segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

EDUARDO GALEANO - Carta al Señor Futuro















Para começar bem essa semana...Eduardo
Galeano. Vale a pena ler.


Prezado Senhor Futuro,



Com a minha maior consideração: 



Estou lhe escrevendo esta carta para pedir-lhe um favor. O senhor saberá desculpar-me o incômodo. 



Não,
não tema, não é que queira conhecê-lo. O senhor há de ser muito
solicitado, haverá tanta gente que quererá ter o prazer; mas eu não.
Quando alguma cigana me toma a mão para ler-me o porvir, saio correndo
em disparada antes que ela possa cometer tal crueldade.




E,
no entanto, você, misterioso senhor, é a promessa que nossos passos
perseguem querendo sentido e destino. E é este mundo, este mundo e não
outro mundo, o lugar onde o senhor nos  espera. A mim e aos muitos que
não acreditamos nos deuses que nos prometem outras vidas nos mais
longínquos hotéis de Mais Além.




E
aí está o problema, senhor Futuro. Estamos ficando sem mundo. Os
violentos o chutam, como se fosse uma bola. Jogam com ele os senhores da
guerra, como se fosse uma granada de mão; e os vorazes o espremem, como
se fosse um limão. A este passo, temo, mais cedo do que tarde, o mundo
poderá ser não mais do que uma pedra morta girando no espaço, sem terra,
sem ar e sem alma.




Disso
se trata, senhor Futuro. Eu lhe peço, nós lhe pedimos, que não se deixe
desalojar. Para estar, para ser, necessitamos que o senhor siga
estando, que o senhor siga sendo. Que o senhor nos ajude a defender a
sua casa, que é a casa do tempo.




Quebre-nos esse galho, por favor. A nós e aos outros: aos outros que virão depois, se tivermos depois. 



Saúda-te atentamente, 



Um Terrestre



Eduardo Galeano

domingo, 9 de fevereiro de 2014

01 - Aline Barros - Deus do Impossível

meu Deus é o Deus do impossível
Jeová Jiré o grande El Shadai
Que abriu o Mar Vermelho
E ao seu povo fez passar
Que da rocha água limpa fez brotar

O meu Deus é o Deus do impossível
Que liberta encarcerados das prisões
Faz da estéril mãe de filhos
Restaura a alma do ferido
E dilata o amor nos corações

Que dá vista aos cegos
E aos surdos faz ouvir
Faz a tempestade se acalmar
Andou por sobre o mar
E aos mudos fez falar
Paralíticos e coxos fez andar

O meu Deus é o Deus do impossível
É o mesmo hoje e sempre há de ser
O meu Deus é o Deus do impossível
E fará o impossível pra você
Ele fará o impossível por você.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

"A Lógica da Criação", de Oswaldo Montenegro. Trecho do filme "Solidões"





A Lógica da Criação




O mérito é todo dos santos

O erro e o pecado são meus

Mas onde está nossa vontade

Se tudo é vontade de Deus


Apenas não sei ler direito

A lógica da criação

O que vem depois do infinito

E antes da tal explosão


Por que que o tal ser humano

Já nasce sabendo do fim

E a morte transforma em engano

As flores do seu jardim


Por que que Deus cria
um filho

Que morre antes do pai

E não pega em seu braço amoroso

O corpo daquele que cai


Se o sexo é tão proibido

Por que ele criou a paixão

Se é ele que cria o destino

Eu não entendi a equação


Se Deus criou o desejo

Por que que é pecado o prazer

Nos pôs mil palavras na boca

Mas que é proibido dizer

(Ora pro Nobis (2x))

Porque se existe outra vida

(Ora pro Nobis)

Não mostra pra gente de vez

Por que que nos deixa nos escuro

Se a luz ele mesmo que fez


Por que me fez tão errado

Se dele vem a perfeição

Sabendo ali quieto, calado

Que eu ia criar confusão


E a mim que sou tão
descuidado

Não resta mais nada a fazer

Apenas dizer que não entendo

Meu Deus como eu amo você.


 


 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

QUEM SOU? de Dietrich Bonhoeffer

As palavras abaixo, são de um  poema, do pastor assassinado por Hitler. E creio que as perguntas dele, são as nossas, pelo menos, as minhas...

Quem sou?
 Frequentemente me dizem que
 saí do confinamento de minha cela
 tranquilo, alegre e firme
 como um senhor de sua mansão de campo.
 Quem sou?
 Frequentemente me dizem
 que costumo falar com os guardiões da prisão confiada,
 livre e claramente,como se eu desse as ordens.
 Quem sou?
 Também me dizem
 que superei os dias de infortúnio
 orgulhosa e amavelmente, sorrindo,
 como quem está habituado a triunfar.
 Sou, na verdade, tudo o que os demais dizem de mim?
 Ou sou somente o que eu sei de mim mesmo?
 Inquieto, ansioso e enfermo,como uma ave enjaulada,
 pugnado por respirar, como se me afogasse,
 sedento de cores, flores, canto de pássaros,
 faminto de palavras bondosas, de amabilidade,
 com a expectativa de grandes feitos,
 temendo, impotente, pela sorte de amigos distantes,
 cansado e vazio de orar, de pensar, de fazer,
 exausto e disposto a dizer adeus a tudo.
 Quem sou? Esse ou aquele?
 Um agora e outro depois?
 Ou ambos de uma vez?
 Hipócrita perante os demais
 e, diante de mim mesmo, um débil acabado?
 Ou há, dentro de mim,algo como um exército derrotado
 que foge desordenadamente da vitória já alcançada?
 Quem sou?
 Escarnecem de mim essas solitárias perguntas minhas;
 seja o que for, Tu o sabes, ó Deus: sou Teu!
(Dietrich Bonhoeffer)