domingo, 17 de fevereiro de 2013

VOCÊ JÁ FOI TENTAD@ HOJE?

Ao pensar neste texto, me veio outro texto a memória de Bonhoeffer, que diz: “Nenhuma tentação é mais terrível do que a de não sermos tentados.” Nas tentações somos desafiad@s.

Jesus, em nossos texto foi literalmente desafiado, pois faminto decidiu viver pela palavra de Deus, embora filho de Deus renunciou o pedir milagres do Pai, tentado pelo poder e pelas riquezas, optou permanecer como um ser humano solidário com seu semelhante e assim temente ao Senhor. Como entender em nossos dias a mensagem e o desafio do texto?

O texto bíblico inicia dizendo que Jesus Cheio do Espírito Santo foi Levado ao deserto pelo mesmo Espírito.

 O que significaria estar cheio do Espírito Santo e ser levado por este mesmo espirito ao deserto? Acaso seria sentir-se forte, poderoso, inatingível, acima de to- das as coisas -do bem e do mal? Certamente aqui já começa a tentação para nós que lemos, ouvimos e meditamos sobre o texto. É a tentação que enfoca a pergunta pela vida sob a cruz ou sob a glória.

Assim, o reformador Lutero diz: “Quem não quer aceitar o Cristo amargo, este se empanturrará até a morte de mel”.  Ou seja, a cruz supõe a condução, em meio à fraqueza, por bons poderes, enquanto a glória facilmente impele à soberba e ao menosprezo às dificuldades da vida cristã.

E ser Levado ao deserto pelo mesmo Espírito é o inusitado do texto. O próprio Espírito é quem leva Jesus qual ovelha ao matadouro, ao palco, onde ocorre o embate com as tentações. Esta constatação permite ao teólogo reformado suíço K. Barth diz que a mais terrível tentação, no sentido de provação, não é aquela que vem de dentro, nem aquela que vem de fora, mas aquela que vem de cima: "Todo trabalho teológico só será bom e aproveitável perante Deus e os homens se constantemente for exposto a tal fogo, se constantemente for levado a atravessar tal fogo - que é o fogo do amor divino, mas que não deixa de ser fogo devorador". Essa tentação ocorre quando Deus fala "na terrível linguagem do seu silenciar".

Ser tentado pelo diabo é similar à história de Jó, nas palavras de Bonhoeffer, "Deus parece estar complacente com Satanás".  Sua atuação nessa história é malograda do início ao fim. Segue, porém, o seu desígnio de tentar, provar, levar o ser humano ao desespero. No embate com Jesus, ele, porém, é colocado em seu lugar como criatura caída, que não logra triunfar diante do ser que vive em obediência e fidelidade a Deus.

O texto nos diz que Jesus Sentiu fome. Podemos dizer que há algumas situações que tornam o ser humano especialmente vulnerável às tentações. Se lembrarmos a oração do Pai nosso, onde suplicamos o pão nosso de cada dia dá-nos hoje, percebemos a profundidade dessa vulnerabilidade. As tentações : por um lado, tentação, enquanto ser provado por Deus, no sentido de tribulação ou seja, em meio ao sofrimento é testada a firmeza da fé. E, por outro lado, tentação, no sentido da sedução pelo e para o mal. Pode-se dizer que há basicamente três as fontes da sedução para o mal: a carne, o mundo e os demônios, se bem que a carne e o mundo são, muitas vezes, instrumentos usados pelo mal para sua ação nefasta.

Mande que esta pedra vire pão. Desde os primórdios da Igreja Cristã traçou-se um paralelo entre as tentações de Cristo e a narrativa da queda em Gênesis. Trata-se da aplicação da hermenêutica paulina à distinção entre o velho e o novo Adão. Na narrativa da queda, Adão não resiste à sedução do mal e come o fruto proibido. O novo Adão, porém, resiste à sedução do mal e assim, em nosso lugar, vence seu po- der. Ao resistir a essa primeira tentação, onde pão seria sinônimo de carne, Jesus triunfa sobre o mal, enquanto ser humano, isto é, despido de qualquer poder extraordinário.

Eu lhe darei todo este poder e toda esta riqueza (...) se você se ajoelhar diante de mim e me adorar. A seqüência da ordem das tentações no texto paralelo encontrado no Evangelho de Mateus (Mt 4. 1. 11) é notoriamente diferente.

No texto há um crescendo, no qual primeiro vem, segundo D. Bonhoeffer, a tentação da carne, de- pois a espiritual e, finalmente, a última tentação, que ele denomina de tentação total: 'aqui não há mais camuflagem alguma, nem simulação. O poder de satã se opõe diretamente ao de Deus. (...) Seu oferecimento é imensamente grande e belo e mesmo sedutor. Ele exige em retribuição a adoração. Ele exige a franca apostasia de Deus, que não mais tem justificativa, a não ser a grandeza e a beleza do reino de Satanás. Nesta tentação, o caso é a clara e definitiva negação de Deus e a submissão a Satanás. Eis a tentação para pecar contra o Espírito Santo".

Se você é Filho de Deus, jogue-se daqui de cima, pois as Escrituras Sagradas dizem... A última tentação, ainda mais com a alusão ao Templo de Jerusalém e à citação das promessas bíblicas do Salmo 91.11-12, é contumaz, pois representa uma inversão no endereçamento da tentação: É o próprio Deus que é tentado, a partir de sua Palavra, em Jesus Cristo, pelo diabo. A tentação reside na exigência de um sinal da parte de Deus: fé que precisa de mais do que a simples Palavra de Deus em mandamento e promessa chega a ser tentação do próprio Deus". Há um paralelo com a situação do povo israelita no deserto e a provação de Jesus, com a diferença de que Jesus resiste à tentação de tentar a Deus, tendo como recurso tão-somente a passagem bíblica de Dt 6.16.

Conhecemos estes três tipos de tentações: a tentação que vem de dentro, aquela que vem de fora e aquela que vem do alto. Elas fazem parte da existência individual do cristão e de sua existência comunitária. O embate dessa contenda é diário. Em Jesus Cristo, porém, temos a antecipação dessa batalha por nós, para nós e em nosso lugar. Tanto mais importante se torna o modo como Jesus triunfa paradigmaticamente sobre o mal: é a confiança e obediência a Deus, despojada de qualquer poder sobrenatural, porém fundamentada na sua Palavra, que resiste à tentação. Assim, revestidos de Cristo, a partir do Batismo, e sustentados pela fé, podemos enfrentar a mesma contenda em nossas vidas. Não precisamos fugir, pois "levamos todos hoje a carne que em Cristo Jesus dominou o diabo".
As formas como essas tentações se expressam na vida individual e comunitária são múltiplas. Na existência individual podemos lembrar aqui, em especial, o momento da "derradeira tentação" diante da morte. Na vida comunitária, podemos lembrar aqui, de modo particular, as situações em que em nossas celebrações, muitas vezes sem o perceber, o diabo tenta através de nós o próprio Deus, exigindo sinais e exigindo que ele cumpra suas promessas.
Conclusão:
Apartir do que fora dito, podemos dizer que há três situações: primeiro, o poder da sedução e o fascínio que determinados objetos exercem sobre mim,  a luta atroz que se estabelece no sentido de reprimir seu surgimento. E a tentação que vem de dentro, a batalha que se trava na carne. A segunda associação dizia respeito aos pais que não vinham e à solidão. E o momento da batalha com a tentação que vem de fora, da substituição. É como se uma voz soprasse aos ouvidos - eles não vêm, mas eu tenho coisa melhor para oferecer. É a tentação total, pois aqui está em jogo, diante do silêncio de Deus. É render-se ao inimigo que oferece compensações maravilhosas diante da ausência de Deus. E, por fim, a última associação, do vôo sobre os fiéis, é a tentação de manifestar sinais prodigiosos em nome de Deus, o que representa, em última análise, tentar o próprio Deus. É, em outras palavras, a tentação espiritual, de não saber seu lugar, da empáfia de deixar a posição adequada de criatura em relação ao Criador.
Que Deus nos abençoe e guarde
Odete Líber de Almeida Adriano

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