O ver, agir e julgar está atrelado a um modo arraigado
na fé bíblica, pois a fé de Israel era e continua sendo em nossos dias, o ponto
de partida do Êxodo 3. O grito de um povo que sofria e que clamava por justiça
como nos dias atuais. E o mesmo Deus “viu” e vê (a opressão), “escutou” e
escuta (os clamores), “conheceu” e continua conhecendo os sofrimentos e “agiu”,
age libertando[1]. Assim,
entende-se por liderança como o processo de
conduzir as ações e influenciar o comportamento e
a mentalidade de outras pessoas, pois
liderança é uma escolha, uma relação,
uma técnica, uma arte.
O VER se entende, não como um mero falar “sobre” uma realidade, senão como
se a vê, se a entende e se a assume.
O JULGAR, avalia
pessoas, estruturas e culturas no hoje da história, recebe-as
no que tem de verdade e bem; convida
a enriquecer-se invita a enriquecer-se com cada realidade conhecida, estudada,
discernida. O AGIR abriga e modifica; reconhece, depura e acaba/completa.
Nesse sentido o ver é mergulhar na realidade, incluir-se,
encarnar-se, tendo como modelo Jesus Cristo que se encarnou, viveu a vida dos seres
humanos e assumiu as nossas fraquezas e limitações, ajudando-nos a superá-las.
Para abordar a realidade, é preciso partir dos campos principais: econômico,
político, social, ideológico e religioso. E isso deve se fazer presente na
liderança cristã, na igreja. Vendo, percebendo suas necessidades e agindo.
O JULGAR é desenvolver novos paradigmas. O julgar tem
o sentido de iluminar, de criticar, de confrontar a realidade à luz da ótica cristã,
na fidelidade a Deus, aos irmãos/irmãs e à vida. Trata-se de analisar as causas
e consequências dos fatos; questionar criticamente o que se vê; discernir o que
está ou não a serviço da vida, a serviço do reino de Deus. O ‘julgar’ exige conhecimento
da realidade humana e social; discernimento crítico à luz da fé e do evangelho;
escuta da palavra que se revela nos acontecimentos; conhecimento da doutrina/costumes
da Igreja; capacidade de superar preconceitos. Cada pessoa tem uma parte da
verdade e na transformação da realidade constatada. Assim, o ‘julgar’ na vida
cristã tem como critérios o respeito à vida e à dignidade humana, o bom senso e
os valores evangélicos (que nada mais é o que a Bíblia nos diz).
E finalmente o ‘AGIR’ é transformar a realidade. O ‘agir’
não é fazer coisas, mas é ação transformadora da realidade constatada. O agir é
ter uma nova atitude diante da vida; é uma transformação pessoal e integral; tem
consequência na sociedade; é o resultado do ‘ver’ e ‘julgar’ que compromete
toda igreja (ninguém na igreja pode dizer que nada sabe fazer). O ‘agir’ tem
momentos oportunos para acontecer. É ter paciência, evitar a acomodação, mas
sem cair no ativismo, lembrar que, através da nossa ação, Deus age na história.
Afinal, devemos deixar “Deus ser Deus”! Isso é o mais importante para minha
vida e é o que eu posso fazer (o que posso fazer é orar, pregar, interceder,
dar exemplo, o restante é com Deus, com o Espírito Santo).
E com isso tudo, pode-se dizer que a liderança não tem
absolutamente nada a ver com popularidade barata nem boa aparência, mas sim
grandeza do caráter, determinação e persuasão. Isto tudo passa por ser paixão.
A paixão por “ser” um líder que ganha
poder por si próprio, talhado para o comando quer na conduta de todo o grupo,
quer na orientação de um novo caminho com Cristo. Aconteça o que acontecer, faz
parte do papel do líder responsável permanecer firme e constante nos seus
propósitos.
Com o curso, percebe-se que ser líder é ser motivador,
ter responsabilidade, ser um apaixonado pelo que faz e principalmente, como
cristã, ser uma apaixonada pelo ser humano. Essas são as contribuições para meu
ministério e vida. E concluo com o poema de Mário Quintana – Quem sabe um dia:
Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois
Dar primeiro, pedir depois
Fazer primeiro, mandar depois
Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois.
[1] Conforme RAMIRES, Carlos Ayala. America
Latina, ver-juzgar-actuar un método de estar en la realidad, Adital sábado 19
Mayo 2007.
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