. Mas com Jesus, aprendemos que é preciso sair de si mesmo, colocar-se em marcha. Com e em Jesus, há mudança.
Quando há dialogo, conversação, abertura, acontece a uma mútua atualidade da presença, e, um modo de comunicação no qual toda a pessoa se expressa, com gestos e palavras. É a passagem para a comunhão, a paz, a iluminação, a mudança de si e do outro.
Voltando pro texto, vemos que  o desvendar dos olhos ocorre durante a “fração do pão”. Nesse momento os olhos dos discípulos se abriram e reconheceram Jesus. A fração do pão para eles foi o “sinal por excelência da presença do Ressuscitado, o lugar onde eles podem e devem descobrir essa presença e a partir do qual poderão dar testemunho da Ressurreição” (J. Dupont). Andar com Jesus é ouvir com atenção e deixar-se cativar pela sua Palavra. Sentar-se à mesa com Ele e deixar que Ele parta e reparta o pão da vida. O reconhecimento e reencontro acontecem sob a palavra e na ceia (eucaristia). “O reconhecimento do Senhor vivo e o reencontro com ele acontecem sob a sua palavra e à mesa; ali ele está presente como divino viajante e hóspede” (W. Grundmann, p. 443). A  fé reconhece Jesus na sua palavra, no pão e no cálice da Santa Ceia.
E, depois de reconhecê-lo, é necessário realizar imediatamente o “caminho de volta” para a comunidade, para partilhar com os outros a experiência do encontro com o Senhor, professar juntos a fé comum e realizar as obras do Reino.
É essa experiência que, em última instância, muda nosso modo de pensar, de sentir e de agir. É essa experiência que nos converte em seus (suas) discípulos(as) e seguidores(as). Os caminhos que levam ao encontro com Jesus podem ser os mais diversos e mais ou menos longos, mas a experiência do encontro pessoal com Ele é imprescindível para conhecê-Lo.
Fazer o caminho com os discípulos de Emaús é uma privilegiada oportunidade para recuperar o lugar e o sentido da conversação nas nossas diferentes relações pessoais.
A graça de Deus pode nos atingir nos caminhos mais variados e inesperados: passando pelas fendas de nossa existência, pelas brechas abertas em nós pelas grandes decepções, ou soprando as últimas brasas que, sob as cinzas da desilusão, ainda permanecem acesas.
Jesus é invisível, porém está conosco a caminho. Em momentos de recolhimento íntimo e de reflexão silenciosa o peregrino Jesus está conosco. Jesus segue ao nosso lado. Com a sua palavra ele estende a mão ao nosso encontro para nos amparar, abrir a nossa compreensão, nos orientar e fortalecer o espírito, integrando-nos em sua comunhão de vida. No encontro ele nos abençoa e nos transforma em pessoas melhores.
O reconhecimento de Jesus nos põe a caminho em busca dos seres humanos. Os discípulos de Emaús foram a Jerusalém para encontrar-se com os outros discípulos. Qualquer lugar de nossa vivência poderá tornar-se a nossa Emaús, que, pela experiência do Cristo vivo, nos leva ao encontro com os irmãos em alguma Jerusalém da vida. O encontro com Jesus leva à comunhão e envia ao mundo para testemunhar o Cristo vivo. O que enche o coração faz os lábios transbordarem. Deus nos abençoe!! Odete Liber


quinta-feira, 23 de abril de 2020

Igreja e a Pandemia – experiencias pra vida ou só uma fase?


Igreja e a Pandemia – experiencias pra vida  ou só uma fase?
Estamos vivenciado um tempo diferente em nossas vidas, seja pessoal ou coletiva. Na coletiva, incluo a igreja, como espaço de vivência coletiva da fé e afetividade. E em tempos de Coronavirus, tudo isso mudou. Já não é possível mais os encontros coletivos na igreja, os abraços fraternos e apertados, bem como o mesmo acontece nas festas, nos bares, pizzarias.  
E diante de tudo isso, impossível não voltar os olhos para a igreja, que passa também por mudanças a partir do Coranavirus.
Logico que muitas igrejas já faziam uso da tecnologia e mídias sociais para apresentar seus trabalhos, incluindo cultos. Agora, se tem “enes” opções de cultos, celebrações. Lembrar que nem todas usufriam dessa tecnologia, seja para celebrações ou para reuniões. Havia sempre uma opinião contraria. Nesse sentido, tenho que voltar os olhos para a denominação a qual faço parte, a IEAB -Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. A IEAB, que raramente fazia uso da tecnologia, agora está correndo atrás. Tentando descobrir esse mundo virtual, que de repente encurta distâncias e gera encontros. E que reuniões são tão frutíferas quanto as presenciais.
E sociedade em geral está há praticamente um mês de quarentena, impossibilitada de se reunir fisicamente. E nesse mote tecnológico as lives, os vídeos, os encontros virtuais se fizeram presentes e rotineiros. Neste curto período de tempo, a igreja tem enfrentado muitos desafios com os quais nunca teve de lidar antes e tem experimentado novas experiências de ser igreja e estar no mundo.
O que antes era dito como “impossível”, agora acontece. Um exemplo, são o culto-celebrações (missão) on line para manter a comunhão, mesmo à distância; os estudos bíblicos, socorro aos que precisam de uma oração, uma palavra de conforto via smartfone ou skype, uma palavra de conforto; incluindo até a ministração dos sacramentos como a ceia – Eucaristia (à distância foi implementada); o atendimento pastoral; a contribuição financeira; e muitos outros atos, que antes da Covid-19,  fluíam de maneira natural e agora seguem via uso das tecnologias disponíveis.
E fico pensando, como será o pós pandemia. Será que abrirão mão da tecnologia ou seguirão  fazendo uso dela, visto que tem feito muito bem. Lógico que ela não substitui o abraço apertado no “abraço da paz”, a conversa olho no olho, a oração com imposição de mãos.Os estudos bíblicos e cultos nas casas. Entretanto, nestes últimos dias, que parecem uma eternidade, não se pode negar, todxs já foram impactadxs pelos enfrentamentos de desafios e pelas experiências de ser igreja, a partir das mídias socias – tecnologia.
Com isso, acredito que a igreja já está se transformando, de uma forma que ainda não é totalmente visível para todxs, mas que ficará bastante claro quando a pandemia estiver sob controle e as comunidades de fé voltarem a se reunir semanalmente, com todas as suas atividades.
Outro exemplo de mudança, falando a partir do que eu tenho visto em minha denominação, foram as celebrações da semana santa, todas on line. Depois, coma preocupação com o uso dessas mídias sociais, como uma reunião que participei, de clerigxs e lideranças, momento este em que se tenta chegar a um denominador comum sobre a tecnologia e sua influência na vida da igreja, e com isso o melhor uso dela. E lógico, mesmo sem a clareza necessária, é preciso e deve-se ter um esforço para perceber os sinais de mudança no entendimento e no comportamento das pessoas (não só da #SouIEAB) em relação à igreja; em seu jeito de ser cristã e cristão; a  maneira de cada um e uma vivenciarem a fé em Cristo;  o modo de encarar a liderança e os ministérios da igreja e como clérigos-pastores, pastoras, padres, reverend@s encaram tudo isso e a disposição destes para fazer uso do que lhes é apresentado.
Quero também ser realista, se não houver um esforço de todxs, não se terá aprendido as muitas lições preciosas que irão impactar de maneira significativa as vidas, a vida da igreja.  Porque é bem simples: não se pode fugir dessa realidade e ficar cada um em suas bolhas e suas verdades absolutas.
O afastamento social veio para ensinar que a igreja não é só o templo e que todas as celebrações não deverão ocorrer só dentro do templo. Isso torna possível ver a igreja de uma maneira diferente daquela em que as pessoas estavam acostumadxs a ver. Não somo só templo (construção),  a vivência cristã e espiritual não acontece apenas dentro das paredes do templo, focada apenas na satisfação de desejos espirituais e voltada só para o atendimento de necessidades emocionais de um grupo. Não se pode ficar autocentradxs ao redor do próprio  umbigo. Longe fisicamente, se percebe que é preciso ser mais essência da Igreja, que é justamente ser luz para o mundo e sal para a terra. A seta está direcionada para fora, e indica  que o caminho a ser seguido é este. Redescobrir que não se  tem impactado a sociedade ao nosso redor, porque não se está sendo obedientes ao que o Senhor nos manda, de que a medida que caminharmos devemos fazer discípulos de todas as nações.
Nesse período de distanciamento social, tem-se descoberto o que é essencial na vida da igreja (assim espero). Isso se percebe ao olhar para o mês de janeiro, que muitxs clérigos tinham suas agendas repletas de atividades (as vezes atividades em excesso e desnecessárias – me perdoem, mas é fato). Mas não contavam com a pandemia. A pandemia chegou e desmontou as agendas, os planejamentos. Tudo foi por água abaixo. O que parecia essencial já não é mais. Sem essas atividades, todos estão se perguntando o que de fato é o essencial na vida da igreja e na própria vida.
Talvez alguns estejam encontrando alguns post-its com lembretes de “Jesus” dizendo que a comunhão semanal da igreja tem, como propósitos os cultos, que  são para celebrar as maravilhas que Deus realiza semanalmente no meio do seu povo; que os encontros comunitários são para estreitar os laços entre as pessoas que professam a mesma fé e fortalecer a todos e todas que enfrentam as mesmas lutas diariamente;  e que as reuniões da igreja, dos bispos e clérigos devem ser a oportunidade de aprendizagem e treinamento para a missão de proclamar o Evangelho e fazer discípulos, e não apenas estudar a história do anglicanismo.
Com isso, me vem a memoria, a lembrança da transfiguração de Jesus. Momento em que Pedro, Tiago e João estão com Jesus em um monte e logo a aparência de Jesus é transformada em um brilho só. Elias e Moisés se juntam a eles. Ali estavam em plena comunhão: Jesus, o Mestre; Moisés, o Legislador; Elias, o Profeta; e Pedro, Tiago e João, os Discípulos. Que encontro maravilhoso, diz Pedro! Dá até vontade de ficar ali para sempre. E é isso que Pedro sugere ao dizer ao Senhor: Se quiser, farei três tendas: uma será sua, uma de Moisés e outra de Elias. (Mateus 17.4). Imediatamente,uma nuvem surge e a voz de Deus ressoa e diz: Este é meu Filho amado, que me dá grande alegria. Ouçam-no! (Mateus 17.5). Então, o brilho se apaga e todxs descem o monte transformados para a missão. Isso é bom! É tão  bacana ver a irmandade desfrutando da comunhão e celebrando os grandes feitos de Deus semanalmente e, em seguida, saem intencionalmente para servir ao mundo com o Evangelho. Isso é o essencial na vida da igreja.
 Outro fator que eu achei lindo, foi a descoberta que o Pão do Céu vai muito além do pão da Eucaristia. Agora isso pode ser feito on line. Celebrações eucarísticas foram feitas on line. Lindo! Muitas famílias reunidas em suas casa com o pão e o vinho, e juntas comungando em casa. O separado que se faz junto, que une,  todas as pessoas, em suas casa paraticipando da ceia. A IEAB ainda não conseguiu ir tão longe, é uma pena, porque com isso, a comunhão-Eucaristia dxs Santxs perdeu de ganhar ganha um novo significado, que está nas palavras anunciai a morte do Senhor até que ele venha, pois nos deparamos com pessoas famintas do Pão do Céu e a elas anunciamos o pão eterno como um oferecimento gracioso de Deus para todos. É amor e graça!
Quando se celebra a Eucaristia ou Ceia, tem-se também um envio para um mundo carente de pão e de salvação e ambos se encontram em Jesus: a salvação pela sua morte e ressurreição, e o pão pela solidariedade, fraternidade e serviço diaconal de seus discípulos para com o mundo.
Nesse período de pandemia vi a igreja em geral e muitos da IEAB, experimentando a redescoberta da leitura da Bíblia, orações e cultos domésticos
Isso mesmo que você leu! Anglicano (aqui no Brasil pelo menos) não tem muito o costume de ler a bíblia todos os dias ou ter estudo bíblico semanal, seja nas casas ou no templo. Talvez, esse seja o momento de redescobrir  que a leitura e o ensino da Bíblia é um exercício espiritual diário. Afinal, a Bíblia sempre foi o livro do povo de Deus.  E que ler e não é só coisa de “especialistas”, porque a teologia é feita com a vida, com as experiencias diárias da vida de cada pessoa com Deus.
Me recordo que desde que aprendi a ler, a Bíblia era um livro fantástico. Ao lê-la, sonhava, orava, me encantava. Ler a Bíblia em casa, nos lares, é ter a autonomia de escolher os textos que mais atendem as suas necessidades, ou de descobrir textos que ainda não tinham lido e neles encontrar esperança, fé, além de tornar possível responder perguntas que elas realmente estão fazendo e não aquelas perguntas que clerigxs imaginam que elas estejam fazendo ou precisando fazer.
Também me veio a memória, o Sacerdócio Universal de todos os cristãos e cristãs. Sempre considerei importante e lindo. E o  Coronavírus tem forçado muitas pessoas a descobrirem os seus dons e a colocar esses dons em prática dentro de seus lares. Na IEAB a gente não se fala muito em dons e talentos, mas é preciso falar. Dons e talentos existem e precisam ser valorizados. As pessoas precisam ser valorizadas, todas e não só algumas. Vemos isso, com o isolamento desses dias. Isolados fisicamente da igreja templo, mulheres e homens, que antes estavam acostumados a ver algumas responsabilidade como só de clérigxs, agora começam a redescobrir seus papéis na igreja. Estão tendo mais liberdade para orar, ler a Biblia, animar outros irmãos e irmãs. O bispo Sumio Takatsu dizia que o “Anglicanismo sempre foi o ministério de todos os cristãos”, com criatividade e flexibilidade, ao mesmo tempo mantendo a ordem bíblica e histórica.
Até antes da pandemia, entendia-se que o encargo de manter a igreja funcionando era somente daquelas pessoas eleitas ou nomeadas para cargos e funções e alguns clérigxs faziam questão de ressaltar isso.  Agora, não. Descobriu-se que é possível celebrar em casa, fazer o culto doméstico, ler a Bíblia; contribuindo; distribuindo os elementos da Eucaristia-Ceia; orando; exercendo liderança; falando do amor de Deus para outras pessoas.
Você pode dizer que isso as pessoas já faziam. Não na IEAB! Tudo muito hierárquico. Talvez falta as pessoas perceberem que “Igreja é o povo e não a hierarquia”.
As pessoas estão redescobrindo que podem assumir esses compromissos por si mesmas, porque elas percebem que possuem talentos e dons espirituais e que estão sendo guiadas pelo poder do Espírito Santo. E isso é diferente, pelo menos para a maioria das igrejas focadas em uma hierarquia rígida  (a nossa) com pouco espaço para o exercício do sacerdócio de todos os cristãos e cristãs.
 E isso nos dá uma nova visão do Reino de Deus (assim espero). Antes da pandemia a igreja (s) estava (m) autocentrada (s). O Covid-19 “dispersou a Igreja” que, aos poucos, vai tomando consciência de que o Reino de Deus está entre nós e que ele é bem maior do que a própria igreja instituição, templo. Devagar e sem perceber a igreja vai se dando conta de que seu papel é bem mais modesto do que às vezes queremos atribuir a ela. E que se formos simplesmente fazendo, trabalhando, cada um com seu talento, não será tão complicado.
Está se colocando em prática os valores do Reino dos Céus, como está em Mateus, valores expressos no Sermão da Montanha e que incluem amar ao próximo e aos inimigos; promover a paz; exercer a misericórdia; praticar a esmola, a oração e o jejum, entre outros.
E após toda essa pandemia a igreja, nós, não seremos os mesmos e nem a igreja instituição,  não será a mesma (assim espero!), não porque não se pode mais ser a mesma coisa, mas porque não se deve ser os mesmos.
O Covid-19 está propiciando o tempo necessário para cada pessoa repensar a forma de ser igreja e a oportunidade única de redescobrir a vocação como filhas e filhos de Deus e participar ativamente com voz e vez nas suas comunidades de fé. É cedo para afirmativas, mas as mudanças que estão em curso na comunidade de fé, já estão gerando transformação e continuará a transformar para muito além da crise do Coronavírus.  Que possamos ver a graciosidade de Deus e trilhar belos caminhos como corpo de Cristo.

Perdão liberta


Perdoar é um desafio. Nem sempre é fácil para as pessoas, seja perdoar o outro ou se perdoar. As vezes se faz de conta que perdoou e vai-se indo. Carregando dores, pesos.  A quaresma (que já passou) foi um tempo especial para perdão e reconciliação. Mas, como dizem os sábios, sempre é tempo para o perdão. Não sei se muitas pessoas se atentaram para esse fato. Eu tenho aprendido e sei que é bem dolorido. Tenho aprendido que perdoar é uma disposição. Preciso querer!  Eu tenho que estar disposta a isso. Não vou mentir, essa disposição nem sempre está comigo, porque as vezes ainda não consigo, mas me disponho. Luto!   
O Salmo 85.6 diz “Tu és bondoso e perdoador, Senhor, rico em graça para com todos os que te invocam”, ou seja, esse salmo me diz que ‘se’ eu quiser ser como Tu és, tenho de aprender a perdoar pronta e rapidamente.
Perdoar não é esquecer. É retirar a dor de dentro da gente. Dor que incomoda, dor que constrange, que nos enfraquece.
É bem sabido que perdoar não é sinônimo de “aceitar de volta”; é possível me dispor a oferecer perdão até mesmo às pessoas com quem não temos e não pretendemos ter qualquer convívio futuramente.  Perdoar não é esquecer, mas significa que enxergarei essa pessoa que me machucou, por trás do ato que aconteceu. Ou seja, primeiro a pessoa e não o que aconteceu, até que eu consiga ver apenas a pessoa e ignorar o ato que tanto me machucou. Desafiador! Mas a gente consegue.  
As emoções não podem determinar o nível do meu perdão, é isso que tenho aprendido lentamente, devagar e sempre. As vezes as emoções me traem, mas em seguida lembro que o que eu perdoei reside no pensamento e na atitude. Não posso voltar atrás (racional, emocionalmente e espiritualmente) e deixar de perdoar. Mas posso me dar o direito de chorar copiosamente sobre o que aconteceu e sentir pesadamente a dor que me foi infligida. E depois, seguir em frente.  É preciso seguir em frente, deixar o peso que carrego. Porque quando escolhemos pelo “não” perdão, a única pessoa que paga efetivamente pelo o que aconteceu sou eu, somos nós mesmos.
Posso olhar para o passado sem medo, se eu aprender que ele passou, já foi. E, se acaso algo parecido se repetir futuramente, precisarei renovar minha disposição de continuar em frente, olhando para o futuro e não para o passado.
Outra coisa, com o tempo, tenho aprendido que as memórias ficam mais brandas, suaves se eu não focar nelas minha atenção. “Se é assim que fazes, e dos meus pecados não te lembras, não é porque esqueceste, mas porque te recusas a repensar”. Devo fazer o mesmo.
Preciso crer em mim mesma e no outro, ainda que pessoas possam me ferir propositalmente (pode acontecer).  No entanto, preciso dar uma chance a mim e ao outro, acreditando que não é assim a maioria das vezes, porque as pessoas simplesmente são frágeis e se equivocam, erram. Preciso crer que nenhuma pessoa, de bom grado, ofenderia a outra só pelo gosto de magoar, ofender. Não posso carregar comigo a responsabilidade da maldade da outra pessoa. Mas posso escolher entre seguir em frente ou permanecer com essa dor.
A ciência já comprovou o quanto o não perdoar prejudicam a vida humana. A falta do perdão gera mágoa e rancor – eles têm sido muito associados à ansiedade, depressão, obesidade, hipertensão e até ao câncer. E me lembro daquele pensamento antigo, “não perdoar, é como tomar um copo de veneno esperando que o vizinho morra”. Também sei que eu e ninguém deve viver tão prevenida a ponto de perder a oportunidade de um encontro simples e puro, com alguém só porque se foi machucada, ferida uma, duas, três vezes antes... Diz uma canção “Somos eu e tu, Sou só eu e tu, Deixa o coração aberto”. Vamos em frente!
Então, quem perdoa sente-se livre, essa é uma lição fantástica. Pois quem retém o perdão e fica ruminando a dor, o rancor, a mágoa, fica escravo de quem o feriu. Quem perdoa é livre para seguir adiante sem olhar para trás. Aprendi, sigo aprendendo, sigo tentando colocar em prática, mesmo com os olhos marejados em lágrimas, porque ser livre é muito melhor que ser prisioneira. @Odete @Liber



domingo, 26 de janeiro de 2020

O q te move???

"Que você descubra o que lhe move e o que lhe comove.
Que possa fazer as malas de vez em quando e sair na rua cantarolando.
 Que possa abandonar as partes de si mesma que não tem mais significado e descobrir novos territórios para ocupar os espaços vazios... Que você descubra o que te move, o que te faz bem, te faz viver plenamente... ” #life #love #friends #God




É gratidão q diz?

Nesses dias q tenho estado e ainda ficarei de repouso, tenho feito alguns balanços da vida, do ano que passou ... pra falar a verdade ainda não sei muito bem o que relatar, foi tudo e nada ao mesmo tempo, foi vazio e cheio, triste e alegre, vitórias e perdas. Continuo  a aprender que Deus é Deus independente das circunstancias.
Tanto no ano passado como no início deste ano,  tive momentos maravilhosos, outros ruins, fui supreendida com a realização de um grande desejo/sonho, mas também  percebi que deixei de lutar por outros, que ficaram adormecidos dentro de mim....
Nesse momento sei que tenho muito a agradecer e sou impulsionada  a começar um novo ano em busca do que 2019 não me permitiu,  ainda que muito eu tenha  aprendido, lembrando que  talvez tudo seja uma questão de insistir um pouco mais, de não desanimar... de voar, sair da nossa zona de conforto, se jogar nesse mundão de Deus e agarrar as oportunidades...
Começo 2020 de molho/repouso, após uma cirurgia bem sucedida e aprendendo a ficar quieta e deixar que outras pessoas cuidem de mim.  Aprendendo a ficar literalmente sem fazer nada, a não ser ler, escrever, ver tv, comer 😁🤣🤣 e bater uns papos com Deus! Fazer alguns pedidos pra Ele na esperança q pelos um seja concedido.
Espero que nesse ano Eu e Vocês, sejamos mais próximos das pessoas que  amamos, aprendamos a cuidar melhor das pessoas queridas, lutar mesmo q a força já tenha se esvaído afinal é nessa fragilidade que Deus atua!
Que a gente possa ter mais reencontros, bons papos, conversa-fiada, boas risadas, passear, viajAr. Que a gente tenha: saúde para VIAJAR, trabalho (emprego) para ganhar mais $$$$ e VIAJAR, coragem para (se tiver companhia ou não) VIAJAR, amor para namorar muito e juntos VIAJAR e que o Dólar e o Euro caiam para ficar mais barato VIAJAR kkkkkkkkkkkk e depois disso tudo escrito:  vida que segue, com repouso pra euzinha e sem pra vcs. Por ora, fico aqui , quieta, pensamentos mil e dependente de Deus e da melhor companhia do mundo - que tem  cuidado de mim: Dri ( melhor companheiro da vida), as peludas mais insuportáveis de fofas Mel e Frida Luíza, Rosimar que faz eu comer horrores, pq tá querendo me engordar fazendo comidas gostosas q sou obrigada a comer 🍽 🤣🤣🤣❤️😍❤️Munike q foi a caça de folhas muitas pra  eu  fazer chá (desbravou matas ) 😁😂😂😂 e tantas outras pessoas queridas orando e desejando melhoras. Gratidão a todxs!!!


segunda-feira, 17 de junho de 2019

Espirito Santo

O texto para reflexão é Atos 2.14a, 22-36 é parte de uma prédica missionária de Pedro (At 2.14-40), pronunciada após o evento de Pentecostes. Lá no  Evangelho de Lucas, cap. 3.4s., Jesus começa seu ministério após ter descido sobre ele o Espírito Santo em forma de pomba (batismo). Em At 2. l s. o Espírito Santo desce, desta vez em forma de línguas de fogo, dando início à comunidade de Jerusalém. Esse paralelismo redacional quer dizer: assim como Jesus atuou na força do Espírito Santo (veja ainda Lc 4.1,14,18!), também sua Igreja viverá pela força do Espírito, desta vez na pessoa do Cristo. E quando me refiro a descida do Espirito Santo não significa que as pessoas ficarão  delírio, espanto entusiástico ou a impressão de que tenhamos talvez tomado uns tragos a mais. Não é isso! É incomodo, é transformação pessoal, sobriedade, esperança, força, animo, equilíbrio, luta, fé. É deixar a paz de Deus superar todas as racionalidades. É ir contra a realidade que destrói, mata as pessoas e tudo que Deus criou. É a força dos sonhos que o evangelho de Cristo semeou em Jerusalém!

Assim como aconteceu na experiência de Jesus ao longo de seu ministério, o Espírito desceu sobre ele por ocasião do batismo (Lc 3.22), guiou-o ao deserto para ser tentado pelo diabo (Lc 4.1), conduziu-o pelas cercanias da Galiléia (Lc 4.14), iluminou-o em sua pregação inaugural em Nazaré, onde ele anunciou programaticamente a sua missão (Lc 4.18-21). Coisa semelhante se passa com os discípulos: eles só podem cumprir o mandato do ressuscitado de colocar em movimento a trajetória da Palavra de Jerusalém até os confins da terra (At 1.8) porque a promessa da assistência do Espírito acaba de se cumprir.

Aqui, o Espírito Santo não é outro senão aquele que orientou Jesus em seu ministério. Depois de ser exaltado à destra de Deus, Jesus derramou seu Espírito sobre toda a comunidade, qualificando-a para testemunhar a ação de Deus em favor de seu povo (v. 33).

Após a descida do Espírito Santo, surge a primeira pregação pós-pascal. A resposta da comunidade é fundamental (v. 37): Que faremos, irmãos? Arrependimento, Batismo e vários relatos de como viviam os cristãos na comunidade de Jerusalém. Atos 2.42-47 centraliza e reproduz de forma sintética e idealizada esse processo pós-pascal que determinará o início da Igreja cristã.

Os sinais da comunidade primitiva ainda hoje estão presentes na Igreja de Cristo. Refiro-me principalmente à doutrina dos apóstolos, à comunhão comunitária, ao partir do pão (Eucaristia) e à oração. E como isso tudo nos faz bem!

A doutrina dos apóstolos nos remete a tradição apostólica. É parte fundamental da Igreja cristã. Lucas coloca essa questão como intenção básica de sua obra. Em Lc l .4 dá início ao Evangelho com as verdades que Jesus começou a fazer e a ensinar (veja At 1.1).

Já na comunhão comunitária é preciso considerar o sentido duplo de At 4.32: um só coração e alma e, segundo, no uso social dos bens particulares. Muito se disse e se escreveu sobre esse comunismo cristão, mas não se pode considerá-lo um programa social e econômico. Trata-se muito mais de uma visão da grande família em que bens são socializados quando uma necessidade se faz presente entre os familiares. Exegetas apontam ainda que nesse texto há terminologia helenística, o que indica o interesse de Lucas em falar às pessoas mais esclarecidas da cultura grega. Outra tradição presente está na mesa partilhada com os pobres da tradição judaica. Partilhar o pão com os que não tem!

O partir do pão que traz a tradição do rito inicial da ceia judaica. Em At 20.7,11 é usado como termo técnico para designar a Ceia do Senhor. Em l Co 11.20s. Paulo também interpreta a Eucaristia mais como um exame de fé em Jesus Cristo do que como oportunidade de matar a fome. E a oração. Ah! As orações no início eram feitas no templo (v. 46) e se orientavam pelo costume das orações diárias dos judeus (At 3.1). Com o passar do tempo, desenvolveram uma forma própria de oração que transparece nos cânticos de Maria e Zacarias (Lc 1) ou em At 4.24-31, onde a fé cristã é contextualizada em seu caráter transformador e libertador. Hoje podemos fazer nossas orações em casa, na igreja ou em qualquer lugar.

Esses elementos, ainda hoje presentes de forma ideal na Igreja cristã, exaltam a riqueza da vida comunitária em suas repercussões sobre a vida pessoal e coletiva dos cristãos e cristãs. O louvor a Deus e a Cristo tem a ver com a responsabilidade social para com os outros. A comunhão eucarística é ampliada pelo culto público ao qual todos os grupos sociais e culturais devem ter acesso.

Diferentemente da exclusão judaica, o cristianismo abre-se para democratizar a fé no Deus que se revelou poderosamente em Jesus Cristo. E nisso tudo temos a fé. E a fé tem a ver com o coração. Que faremos, irmãos e irmãs? Deus ratificou a Nova Aliança em Cristo. Por fé em Cristo, a salvação se abre para toda a humanidade. Pela presença do Espírito de Cristo, na vida comunitária, é criada a Igreja que testemunhará com poder e coragem novos tempos para a fraternidade e solidariedade social.

A resposta de Jerusalém passa, pois, por arrependimento, Batismo, ensino cristão, vida comunitária, Eucaristia, oração, diaconia e louvor. Como chega isso a nós após 2 mil anos de Igreja cristã? Como está isso em relação à nossa comunidade? Pensemos e sigamos com fé e esperança! Pois o Trino Deus está conosco! Odete Liber