Espiritualidade é o cultivo daquilo que é próprio do espírito que é sua
capacidade de projetar visões unificadoras, de relacionar tudo com tudo, de
ligar e re-ligar todas as coisas entre si e com a Fonte Originária de todo ser.
Para nós: Deus!
Espiritualidade não é pensar Deus, mas sentir Deus mediante o coração e
fazer a experiência de sua presença e atuação a partir do coração. Ele é percebido como entusiasmo (em grego
significa ter um deus dentro) que nos toma e nos faz saudáveis e nos dá a
vontade de viver e de criar continuamente sentido de existir e de trabalhar.
Espiritualidade tem haver com experiência e não com doutrina, dogmas,
ritos que são apenas caminhos. Por isso,
gosto de pensar na espiritualidade enquanto uma relação de experiências
adquiridas, do conhecimento e do saber com a vida prática, com a vida no seu
dia a dia. Ou seja, de pensar na conexão do interior com o exterior, o dentro e
o fora. A espiritualidade nos desafia a sermos uma pessoa que evidencia esta
conexão em todos os momentos da vida, que trará uma transformação que acenderá
uma chama interior que produz luz e calor, que nos dará mil razões para
vivermos como filh@s de um Deus de amor..
Assim, no que concerne aos ministérios desenvolvidos, a espiritualidade
une o sentido de vocação com os atos ministeriais praticados. Ressalto o tripé
carisma, caráter e caridade (amor) ao escrever sobre espiritualidade.
Sabe-se que sem carisma não há qualidade e autoridade no ministério que
se exerce, e sem caráter não há autoridade nas ações pastorais e ministeriais e
sem caridade (amor) não dá para chegar ao coração, ao amago das pessoas com as
quais se trabalha.
Assim, escrever ou falar sobre carisma é referir-se ao ato de
‘reconhecimento e de mandato’ dado pela Igreja á alguém, no caso @ pastor/a. O
carisma, seja do ministério pastoral ou dos ministérios laicos, é reconhecido
pela comunidade cristã e desenvolvido em sintonia com a eclesiologia. Carisma é
o dom através do qual o Espírito Santo age na vida d@ cristão/ã e da Igreja na
medida em que @ cristão/ã se entrega a Deus em resposta ao Seu amor.
O carisma se confirma de forma comunitária e não individualizada ou
individualista, pois ele se expressa por meio da dedicação da pessoa ao serviço
de Deus e por meio da Sua Graça. Ou seja, o carisma que confere autoridade ao
ministério, não é o pessoal/individual, não são os dons pessoais ou os talentos
da pessoa, e sim o mandato, a ordenação ou a consagração realizada pela
comunidade de fé. E ouso dizer que isso é mais que ser ordenad@ por uma
instituição, requer reconhecimento da comunidade de fé. Também, sabe-se que o ministério “carismático”
é aquele que tem o carisma dado pela Igreja e é seguido por condutas e atitudes
que comprovam um bom caráter, um conjunto de boas qualidades. Vemos isso nas cartas pastorais de I e II
Timóteo e Tito, o autor apostólico realça muitas qualidades que se referem ao
comportamento ético e relacional dos líderes da comunidade de fé. Refere-se,
assim, de caráter e de integridade na vida pessoal, familiar e social.
Nesse sentido, falar do carisma é o mesmo que falar da integridade da
pessoa, já que o que dá valor e autoridade ao carisma recebido por ordenação e
consagração é a integridade que a pessoa evidencia. E isso fica evidente na
forma de comportamento ético, na responsabilidade, na transparência,
honestidade, respeito, capacidade para perdoar, confiabilidade e amor ao que
faz. Sem esta integridade a pessoa que desempenha um determinado ministério,
mesmo que possua o carisma, não possuirá autoridade e muito menos legitimidade
para suas ações ministeriais. Da mesma forma que na figura da espiritualidade
há conexão do interior com o exterior, deve existir conexão entre o carisma
dado pela Igreja e o caráter da pessoa que recebe o mandato (carisma). O
carisma sem caráter não tem autoridade/substancia e qualidade. Ou seja, de nada
vale.
E caridade é essencial Optei pelo termo caridade no lugar de amor,
porque nos dias atuais o amor tem sido escrito, falado e vivido de forma banal.
Nos dias atuais os jornais, revistas, filmes, musicas e as pessoas tem falado
tanto de amor, mas tudo tem ficado distante do amor que Deus demonstrou por
nós. Ou, do amor descrito pelas sagradas escrituras e que se refere ao ato de
entregarem-se pelos outros, perdoar, pedir perdão, restauração, andar junto,
sofrer com e pelo outro, etc. Isso tudo parecesse que ficou no passado, como
meras letras escritas e lidas numa folha de papel.
O amor hoje se transformou simplesmente numa virtude teologal quando
deveria ser um fruto sempre presente na vida d@ cristão/ã, seja ele/a leig@ ou
clérigo@. E me recordo de uma muito cantada em minha época de jovem na
igreja, que fala da volta ao primeiro amor, (Ap 2.4), e sem rodeios digo que
ela tem razão: a Igreja precisa voltar ao primeiro amor e começar de novo suas
boas obras na ótica do ágape.
Sabe-se que não é possível amar como Cristo amou, mas é possível que
exista pelo menos caridade para com os mais fracos, caridade para com os
diferentes, caridade para com o que pensam de forma diferenciada e que ela seja
para integrar e incluir os que ficam marginalizad@s. E isso me traz a memoria
as palavras do apóstolo Paulo dita aos tessalonicenses: “admoesteis os
insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejas longânimos
para com todos” (I Ts 5.14). Estas palavras inspiram atitudes de caridade/amor/compaixão.
Vale citar que caridade pode ser complacência, benevolência ou compaixão
e caridos@ seria aquela pessoa que procura identificar-se com o amor de Deus e
se alcançarmos isto em nossas práticas diárias e ministeriais já estará trilhando uma boa estrada. Afinal, são as inquietações,
preocupações, desafios, provocações, questionamentos, medos que surgem em nossa
vida, em nossa caminhada ministerial seja como leig@ ou como clérigo@, mas o
mais importante de tudo é a busca por uma espiritualidade que produza uma
mudança interior (conversão) que possa se refletir no exterior. Reflexo esse
que possa ser visto através de gestos e atos concretos na vida e caminhada
ministerial, confirmando/legitimando as ações ministeriais.
Que o Trino Deus, nos abençoe como corpo e povo!
Odete Liber de AAdriano