Perdoar é um desafio. Nem sempre é fácil para as
pessoas, seja perdoar o outro ou se perdoar. As vezes se faz de conta que
perdoou e vai-se indo. Carregando dores, pesos. A quaresma (que já passou) foi um tempo
especial para perdão e reconciliação. Mas, como dizem os sábios, sempre é tempo
para o perdão. Não sei se muitas pessoas se atentaram para esse fato. Eu tenho
aprendido e sei que é bem dolorido. Tenho aprendido que perdoar é uma
disposição. Preciso querer! Eu tenho que
estar disposta a isso. Não vou mentir, essa disposição nem sempre está comigo,
porque as vezes ainda não consigo, mas me disponho. Luto!
O Salmo 85.6 diz “Tu és bondoso e perdoador, Senhor,
rico em graça para com todos os que te invocam”, ou seja, esse salmo me diz que
‘se’ eu quiser ser como Tu és, tenho de aprender a perdoar pronta e rapidamente.
Perdoar não é esquecer. É retirar a dor de dentro da
gente. Dor que incomoda, dor que constrange, que nos enfraquece.
É bem sabido que perdoar não é sinônimo de “aceitar de
volta”; é possível me dispor a oferecer perdão até mesmo às pessoas com quem
não temos e não pretendemos ter qualquer convívio futuramente. Perdoar não é esquecer, mas significa que enxergarei
essa pessoa que me machucou, por trás do ato que aconteceu. Ou seja, primeiro a
pessoa e não o que aconteceu, até que eu consiga ver apenas a pessoa e ignorar
o ato que tanto me machucou. Desafiador! Mas a gente consegue.
As emoções não podem determinar o nível do meu perdão,
é isso que tenho aprendido lentamente, devagar e sempre. As vezes as emoções me
traem, mas em seguida lembro que o que eu perdoei reside no pensamento e na
atitude. Não posso voltar atrás (racional, emocionalmente e espiritualmente) e deixar
de perdoar. Mas posso me dar o direito de chorar copiosamente sobre o que
aconteceu e sentir pesadamente a dor que me foi infligida. E depois, seguir em
frente. É preciso seguir em frente,
deixar o peso que carrego. Porque quando escolhemos pelo “não” perdão, a única
pessoa que paga efetivamente pelo o que aconteceu sou eu, somos nós mesmos.
Posso olhar para o passado sem medo, se eu aprender
que ele passou, já foi. E, se acaso algo parecido se repetir futuramente,
precisarei renovar minha disposição de continuar em frente, olhando para o
futuro e não para o passado.
Outra coisa, com o tempo, tenho aprendido que as
memórias ficam mais brandas, suaves se eu não focar nelas minha atenção. “Se é
assim que fazes, e dos meus pecados não te lembras, não é porque esqueceste,
mas porque te recusas a repensar”. Devo fazer o mesmo.
Preciso crer em mim mesma e no outro, ainda que
pessoas possam me ferir propositalmente (pode acontecer). No entanto, preciso dar uma chance a mim e ao
outro, acreditando que não é assim a maioria das vezes, porque as pessoas
simplesmente são frágeis e se equivocam, erram. Preciso crer que nenhuma pessoa,
de bom grado, ofenderia a outra só pelo gosto de magoar, ofender. Não posso
carregar comigo a responsabilidade da maldade da outra pessoa. Mas posso
escolher entre seguir em frente ou permanecer com essa dor.
A ciência já comprovou o quanto o não perdoar
prejudicam a vida humana. A falta do perdão gera mágoa e rancor – eles têm sido
muito associados à ansiedade, depressão, obesidade, hipertensão e até ao
câncer. E me lembro daquele pensamento antigo, “não perdoar, é como tomar um
copo de veneno esperando que o vizinho morra”. Também sei que eu e ninguém deve
viver tão prevenida a ponto de perder a oportunidade de um encontro simples e
puro, com alguém só porque se foi machucada, ferida uma, duas, três vezes
antes... Diz uma canção “Somos eu e tu, Sou só eu e tu, Deixa o coração aberto”.
Vamos em frente!
Então, quem perdoa sente-se livre, essa é uma lição
fantástica. Pois quem retém o perdão e fica ruminando a dor, o rancor, a mágoa,
fica escravo de quem o feriu. Quem perdoa é livre para seguir adiante sem olhar
para trás. Aprendi, sigo aprendendo, sigo tentando colocar em prática, mesmo com
os olhos marejados em lágrimas, porque ser livre é muito melhor que ser prisioneira.
@Odete @Liber
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