Missão numa perspectiva
anglicana
Segundo
D. Tutu, a "missão é, em primeiro lugar, não o que nós, mas o que Deus
faz". A igreja é chamada a
testemunhar o amor de Deus conhecido em Jesus Cristo. Este testemunho é
expresso em servir, proclamar e compartilhar a vida comum e adorar. Deste modo a missão está sempre presente na
igreja e em nossas vidas, porque tudo que fazemos, fazemos como cristãos numa
forma de testemunho , consciente ou não.
A igreja e nós como parte dela, existe para dar testemunho de Jesus
Cristo como Senhor.
Nesse
sentido, missão numa perspectiva anglicana é o objetivo da igreja (a partir de
sua identidade), o que ela pretende, é sua visão. É o jeito da igreja proclamar
as boas novas do Reino de Deus. Ou seja, missão é o anuncio da graça e o juízo
de Deus para os seres humanos para que sejam novas criaturas, e com isso
estruturas sociais fiquem a serviço da justiça, do amor, da paz e toda a
criação fique salvaguardada em sua integridade.
Missão
não é o que o cristão faz pelos pobres, pelos que estão a margem, mas sim é o
agir de Deu por meio da igreja, por meio de nós. E que essa missão deve ser holística, e como
diz D. Jubal,
[...]
envolve não somente anunciar, mas ensinar,
curar e reconciliar, com a responsabilidade de buscar transformar a ordem
social [...] Proclamação e serviço são vistos como inseparáveis e nossa Igreja
está sendo encorajada a tornar-se uma igreja missionária através de atividades
que ultrapassem o cuidado pastoral e a formação. Somos chamados a ser uma
Igreja serva, e para isso devemos ter estruturas que nos liberem para a
tríplice tarefa do testemunho (martyria), serviço (diakonia) e comunhão
(koinonia), como o transbordamento da experiência pessoal do encontro com
Cristo.
Por isso, não há como
ser cristão anglicano e não partilhar com outras pessoas a alegria de ser
cristão, pois “A boca fala do que o coração está cheio” (Lc 6.45). Essa
partilha, que é o testemunho cristão, pode ser publico ou privado, dentro e
fora das paredes da igreja, expressos em palavras e atos, pessoalmente e por
escrito, por pessoas, grupos ou grandes multidões, por cuidado silencioso, por
uma celebração vibrante ou por um simples ato de convidar alguém para um
cafezinho e partilhar da fé em Cristo e os feitos desse Deus em nossas vidas e
isso só acontece se tivermos fé no Criador, pois afinal “Nem só de pão viverá o
homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus”. Logo, as relações
políticas, econômicas e religiosas da sociedade em que estamos inseridos
anunciam ou denunciam a nossa espiritualidade, fé e missão.
Pode-se dizer que a missão
e a espiritualidade numa perspectiva e num contexto anglicano não se separam,
já que a missão é espiritual e a espiritualidade é missionária, e com isso, a
prática humana da missão é a resposta a experiência espiritual para com Deus.
Vale ressaltar que sem essa interligação a espiritualidade se torna vazia de
significado, o que a faz ser um misticismo alienado e a missão passa a ser um
mero ativismo eclesiástico, vazio e sem sentido. Por isso, J. Wesley dizia que
“A autêntica experiência de salvação é transformadora. Ou impacta a orientação
total da vida ou não é autêntica", pois a missão está conectada a espiritualidade,
e esta devem ser concreta e com isso, transformadora, ou seja, transforma o mundo
que está a nossa volta.
Não se pode perder de
vista que a Igreja existe no poder do Espírito para Proclamar as Boas Novas do
amor reconciliador de Deus em Jesus Cristo; Batizar e nutrir a quem passa a
crer em Cristo; Responder às necessidades humanas com serviço zeloso; Trabalhar
pela transformação da sociedade de acordo com os valores do Evangelho e Salvaguardar
a integridade da criação e a renovação da vida na terra. É preciso incitar no processo
diário o ato de amar e trabalhar com outros, ou seja deve comprometer-se com a
"missio dei" e vivenciando a nossa fé Trinitária, pois "Cremos em um
Deus como Criador e Sustentador, Redentor e Doador da Vida". Somos uma
comunidade de batizad@s, chamad@s para a fé e esperança e com isso, existimos
para brilhar como luzes do mundo para a glória de Deus, preparando o caminho
para a liberdade que há Cristo e para que o amor de Deus seja revelado no meio
de nós.
Somos tod@s chamados a
proclamar as boas novas. Deus chama a tod@s para a uma vida nova no poder da ressurreição
de Cristo, que é precedida pela morte. Morte para tradições apreciadas, morte
para preconceitos inveterados; morte para um ego antiquado, e então uma chamada
para uma vida nova e revitalizada em serviço e esperança. E como disse D. Helder
Camara:
Missão é partir,
caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no
nosso Eu. É parar de dar volta ao redor
de nós mesmos como se fossemos o centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear nos problemas do
pequeno mundo a que pertencemos: A humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não devorar
quilômetros. É, sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e
encontrá-los. E, se para descobri-los e
amá-los, é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então missão é
partir até os confins do mundo.
Missão numa perspectiva
anglicana é proclamar as boas novas, é proclamar o shalom de Deus, o reino da
totalidade, da paz, da restauração, da cura e da justiça. E como disse Queiroz, [...] Quem assim ama, vive
em missão permanente".
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