quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A MULHER ENCURVADA



MULHER ENCURVADA
O nosso texto base é Lucas 13.10-17, onde há o relato do encontro entre Jesus e uma mulher enferma, em dia de sábado. A mulher sofria a dezoito anos, de uma doença que não lhe permitia endireitar-se.  Jesus a curou, ela imediatamente começou a louvar a Deus pelo que lhe acontecera, mas houve a repreensão do chefe da sinagoga, que disse que aquele não era um dia apropriado para cura.
A resposta de Jesus, dirigida ao chefe da sinagoga, indica que era apropriado libertar a mulher em dia de Sábado.  Para Ele, nenhuma lei relacionada com a santidade do Sábado pode ser colocada no lugar da libertação da mulher enferma, mesmo quando se reconhece que até as pessoas mais exigentes no cumprimento da lei do Sábado levavam o boi ou jumento, no Sábado, para dar-lhes de beber.
Ora, se até mesmo um boi ou jumento eram desamarrados em dia de Sábado, quando tinham sede, para lhes dar de beber, muito mais um ser humano tem direito de ser desamarrado de tudo aquilo que o impede de desenvolver plenamente sua humanidade em dia de Sábado. Jesus diz com isso um ser humano vale mais do que um animal.
Segundo o texto, “achava-se ali uma mulher, que tinha um espírito de fraqueza”, isto é, “de enfermidade”. Naquela época a doença é atribuída ao poderio maligno de Satanás (v.16), mas a cura que segue aqui, não é descrita como exorcismo e, sim, como libertação: “Mas Jesus vendo-a, chamou-a e disse-lhe: ‘Mulher, está livres da tua doença’, e impôs nela as mãos; e imediatamente endireitou-se e louvava a Deus” (vv.12-13).  A doença havia se espalhado por todo o corpo da mulher, encurvando-a, atrapalhando seu movimento. O fato é que doença durava dezoito anos e, consequentemente, produzira mudanças no organismo da mulher.
Jesus toma a iniciativa, depois de perceber a necessidade da mulher, e a ela aceita o dialogo com Jesus. Depois de ter sido chamada, a mulher precisou deslocar-se. Sair do lugar onde estava, para ouvir o que Jesus tinha para lhe dizer, aceitando, então, em seu movimento, o diálogo com Ele.
Com certeza ela estava num lugar reservado só para as mulheres na sinagoga, ou em algum lugar onde não se poderia ver e perceber sua deformidade.  “Mas Jesus vendo-a, chamou-a e disse-lhe: ‘Mulher, está livres da tua doença”. Jesus dirige a palavra à mulher e impõe-lhe as mãos. A mulher foi curada imediatamente e glorificava a Deus.
Outro fator importante nesse texto é ação espontânea de Jesus. Um homem conversa com uma mulher. Ele percebe a necessidade dela. Jesus a vê, olha, chama e impõe-lhe as mãos. 
Jesus impõe-se, anunciando uma libertação que se realiza instantaneamente numa mulher e em dia de sábado. 
Pode-se dizer que a fraqueza da mulher, sua enfermidade, corresponde a força que ela tem  dentro de si. Tirar as ataduras, desatar, desfazer o que Satanás havia feito é favorecer a recuperação da vida, é libertar a pessoa. Para que a fraqueza se converta em força e a escravidão em libertação, e a intervenção do poder de Deus  é necessária.
O texto acentua a incapacidade total da mulher de olhar para cima ao afirmar que ela não podia, de forma alguma, levantar-se. Na época alguém que não olha pra cima e não contempla a criação de Deus é alguém privado da sua humanidade.  Essa mulher só olhava pra baixo. Ela ficara sem uma parte essencial da humanidade e de um contato com a divindade, com Deus. Ao sentimento de não poder ser curada deve-se acrescentar também a humilhação pessoal, a degradação social, além das dores físicas.
E quantas vezes andamos assim, olhando pra baixo, fracas, encurvadas, sem olhar nos olhos do outro e nem para o alto. Sem forças para dialogar com Deus, o divino. Sem forças nem mesmo para nós.
“Estás livre da tua doença”. Ela foi de fato libertada. Restaurada, que significa levantar-se, pôr-se de pé, ficar ereto, recobrar o sentido vertical. A restauração a uma postura  normal, ereta.  A mulher levantou-se instantaneamente. Isso também indica que a cura vem de Deus. Ela foi curada repentinamente, assim como a doença fora duradoura, a cura foi tão completa quanto a enfermidade havia sido total. A libertação de Deus chegou para a mulher: “estás livre”/”tens sido libertada” da tua doença”. “Estás livre”//”tens sido libertada”, “agora estás livre”. Muitas vezes, como mulheres,  precisamos nos libertar do que nos aprisiona, nos tira a tranquilidade, a paz, a harmonia. As vezes precisamos nos libertar do poder autoritário masculino que quer se instalar, seja em casa, no trabalho ou na igreja. É sempre bom reafirmar que o Deus da Vida não combina, com os atos de morte, doença, encurvamento, autoritarismo.
Na época a mulher já não era valorizada e enferma, era pior. A doença da mulher a limitava totalmente. Além da limitação física, havia a social. A doença deixava a mulher excluída socialmente.
A ação de Jesus proporciona uma nova visão da mulher na sociedade: Jesus a curou num espaço público, pois a sinagoga era responsável pela manutenção das tradições religiosas. Com isso Jesus inverte os valores vigentes da época, representados pelo chefe da sinagoga. O que a Ipu tem feito para quebrar tradições religiosas que aprisionam a mulher? O que a igreja e vcs, mulheres, lideres tem feito para ir contra tudo o que aprisiona, silencia? Vocês tem voz e vez nas suas igrejas? E fora da igreja? Em casa, no trabalho? Vocês tem lutado por isso?
Jesus deu lugar para aquela mulher na sociedade, um lugar que provavelmente ela sonhara em ter, mas nunca alcançara devido a sua enfermidade a incapacitava totalmente. Porque naquela época a mulher não tinha valor algum. Mas Jesus veio para resgatar a mulher, o seu valor, colocando-a no mesmo grau de importância que o homem.
O olhar ultrapassa a constatação. Ele precede e motiva o gesto de Jesus. O olhar demonstra receptividade; o gesto, sua intercessão. A ação de Jesus deixa claro aos que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir que o Senhor não fica indiferente diante da miséria injusta e que Ele atua para corrigir seus efeitos.
Vale lembrar que às vezes carregamos tanta coisa dentro de nós e fazemos tanta coisa que leva o nosso físico e o emocional ao extremo, e com isso o espiritual também padece. Às vezes somos reféns da nossa própria religiosidade, que em vez de libertar, aprisiona, escraviza, machuca, dói!
Às vezes o fardo que nos impomos como mulheres ou fardo que nos impõe é tanto que ficamos encurvadas e nessa posição a gente não consegue olhar para nós e nem pr@ outr@, muito menos ajudar @ outr@ nas suas necessidades, porque o encurvamento é tanto que esquecemos que somos filhas de Deus.
O encurvamento da mulher pode simbolizar, talvez, a tendência de uma pessoa a fechar-se em si mesmo e a limitar seu horizonte às realidades terrenas. A dor, nos torna individualista, porque só olhamos para nossas dores, afazeres, nossa culpa, e ficamos doentes.  E nos sentimos responsáveis e culpados por tanta coisa.
E digo a vocês que a culpa é não estar inteira onde se está. É preciso lembrar que onde estamos é o centro da nossa vida e se formos inteiras onde estamos não vai nos faltar nada. O ser inteiro não é o dia todo, são alguns momentos, é o que chamamos de qualidade de vida, qualidade de tempo.
E vocês sabem, mulher, limitada, doente, traz consequências sociais: desprezo e angustia. Doença e dor! Não só para ela mesma, como para os outros.
E eu finalizo perguntando pra vocês: Quais as limitações impostas às mulheres? Na igreja e fora da igreja? Em família?  O que te faz ser mulher encurvada?  Quais são as coisas que nos faz hoje, como mulheres e cristãs, a olhar pra baixo, sem contemplar a criação de Deus?
Porque muitas vezes não temos saúde espiritual porque somos levadas a calar, aguentar tudo sozinha, sem alguém que nos diga “estás livre”!  
Que Deus nos abençoe e nos ajude a sermos livres, curadas e guerreiras.
Odete Liber 




É caminhando que se faz o caminho



Salmo 27; Genesis 15:1-12, 17-18; Lucas 13;31-35; Filipenses 3:17-4:1
Lucas 13:31-35: 31 Naquele mesmo dia chegaram uns fariseus, dizendo-lhe: Sai, e retira-te daqui, porque Herodes quer matar-te.  32 E respondeu-lhes: Ide, e dizei àquela raposa: Eis que eu expulso demônios, e efetuo curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia sou consumado.  33 Importa, porém, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém.  34 Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?  35 Eis que a vossa casa se vos deixará deserta. E em verdade vos digo que não me vereis até que venha o tempo em que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor. 
É caminhando que se faz o caminho
Estamos na quaresma, tempo em que acompanhamos a caminhada de Jesus (v.33) rumo a Jerusalém. É um período propício para refletirmos sobre a nossa caminhada como Crist@s, como discipul@s de Cristo.  É tempo de repensarmos e, quem sabe, de refazermos nossa caminhada rumo a Jerusalém. Afinal, é preciso caminhar com convicção da missão que temos como cristãos e cristãs, é preciso assumir a missão até o fim e, como foi dito no domingo passado, ser cristão muitas vezes não é fácil, não é ser rico, poderoso e, sim, enfrentar as lutas e desafios que nos aparecem ao longo da caminhada.
Quantas coisas e fatos nos amedrontam e, às vezes, nos desanimam, mas é preciso caminhar, seguir adiante, pois Deus nos ajunta como a galinha ajunta seus pintinhos debaixo de suas asas.
O essencial nesse texto biblico é que o caminho dos seguidores de Jesus é o mesmo d’Ele: os seguidores, @s discipul@s podem ter o mesmo destino do mestre. O destino de Jesus em Jerusalém é a rejeição por causa do caminho que Ele seguiu, ou seja, sua opção de vida, como registrada em Lucas 4:17-19:
17 E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: 18 O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, 19 a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a por em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor.
Jesus, para cumprir sua missão com êxito, demonstra que tem paciência e infinito amor para salvar todas as pessoas pecadoras (ou seja, todos nós), pois seu desejo é que ninguém se perca, porém, esse caminho é de mão dupla: por uma via Jesus oferece gratuita e amorosamente a salvação e, por outra, a pessoa deve desejar ser salva, precisa, a partir de seu encontro com Jesus, “buscar o Reino de Deus e a sua justiça”.
Jesus propõe o Reino que liberta e dá vida. E isso deve acontecer não com violência ou com imposição. É preciso servir e não dominar!
A morte de Jesus aconteceu para cumprir os desígnios do Reino de Deus. E esta morte não foi um fracasso e, sim, um êxito, uma vitória, a qual é demonstrada pelos Evangelhos por meio das curas e expulsão de demônios, que são sinais também do Reino de Deus.
A presença de Deus pode abandonar os lugares santos. Vários textos bíblicos, como, por exemplo, o próprio verso 35. A sorte de Jesus transformara o destino da vida dos seres humanos, porque de inimigos passaram a amigos, pois com Jesus é sempre tempo de reencontro.
O que interessa é que Jesus foi rejeitado, mas cumpre sua missão. E a igreja tem sido sinal do reino? E nós? Você tem cumprido seu papel como discípul@ de Jesus?
Vale ressaltar que seguir a Jesus é muitas vezes ser rejeitado, porque os discipul@s andam na contramão da sociedade. É literalmente fazer a diferença evangelizando, curando, pregando e anunciando o ano aceitável do Senhor.
A subida a Jerusalém depende da descida à periferia, inclusive aos marginalizados.
Na caminhada com Jesus, somos desafiados para a prática da solidariedade com as pessoas sofridas: mulheres, homens doentes, crianças abandonadas, idosos solitários, afastados, pessoas desiludidas da vida e tantos outr@s.
Não podemos ficar alhei@s ao mundo. A casa não pode ficar deserta, porque logo será propriedade abandonada. Como filh@s, discipul@s de Deus é preciso caminhar, andar pelos caminhos da vida, através dos quais Deus mesmo se achega e ingressa na vida das pessoas.  É preciso compromisso exclusivamente com o Reino de Deus, para não nos deixarmos intimidar e nem desviar do caminho. Quem não consegue seguir o caminho enfrentando os inimigos acaba sendo inimigo do Reino, os quais, em Filipenses 3:18-19 são chamados inimigos da cruz, que têm como destino a perdição. No domingo passado também ouvimos um pouco sobre o que é ser profeta de Deus, inclusive que ser profeta é muitas vezes ser rechaçado.
Não podemos ser como Jerusalém, que era o lugar escolhido por Deus para ali fazer habitar o seu nome, símbolo da presença de Deus e da proximidade com Deus e ao mesmo tempo cidade que mata os profetas a ela enviados. Jerusalém era a cidade que refletia a presença de Deus e que abrigava quem conhecia os caminhos de Deus, mas também não percebeu quando Deus lhe falava através de seus enviados. Não percebeu Jesus.
Jesus morreu ‘em’ e ‘por’ intermédio de Jerusalém, porque Ele era e é o enviado especial para trazer a nossas vidas a presença e o abrigo de Deus. O texto nos diz que diversas vezes Deus se dirigiu as pessoas e estas não ouviram os seus enviados. É preciso avaliar nossa ação, afinal, Deus usa a nossa comunidade para servir de abrigo aos que precisam, para acolher as pessoas desamparadas e a comunidade deve lembrar que ela precisa das asas protetoras de Deus.
A imagem da galinha é aplicada ao Deus protetor, que também se refere ao templo, que é lugar de proteção e presença divina. É também a imagem feminina e maternal, que assegura a proteção e ternura aos seres humanos recém nascidos. É a descrição da graça, a grande novidade do Reino.
Não nos agarramos a Deus primeiro, é Deus quem nos protege. Jesus diz: “Eu quis ajuntar”. Os pintinhos se perdem, piam, gritam e a mãe os chama. Deus nos chama!
A comunidade de fé, formada por tod@s nós deve ser espaço, o abrigo para os pintinhos perdidos (afinal quantas vezes nos sentimos como pintinhos perdidos, desprotegidos). A comunidade de fé, as pessoas que confessam sua fé em Jesus Cristo e o seguem, podem ensaiar solidariedade e anunciar a presença viva de Deus conosco. Membros em perigo a mãe – Deus ajunta e protege. Dá sua vida por eles, que é o que Jesus fez por nós.
Encontrei uma história muito bonita, sob o titulo “Debaixo de suas asas”
“Após um incêndio no parque nacional Yellowstone dos Estados Unidos, começou a tarefa de limpeza e avaliação dos danos. Um guarda florestal ia caminhando pelo parque, quando encontrou uma ave carbonizada ao pé de uma árvore, numa posição bastante estranha, pois não parecia que morrera escapando, nem que fora apanhada, simplesmente estava com suas asas fechadas ao redor do corpo. O guarda intrigado, encostou nela suavemente com uma vara; 3 pequenos filhotes vivos apareceram debaixo das asas da mãe. Mãe que sabia que seus filhotes vivos não poderiam escapar do fogo, por isso não os abandonou, nem os levou para o ninho sobre a arvore, onde a fumaça subiria  e o calor se acumularia. Levou-os para debaixo da arvore, provavelmente um por um, e ali ofereceu a sua vida, para salvar a vida deles. Podem imaginar a cena? O fogo rodeando, os filhotes assustados e a mãe muito decidida transmitindo paz, dizendo-lhes: “Não tema, venham par debaixo de minhas asas e nada lhes acontecerá”. E os filhotinhos estavam tão seguros  e protegidos do fogo, que horas depois do incêndio terminado ainda não tinham saído de lá. Estavam totalmente confiantes na proteção da mãe, somente após o encostar do guarda no corpo morto da mãe, é que pensaram que deveriam sair.”
Tens a quem amar assim?  És capaz de amar o irmão de fé? Alguém tem te amado assim? Quem encontra um motivo pelo qual vale a pena viver, encontra um motivo pelo qual vale a pena dar a vida. E seguir a Cristo vale a pena!
Pois a vinda de Jesus, com Jesus a caminho, caminhando, é o modo como Deus ingressa na vida das pessoas, é como Ele ingressou na minha vida, me encontrou e passamos a caminhar juntos.    
Quaresma é tempo de acompanhar Jesus na sua caminhada para Jerusalém. A serviço. Sem desvios. É caminhar: com coragem e firmeza de fé, com o objetivo certo: o Reino de Deus, não a promoção pessoal; obediente a Deus e não ao poder do mundo; com solidariedade aos sofrid@s e não pensar que não tem mais nada a fazer, que já é tarde, porque para Deus nunca é tarde; sem pensar em deixar para os outros ou pensar que a mudança vai tardar; é caminhar com a certeza das asas protetoras da mãe e na confiança: nossa pátria esta nos céus, de onde aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Caminhar confiando que Deus está conosco, apesar da caminhada muitas vezes não ser fácil e a conscientização de que há um “tarde demais”.
Deus nos abençoe e guarde com suas asas protetoras. Que Deus toque nossos olhos para que possamos enxergar a beleza da vida e a dor dos que sofrem, toque nossos ouvidos para que possamos ouvir o clamor das pessoas, toque nossa boca para que possamos levar adiante a sua mensagem, toque nossas mãos para que possamos ofertar com disposição, toque nossa vida para que o Espírito Santo possa nos envolver, toque nosso coração e nos permita sentir seu amor e  sejamos forte para seguirmos o caminho, andar pelos caminhos da vida, com o compromisso radical com quem sofre e passa necessidades. Odete Liber


Com perfume, coragem e afeto!



“Em verdade vos digo: onde for pregado em todo mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória dela” ( Mc. 14.9)

Com perfume, coragem e afeto!

Está se aproximando o dia em que Jesus será traído, preso e condenado à morte pela cruz. Serão dias de muita dor e sofrimento para o filho de Deus.
Ele está reunido com os seus amigos na casa de Simão. Talvez estes sejam os últimos momentos que terá com eles. De repente chega uma pessoa que não foi convidada e provavelmente nem poderia estar naquele lugar. É uma mulher; e parece que, de todos ali, ela é a única que sente o que Jesus realmente precisa. Ela revela que conhece a dor e angústia que ele deve estar sentindo nestes momentos finais. Então, se aproxima e, em um ato profético, oferece alívio para o sofrimento de Jesus. Ela quebra um vidro de perfume e o derrama sobre ele.
Houve quem se pronunciasse contra este gesto, mas Jesus humildemente o aceita, e reconhece nele um ato grandioso realizado por aquela mulher; e promete que, juntamente com o evangelho pregado, aquele ato será para sempre lembrado.
Mais do que o bálsamo derramado,  ao tocar Jesus, a mulher oferece um gesto de carinho e ternura que busca aliviar a dor e o sofrimento. Através de seu ato ela mostra que Jesus não está sozinho.
Aquela mulher, cujo nome a Bíblia desconhece, certamente não estava convidada para sentar-se à mesa junto com Jesus; era uma das pessoas que a sociedade excluía. Mas, ao quebrar o vaso de óleo perfumado, simbolicamente ela quebra barreiras e convenções para mostrar a sua solidariedade e levar o seu carinho a alguém que está sofrendo. De onde veio esta coragem? Do compromisso com o Cristo sofredor.
A aceitação da Boa Nova em Jesus Cristo nos conclama a sermos pessoas solidárias e compromissadas junto às milhares de irmãs e irmãos que estão passando por momentos de dor, sofrimento e experimentando situações de morte. Onde o Evangelho for pregado nunca serão esquecidas a coragem, a ternura e a sensibilidade desta mulher sem nome.
Onde está o nosso frasco de perfume? Quem estará necessitando do nosso perfume compreensivo e consolador neste momento? Talvez, nós mesmas!!! Por isso, finalizo com uma bênção: “Sê forte e corajosa/ corajoso, não temas e nem te espantes, porque o teu Deus é contigo, por onde quer que fores. Em alegria e dor. Hoje e amanhã e para todo o sempre. Assim te abençoe o Pai e a Mãe amorosa, o Filho e o Espírito Santo. Amém.” Odete Liber


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Abraço

Hoje amanheci pensando no abraço. Quem não gosta de um abraço gostoso? O abraço trás e nos dá a sensação de proteção, paz, amor, carinho e é uma maneira de demonstrar que a outra pessoa é especial...O abraço é uma afirmação muito humana de ser querido e de ter valor. É bom. Não custa nada e exige pouco esforço. É saudável para quem dá e quem recebe. Vamos abraçar!!
Eu e Syw... que abraço gostoso...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

amei te ver

"ami te ver"

Não conhecia esse cantor, e lógico, sua música. Porém quando ouvi essa, me encantei.
A letra é linda, simples, fala de amor, desejo, encanto, sem palavras “chulas”. “Amei te ver”, é o que dizemos.
 Ele diz em sua canção “Ah! quase ninguém vê, quanto mais o tempo passa mais aumenta a graça em te viver”, é o amor em sua essência, do coração, atrelado a vivência real. Nada haver com a aparência virtual tão idolatrada e aspirada atualmente.
Ele continua: “O coração dispara, tropeça quase para, me encaixo no teu cheiro e ali me deixo inteiro”, a forma como ele descreve o momento dos amantes é singela. “Ah! quase ninguém vê, quanto mais aumenta a graça, mais o tempo passa por você”. 
 Também gostei dessa parte da canção: “o coração dispara, tropeça quase para, me enlaço no teu beijo, abraço o teu desejo”, entendo que ele não está preocupado apenas com ele, com seus próprios desejos, mas sim, antes, ele acolhe o beijo de sua amada e se importa com seu desejo, “a mão ampara a calma, encosta lá na alma, e o corpo vai sem medo, descasca teu segredo, da boca sai: não para, é o coração que fala, o laço é certeiro metades por inteiro”. A mão que acaricia o corpo de sua amada é a mesma que traz calma e toca em sua alma, assim o corpo vai sem medo, conhecendo cada vez mais seus segredos, da boca de seu coração vem o desejo: não para! Não é mero sexo casual. O laço é certeiro, as metades agora são um inteiro, está tudo aí descrito, celebrado, cantado, vivido, perfeito!!! Parece o livro de Cantares!!
Vale vc ouvir...


https://www.youtube.com/watch?v=W62-ZG9tPpI&feature=share

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Pode me cuidar, paparicar a vontade

Tempos atrás ganhei um super puxão de orelha de uma pessoa hiper querida e abençoada. Ela me disse que eu não sabia ser  cuidada, paparicada. Que eu tinha que parar com essa de que só eu cuido, que sempre estou bem, maravilhosa. Disse-me que “eu precisava aprender a me deixar ser cuidada, mimada. Que eu tinha que aceitar presentes, porque eram gestos de carinho, amor, além da atenção”. E deixei ela me cuidar. Lógico que não é fácil mudar... Mas de lá pra cá, tenho tentado colocar em prática. Tenho deixado que me cuidem, papariquem, me encham de mimos. E né que é bom???
Com isso, tenho tirado  minha armadura, minha pose de mulher durona, que não chora. Prendo o meu cabelo, ando sem batom, mas tô passando  rímel.
Tenho me despido daquela mulher que oferece abraço e deixa de lado as próprias dores, desejos, só porque alguém está pedindo ajuda. Tenho diminuído os passos, porque cansei de correr pra resolver os problemas dos outros.  Já aceito que me paguem a conta. E olha que por anos, não queria nem que o marido fizesse isso.
Hoje me sento no sofá e, completamente desarmada, aceito que me contem piadas, e dou risadas que só. 
Aceito ficar sem fazer nada, aceito convite para sair, passear, viajar. Amo receber carinhos...
Hoje eu desço do salto, tiro o vestido e fico só de langó, e se uma visita chegar, faço um café e vamos papear.
Isso não é egoísmo. Simplesmente to aprendendo a ser cuidada, sem deixar de cuidar de outras pessoas. Sou mais frágil que qualquer taça de vinho, coisa que as pessoas não tem o hábito de reconhecer, sou sensível, coisa que não gosto de deixar transparecer.  Hoje, gosto de receber um “sorriso de gratidão”, “um obrigada pela ajuda”.
Hoje, eu aceito uma visita que  me abrace apertado, porque tem coisas que só um abraço diz tudo.
Estou  colocando em pratica que não salvarei o mundo, não sou responsável pela vida  das pessoas.
Estou na fase de que uma boa  massagem nas costas traz um alivio gostoso, depois de um dia cansativo.
Aceito um bom vinho, ou um suco de cevada, bem gelado! E aí, vamos falar da vida.  Então, você pode vir, porque depois de me ouvir chorar eu quero que escute a minha risada exagerada, no meu surto particular e insano.
Não quero ser a mulher perfeita, me contento em ser o que sou, cuidando de todo mundo, mas precisando também de carinho e atenção.
Pode me paparicar a vontade! Afinal, não sei como passei tantos anos sem isso!
Obrigada Nete pelo puxão de orelha! Faz tempo, mas surtiu resultado. Te amo!!



SORORIDADE

Definindo SORORIDADE

Texto adaptado por Maiara Moreira de RÍOS, Marcela Lagarde y de los. Sororidad. In: GAMBA, Susana Beatriz. Diccionario de estúdios de género y feminismos. Buenos Aires: 2009.
Para começar de forma objetiva, sororidade é a aliança feminista entre mulheres. A palavra sororidade não existe na língua portuguesa, entretanto, uma palavra muito semelhante, fraternidade, pode ser encontrada em qualquer dicionário descrita como: 1 Solidariedade de irmãos. 2 Harmonia entre os homens. Ambas as palavras vem do latim, sendo sóror irmãs e frater irmãos. Mas, na nossa linguagem usual, ficamos apenas com a versão masculina do termo, afinal de contas, a sociedade patriarcal nos ensina que relações harmoniosas somente são possíveis de se concretizarem entre homens.
Sororidade é uma dimensão ética, política e prática do feminismo contemporâneo. É uma experiência subjetiva entre mulheres na busca por relações positivas e saudáveis, na construção de alianças existencial e política com outras mulheres, para contribuir com a eliminação social de todas as formas de opressão e ao apoio mútuo para alcançar o empoderamento vital de cada mulher. A sororidade é a consciência crítica sobre a misoginia e é o esforço tanto pessoal quanto coletivo de destruir a mentalidade e a cultura misógina, enquanto transforma as relações de solidariedade entre as mulheres.
Como a misoginia é uma das faces do machismo, ao desmontá-la através da sororidade, afetamos a percepção do “homem” como centro do universo e da masculinidade, que devido ao empoderamento feminino, perdem seu valor. O “homem” desaparece quando a visão de mundo deixa de ser antropocêntrica e cada mulher passa a ver o mundo a partir de si mesma e de seu gênero, e de maneira crítica, recusa a supremacia e a centralidade do homem como símbolo universal da humanidade.
A identificação entre mulheres como semelhantes aumenta conforme maiores são as coincidências de condições de idade, geração, sexualidade, classe social, etnia, formação cultural, ideologia, atuação política, religiosidade, nacionalidade, etc. Semelhanças entre essas condições facilitam a identificação de forma positiva entre mulheres por pertencerem e por se identificarem com o gênero feminino. A sororidade possibilita criar mecanismos de defesa à agressões e à qualquer forma de violência, propaga o feminismo e combate o antifeminismo (forma fundamentalista da misoginia política), além de valorizar a sexualidade feminina que têm sido tão desvalorizada para eliminá-la como suporte político das mulheres.
O enfretamento misógino entre mulheres constitui a inimizade patriarcal que atua criando a rivalidade e impedindo que mulheres se identifiquem umas com as outras. Os mecanismos patriarcais fazem com que essas mulheres tenham a esperança de serem eleitas e assim conquistarem poder. Elas competem entre si com a falsa esperança de serem eleitas entre “as outras”, ocupar posições, formando muitas vezes alianças com os homens, fomentando uma escala hierárquica entre si. Cada mulher se compara competitivamente com a outra e se coloca como superior ou inferior em um eixo hierárquico de dominação e opressão, inferioridade e superioridade, mediado ainda pelas fobias classistas, racistas, sexistas e ainda lesbofóbicas e transfóbicas.
Dessa forma se reproduzem entre as mulheres, de maneira acrítica, formas autoritárias e repressivas. Entre elas está o controle do conhecimento, das maneiras de fazer, o uso indevido de prestígio, a fama, o monopólio de recursos e oportunidades, permitindo a algumas mulheres avançar de forma injusta sobre as outras.
É imprescindível ter a consciência de que as mulheres são utilizadas para reproduzir a opressão de gênero entre elas, aniquilando o valor individual e coletivo. A política patriarcal usa as próprias mulheres para prejudicar outras mulheres, prometendo a elas a aceitação, a valorização e a ascensão. Para combater a crueldade e o equívoco da inimizade, o feminismo precisa fortalecer e promover a sororidade, eliminar a misoginia pessoal e coletiva, não reproduzir formas de opressão entre mulheres como a discriminação, a violência e a exploração.
As redes genealógicas de apoio entre mulheres têm se consolidado principalmente entre parentes, companheiras e amigas. Se remontam a várias gerações de parentesco entre mulheres e também de movimentos feministas do passado. As mulheres não teriam sobrevivido em condições tão opressivas se não tivessem contado com esses apoios vitais. O que seria de nós mulheres sem nossas mães, filhas, avós? O que seria de nós sem nossas companheiras e amigas? O que seria de nós sem nossas ancestrais?
A sororidade é um princípio de relação entre todas as mulheres e um recurso para enfrentar os conflitos que podem surgir entre elas, eliminando a misoginia. Ela possibilita estabelecer vínculos entre civis e governantes, militantes de partidos, sindicatos, mulheres cis e mulheres trans, indígenas e mulheres de outras culturas, jovens e idosas, assim como camponesas, operárias, urbanas, heterossexuais e lésbicas, intelectuais e mulheres com baixa escolaridade, entre dirigentes e mulheres “de base”, teóricas e ativistas. Ao não tratar as diferenças de forma preconceituosa, convertendo-as em rejeição e obstáculo, é possível que surjam semelhanças identitárias e empatia entre as mulheres. Reconhecendo sempre que as mulheres semelhantes também são diferentes e que a diferença é um capital e um poder. É preciso superar a exigência de sermos idênticas.
A sororidade busca e, ao mesmo tempo já é, a concretude de formas de empoderamento das mulheres. Plantar relações de sororidade significa a vontade de apoiar para empoderar. Por isso, a sororidade pode dar-se entre desconhecidas, parentes, colegas, companheiras e amigas. Não é preciso ser amiga para vincular-se de forma solidária. Mesmo entre aquelas mulheres que têm conflitos pode-se viver em sororidade. Sendo assim, nenhuma tratará de excluir, destruir ou causar dano a outra.
O sentido da sororidade é propiciar melhores condições de vida para as mulheres e derrubar muros patriarcais. A prática feminista da sororidade permite às mulheres serem coerentes e potencializa a cultura feminista.

Texto adaptado por Maiara Moreira de RÍOS, Marcela Lagarde y de los. Sororidad. In: GAMBA, Susana Beatriz. Diccionario de estúdios de género y feminismos. Buenos Aires: 2009.
Esse texto pode ser lido no blog https://we.riseup.net/radfem/definindo-sororidade-marcela-lagarde

amig@s

E nós entramos uma na vida outra... Tudo graças ao Cras... Partilhamos trabalho, mesa, comida, risos, vinho, alegrias e tristezas. Como dizia Mário Quintana: “é quando o silêncio a dois não se torna incômodo”. É ser íntimo sem ser invasivo, é estar próximo sem se tornar inconveniente, é se sentir acolhida em qualquer circunstância. É uma relação entre iguais, sem rebaixar-se.
"Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar,
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
e oferece lugar pra dormir e comer
Amigo que é amigo não puxa tapete
oferece pra gente o melhor que tem e o que nem tem
quando não tem, finge que tem,
faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão".
Que possamos continuar sendo amig@s, sem formalidades, que continuemos brindando a vida, para celebrar o doce sabor da vida e, se for o caso, chorar as nossas dores, perdas e sofrimentos. ‪#‎Tamujunto‬ ‪#‎enois‬ ‪#‎amigas‬ ‪#‎carinho‬