domingo, 23 de setembro de 2012

Jó: fascinante escrito da história humana


O livro de Jó, nos apresenta um homem sofredor, e começa afirmando que ele era pai de 7 filhos e três filhas, que morrem tragicamente. No fim, porém, capitulo 42:13-14, a família reaparece como dom de Deus.
Diz o texto 42: 13-17:

Também teve sete filhos e três filhas. E chamou o nome da primeira Jemima (Rola), e o nome da segunda Quezia (Cassia), e o nome da terceira Quéren-Hapuque (Azaviche). E em toda a terra não se acharam mulheres tão formosas como as filhas de Jó; e seu pai lhes deu herança entre seus irmãos. E depois disto viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos, e aos filhos de seus filhos, até à quarta geração. Então morreu Jó, velho e farto de dias. 
Esse é o único lugar da Bíblia em que um pai dá nome às filhas. Rola significa pomba brilhante; Cássia é um tipo de perfume e Azeviche é como o rímel para embelezar os contornos dos olhos e os cílios.
Na Bíblia, os nomes são significativos, pois enfatizam a importância da pessoa desde o seu nascimento. Jó atribuiu valor as três filhas e elas se tornaram herdeiras. Ele ainda questiona todos os costumes de seu tempo e termina enfraquecendo o patriarcalismo.
No cap. 1:20-22, diz:

Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR. Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.
Nesse texto temos a figura de Jó em seu sofrimento. Evoca a figura da mãe, ao falar do ventre que lhe deu a vida. Para qualquer ser humano frágil, limitado e passageiro, o ventre materno é a fonte da vida. Essa é a condição de Jó em seu sofrimento extremo, conforme o capitulo 3:3ss:

Pereça o dia em que nasci, e a noite em que anunciaram:’nasceu um menino’! [...] Pois não fechou a porta do ventre que me trouxe, e não escondeu dos meus olhos tantos males! Por que não morri no ventre materno, ou não expirei logo ao sair das entranhas? Por que em dois joelhos fui acolhido e em dois peitos, amamentado? Pois agora, dormindo, eu estaria calado e repousaria no meu sono.
Em Jó, também temos a apresentação da esposa dele, e de maneira dramática. Depois de perder todos os bens, a casa, os 10 (dez) filhos, Jó é atingido por uma doença de pele. Sua mulher, que também perdeu os filhos, casa e sustento, volta-se desesperada para o marido e clama:

Ainda continuas na tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre de uma vez! Ele respondeu: Falas como uma insensata. Se recebemos de Deus os bens, não deveríamos receber também os males?
As palavras da mulher são duras criticas e Jó as critica. Mas, nos últimos diálogos do livro, ele próprio chega a entender o que sua mulher/esposa queria dizer. O problema é este: como entender o sofrimento dos inocentes e íntegros e, ao mesmo tempo, afirmar a bondade e misericórdia de Deus?
A resposta de Jó é uma procura do sentido de seu sofrimento. Os males não vêm de Deus. A esposa mostra ao marido, desde o começo do livro, que ele não conhece a Deus de verdade. Ela abre os olhos dele para trilhar o caminho que leva a um conhecimento mais profundo e a um amor mais verdadeiro de Deus.
No capitulo 14:1-2:

O ser humano, nascido da mulher, tem a vida curta, mas cheia de inquietação. É como a flor que se abre e logo murcha; foge como sombra, e não permanece.
Na Bíblia, entre todos os termos usados para se falar dos seres humanos, o mais comum é ‘filho do homem’, expressão que pretende contrastar a mortalidade humana com a imortalidade de deus. Numa sociedade patriarcal, o homem é a medida do verdadeiro ser humano. Jó, porém, fala da mortalidade humana em termos femininos. Em linguagem poética, ele lamenta a brevidade e a dificuldade da vida humana, ou seja, do mortal, nascido de mulher.
No capitulo 17: 1-16, temos o auge da dor do inocente que sofre no meio de uma sociedade a qual entende o sofrimento como castigo pelo pecado. E Jó faz seu clamor.
Empobrecido, doente, marginalizado, incompreendido pelos amigos, objeto de espanto e de zombaria, Jó se encontra á beira do desespero. Assim, a própria morte é vista por ele como maneira de escapar do sofrimento. Chega a tal intimidade com a morte que o esterco, ou tumulo, segundo outras traduções, chega a tornar-se seu pai e os vermes, sua mãe e sua irmã, tão familiares são para ele as dores que sofre.
O grito final é uma suplica pedindo o dom da esperança. No fim de sua conversão, Jó encontrará essa virtude em Deus. Nesse momento ele ainda está a procura.
No capitulo 19:7-18, é mostrado o extremo abandono de Jó no seio de sua família. Temos um Jó cercado pela violência de todos os seus parentes e amigos, e ainda abandonado por seus serv@s. Ele é repugnante até para sua própria casa. Nessa situação de abandono total, Jó faz o seu ato de esperança em Deus, que virá salva-lo e refazer-lhe a vida plena. No cap. 19:25-26, temos uma bela oração de esperança.

 Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne verei a Deus...   
 Já em Jó 31:35-40, temos o sofrido personagem em seu protesto de inocência, confessando sua integridade pessoal. Ele não se desviou da justiça, nem em seus desejos mais íntimos. No decorrer do capítulo, Jó confessa a deus que sempre foi fiel no seu casamento. Fez justiça para com seus empregados e sempre ajudou a viúva necessitada.    
O livro de Jó, em seguida, a imagem de mãe para ensinar que todo o mundo criado vem do mais intimo da vida de Deus. A criação é como o nascimento de uma criança, cuja vida vem do útero de sua mãe. Esse é o ensinamento do poeta, no cap. 38:4ss.
A figura da mãe, fonte de vida e do amor torna-se então a imagem principal para revelar a vida intima de Deus: ele é a fonte de vida e de amor sem limites, tal como as entranhas da mãe. A mulher é a imagem do deus invisível, principio do mundo criado e da nova criação. A mulher é valoriza e citada, a ordem estrutural é quebrada em Jó. Que possamos fazer isso em nossa caminhada como mulheres e cristãs. Odete Liber

Mercedes Sosa - Sólo le pido a Dios


Milton Nascimento e Mercedes Sosa - Volver a Los 17


Mercedes Sosa Gracias a La Vida


Almir Sater - Tocando em Frente Ando devagar por que já tive pressa...


Renato Teixeira, Sergio Reis e Paula Fernandes (Legendado)


sábado, 22 de setembro de 2012

música

Missão numa perspectiva anglicana


Missão numa perspectiva anglicana
Segundo D. Tutu, a "missão é, em primeiro lugar, não o que nós, mas o que Deus faz".  A igreja é chamada a testemunhar o amor de Deus conhecido em Jesus Cristo. Este testemunho é expresso em servir, proclamar e compartilhar a vida comum e adorar.  Deste modo a missão está sempre presente na igreja e em nossas vidas, porque tudo que fazemos, fazemos como cristãos numa forma de testemunho , consciente ou não.  A igreja e nós como parte dela, existe para dar testemunho de Jesus Cristo como Senhor.
Nesse sentido, missão numa perspectiva anglicana é o objetivo da igreja (a partir de sua identidade), o que ela pretende, é sua visão. É o jeito da igreja proclamar as boas novas do Reino de Deus. Ou seja, missão é o anuncio da graça e o juízo de Deus para os seres humanos para que sejam novas criaturas, e com isso estruturas sociais fiquem a serviço da justiça, do amor, da paz e toda a criação fique salvaguardada em sua integridade.
Missão não é o que o cristão faz pelos pobres, pelos que estão a margem, mas sim é o agir de Deu por meio da igreja, por meio de nós.  E que essa missão deve ser holística, e como diz D. Jubal,
[...] envolve não somente anunciar, mas ensinar, curar e reconciliar, com a responsabilidade de buscar transformar a ordem social [...] Proclamação e serviço são vistos como inseparáveis e nossa Igreja está sendo encorajada a tornar-se uma igreja missionária através de atividades que ultrapassem o cuidado pastoral e a formação. Somos chamados a ser uma Igreja serva, e para isso devemos ter estruturas que nos liberem para a tríplice tarefa do testemunho (martyria), serviço (diakonia) e comunhão (koinonia), como o transbordamento da experiência pessoal do encontro com Cristo.
Por isso, não há como ser cristão anglicano e não partilhar com outras pessoas a alegria de ser cristão, pois “A boca fala do que o coração está cheio” (Lc 6.45). Essa partilha, que é o testemunho cristão, pode ser publico ou privado, dentro e fora das paredes da igreja, expressos em palavras e atos, pessoalmente e por escrito, por pessoas, grupos ou grandes multidões, por cuidado silencioso, por uma celebração vibrante ou por um simples ato de convidar alguém para um cafezinho e partilhar da fé em Cristo e os feitos desse Deus em nossas vidas e isso só acontece se tivermos fé no Criador, pois afinal “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus”. Logo, as relações políticas, econômicas e religiosas da sociedade em que estamos inseridos anunciam ou denunciam a nossa espiritualidade, fé e missão.
Pode-se dizer que a missão e a espiritualidade numa perspectiva e num contexto anglicano não se separam, já que a missão é espiritual e a espiritualidade é missionária, e com isso, a prática humana da missão é a resposta a experiência espiritual para com Deus. Vale ressaltar que sem essa interligação a espiritualidade se torna vazia de significado, o que a faz ser um misticismo alienado e a missão passa a ser um mero ativismo eclesiástico, vazio e sem sentido. Por isso, J. Wesley dizia que “A autêntica experiência de salvação é transformadora. Ou impacta a orientação total da vida ou não é autêntica", pois a missão está conectada a espiritualidade, e esta devem ser concreta e com isso, transformadora, ou seja, transforma o mundo que está a nossa volta.
Não se pode perder de vista que a Igreja existe no poder do Espírito para Proclamar as Boas Novas do amor reconciliador de Deus em Jesus Cristo; Batizar e nutrir a quem passa a crer em Cristo; Responder às necessidades humanas com serviço zeloso; Trabalhar pela transformação da sociedade de acordo com os valores do Evangelho e Salvaguardar a integridade da criação e a renovação da vida na terra. É preciso incitar no processo diário o ato de amar e trabalhar com outros, ou seja deve comprometer-se com a "missio dei" e vivenciando a  nossa fé Trinitária, pois "Cremos em um Deus como Criador e Sustentador, Redentor e Doador da Vida". Somos uma comunidade de batizad@s, chamad@s para a fé e esperança e com isso, existimos para brilhar como luzes do mundo para a glória de Deus, preparando o caminho para a liberdade que há Cristo e para que o amor de Deus seja revelado no meio de nós.
Somos tod@s chamados a proclamar as boas novas. Deus chama a tod@s para a uma vida nova no poder da ressurreição de Cristo, que é precedida pela morte. Morte para tradições apreciadas, morte para preconceitos inveterados; morte para um ego antiquado, e então uma chamada para uma vida nova e revitalizada em serviço e esperança. E como disse D. Helder Camara:
Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu.  É parar de dar volta ao redor de nós mesmos como se fossemos o centro do mundo e da vida.  É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: A humanidade é maior.  Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros. É, sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los.  E, se para descobri-los e amá-los, é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo.
Missão numa perspectiva anglicana é proclamar as boas novas, é proclamar o shalom de Deus, o reino da totalidade, da paz, da restauração, da cura e da justiça.  E como disse Queiroz, [...] Quem assim ama, vive em missão permanente".

ALGODÃO

NUVENS SÃO COMO ALGODÃO
Amo ficar olhando para as nuvens, quando viajo de avião. Me lembra a infância, quando ficava deitada (numa pedra, em meio ao pasto) olhando para as nuvens. Ficava vendo, imaginando tanta coisa: animais, flores, arvores, avião... Ah, mundo dos sonhos... E continuo a gostar disso!


BOA MÚSICA E AMIZADES

Ontem, sexta feira á noite, ouvimos a cantora Raquel Passos, cantora da terra capixaba, cantando com José Elias.
 




                                                                   Muito bom!!!!!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Por trás da Palavra: “QUANDO ENTRAR SETEMBRO!”

Apresentação Musical “Raquel Passos e José Elias” (MPB)

Data: 21 de setembro de 2012 (sexta-feira), às 20h.
Local: Restaurante Filleto
(Avenida Espírito Santo, 07 - Jardim América Cariacica/ ES)
Telefone: (27) 3091-5555.

comidas que fiz e gostei:








Uma voz clama no deserto: Fé na ousadia de Deus!


Uma voz clama no deserto: Fé na ousadia de Deus! (Mc 1,1-8) 

Esta reflexão é sobre o segundo domingo do Advento. Advento é tempo de reflexão diante do plano de Deus para a humanidade. É tempo de refletir como estamos orientando nossas vidas em relação ao propósito de Deus. Advento também é vinda, chegada. Ele vem. Jesus vem!

É um período especial, pois antecede o Natal, e traz nada menos que três desafios à cristandade. Esse período (1) quer nos lembrar do Advento histórico, passado. (2) Quer nos lembrar do Senhor que quer ser, hoje, nosso hóspede, portanto, o aspecto presente. (3) Finalmente, quer nos remeter ao futuro: o aspecto escatológico do mesmo.

O Advento é época de recuperar os grandes feitos de Deus. Eles são fundamentais para a nossa fé cristã e orientadores para a nossa convivência na comunidade e no mundo, em testemunho e serviço. Recuperar os fatos, no Advento, significa, conforme Isaías, novo fascínio, força e vigor para superar nossos cansaços, desesperanças, desânimo, vontade de desistir e cultivar nossa fé - esperança no Senhor. Advento é esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas. É esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante de tantas coisas que afligem nossa alma e ferem nosso corpo.

Advento é, por isso, época de não só pensar em doces e presentes, mas, acima de tudo, é convite para olhar em direção ao que realmente importa, ou seja, a oferta da vida com esperança, em Cristo Jesus. É tempo de encontrar o novo.

O "evangelho" de Jesus não vem dos palácios

Os primeiros versos do Evangelho segundo Marcos retomam a profecia do Antigo Testamento e a conduzem ao Novo, ao evento do Espírito. O Espírito perfaz o novo! Marcos ressalta que Jesus Cristo, o Filho de Deus, é a Boa Nova da salvação para a humanidade. Como o mensageiro antigo (Isaías 52,7), João Batista proclama o alegre anúncio, que culmina em Jesus (Marcos 1,14-15) e ressoa nas comunidades cristãs como apelo a anunciar a mensagem de libertação no mundo inteiro (Marcos 13,10; 14,9).

Sabe-se que, para o evangelista, as palavras e ações de Jesus são "evangelho". "Evangelho" é uma palavra que era utilizada pelas autoridades para anunciar as suas ações. Contudo, para o evangelista Marcos, o "evangelho" de Jesus não vem dos palácios, mas da periferia de Nazaré (W. Marxen). O evangelho é alegria, não é imposto, como o evangelho imperial. Aqui nos é apresentado Jesus Cristo como "Filho de Deus", uma expressão que é central para o Evangelho segundo Marcos (cf. Marcos 1,11; 15,39).

Em seguida, Marcos 1,2-8 apresenta o precursor, João Batista. Jesus está na linha da profecia! João Batista é o profeta anunciado em Isaías. Restaura Israel a partir do deserto, como Moisés o fez com o povo que saiu do Egito, como tinha sido a prática de Elias no Horebe. João Batista, o profeta, tem seu foco no deserto. Para a história de Israel, o deserto é símbolo de vida, de resistência, vida restaurada, nova.

A profecia de João Batista apela à conversão, ao arrependimento. Isso é antiga tradição profética. O arrependimento é o eixo da renovação.

Fé na renovada ousadia de Deus e olhos fixos no futuro

O povo de Deus sempre teve os olhos fixos no futuro, com esperança na vinda definitiva do Senhor (Isaías). Marcos nos chama a olhar à nossa volta e enxergar dentro de nossa história a vinda de Deus: João é o novo Elias (1 Reis 1,8), isto é, a profecia que volta a ser proclamada, o povo se reúne e se organiza para recomeçar como nos tempos do "deserto", enquanto os poderosos se abalam por se sentirem desmascarados (Mateus 3,7). Em Jesus de Nazaré, é Deus mesmo quem opera a restauração das pessoas.

Assim como se deu com Elias, João foi perseguido e morto covardemente, mas a palavra ressurge em Jesus (Marcos 1,14-15; 6,16). Também Jesus foi perseguido e assassinado, mas a caminhada da Palavra prossegue com seus discípulos e discípulas.

Ouvir de Elias, de João, de Jesus... é ouvir falar da renovada ousadia de Deus, a ousadia da liberdade, que não aceita calar-se nunca, nem teme os poderosos do mundo. Sempre de novo a Palavra ressurge para anunciar que são possíveis "novos céus e nova terra" (2 Pedro 3,13; Marcos 1,9-13; 9,2-13). A Palavra volta a levantar-se para denunciar os obstáculos que se antepõem ao propósito de Deus e proclamar que só há uma maneira de viver nessa nova realidade: "endireitar" os caminhos, reconhecer os erros pessoais e coletivos, refazer as relações pelo perdão, a igualdade e a partilha (Lucas 3,10-14). Aí, sim, o "deserto" se transforma em larga estrada, em jardim do Senhor.

O deserto era o lugar onde frequentemente se refugiava quem se sentia à margem do sistema e se punha na oposição. Lá estavam os essênios, pessoas que romperam com o templo e se consideravam vanguarda do novo povo. Para lá se dirigia quem se proclamava profeta ou messias e pretendia organizar a resistência popular. Por lá andavam guerrilheiros (sicários, zelotas) e bandidos. O movimento de João é de protesto e resistência, por isso foi preso e morto. Herodes o temia.

Batismos e rituais de purificações eram práticas comuns no ambiente dos fariseus e dos essênios. No movimento de João não são os sacrifícios que purificam do pecado, mas a confissão e o arrependimento, a mudança de vida. O povo não peregrina em direção ao templo, mas sai das cidades, como num êxodo, em direção ao deserto. É como se fosse preciso sair de novo do Egito, "a casa da servidão". E, pelo Jordão, entrar na Terra Prometida. Sob a expressão "remissão dos pecados" está escondida a antiga esperança da "remissão das dívidas" prevista para o Ano do Jubileu (Levítico 25). O novo tempo anunciado por João é a possibilidade, com Jesus, de restauração radical da convivência do povo em sociedade, segundo os ideais da igualdade e da justiça. Para isso é que se prevê a "imersão" (batismo) no Espírito Santo. Será como passar pelo fogo (Mateus 3,11; Malaquias 3,2) que purifica e destrói, para que algo novo possa surgir. Essa novidade era esperada desde o final do exílio na Babilônia e é dela que falavam profetas e profetisas no grupo de discípulos de Isaías (Is 40-66).

Deus sabe o caminho que devemos andar

João Batista, o precursor, propõe a conversão como meio para preparar o caminho do Senhor e acelerar a chegada de um mundo novo de justiça. Deus caminha pelo deserto da história, ensinando-nos a endireitar as veredas através de gestos solidários de amor e paz.

Dietrich Bonhoeffer dizia: "Eu não entendo os Teus caminhos, Senhor. Mas Tu sabes os caminhos que devo andar!" E é verdade! Deus sabe o caminho que devemos andar. Sabe, quanto mais procuro vivenciar e entender as coisas que Deus quer de mim, mais me surpreende o quanto Deus vem ao meu, ao nosso encontro nas áreas mais essenciais e carentes da vida: "significado, pertencimento, saúde, liberdade e comunidade". É que Deus - que é um Deus de amor e, consequentemente, de salvação - vem ao nosso encontro nas áreas mais necessitadas da existência humana e comunitária.

Por isso, "Ficai atentos, preparem-se". Ficai Atentos! A Esperança não pode esmorecer, mas resistir. Esperança Teimosa! Nascida do discernimento. Construída mesmo no tempo de sofrimento e esmorecimento! O tempo que vivemos é tempo de resistir pela solidariedade ao egoísmo e ao individualismo que nos consomem. Ser sensível é ser humano! Olhar o mundo sem indiferença. Com compaixão e afeto que movam à transformação! Vivamos intensamente este Tempo do Advento! Pois o Advento nos ensina: Não canse de esperar, o que esperamos vai chegar!
Odete Liber de Almeida Adriano
(texto publicado pelo CEBI, no site http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=21&noticiaId=2578