Fazer
teologia é viver a vida e suas agruras. É sujar as mãos, mexer e pisar na
terra, correr, pular, brincar, rir, chorar, sonhar. Fazer teologia é mexer com
os sentidos. Sentidos do ouvir os pássaros, os grilos, sapos, bichos, do
apalpar, do tocar, do comer e beber, do sentir o aroma das flores, do olhar
curioso, do olhar apaixonado ou sofrido, de andar com os que sofrem, pobre,
viúva, órfãos, enfim, andar com necessitados.
A
teologia se faz real e presente na vida e não em meras palavras ou em artigos sistematizados.
Teologia que faz sentido pra vida não é a elaboração de longos textos acadêmicos,
cheios de notas de rodapé e palavras difíceis. Talvez por isso Jesus não
escreveu um livro, escritos, artigos.
A
teologia pra vida não se faz na academia, não que essa não seja importante. A
teologia acontece em casa, na vivencia, na mesa, no partir do pão, no
compartilhar as experiências da vida, nas coisas simples, nas dificuldades. Teologia
do dia a dia, teologia do pão com manteiga e café, da cerveja na sexta feira
com amigos, na conversa com amig@s, no frigir
dos ovos, do brincar e cantar com o sobrinho, das crises de riso e choro, do
sofrer por amor, do choro pela perda.
Teologia
é coisa simples, porem os teólog@s gostam de complicar, usam palavras difíceis
para explicar o simples, gostam de vocabulário robusto: pneumatologia,
soteriologia,, longas elocubrações. E a teologia fica cada vez mais distante da
vida das pessoas e se torna inútil. Perde seu sentido.
Creio que
a teologia é para libertar as pessoas que estão oprimidas pela religiosidade
vazia, vã, que escraviza ou faz com que as pessoas vivam uma duplicidade de
vida.
A
teologia que faz sentido para vida precisa despir-se das roupas antiquadas,
tradição pesada, clericalismo que cheira legalismo, despir-se da roupagem que
encobre o que deveria ser descoberto e mostrado. Precisamos de uma teologia
sensorial e sensual, como dizia Rubem Alves. Corpo que dança em êxtase, deve
ser a festa e comemoração da liberdade, deve se embriagar no vinho da vida. A teologia
pra vida e da vida é aquela que liberta o Cristo dos religiosos, da teologia
clássica, dos fundamentalistas. E deixa livre para ser quem é: esse ser de amor
e liberdade. Uma teologia sem as amarras intelectuais, sem doutrina e
moralismos. Saindo das bibliotecas, da academia, dos livros, dos artigos e indo
para o mundo, abrindo suas tendas e habitando e lutando com o povo e pelo povo.
A teologia deve ser como a poesia, que se faz
das “coisas insignificantes”. Deve aprender a gostar das “das coisinhas do
chão- / Antes que das coisas celestiais”, deve ter “um olhar para baixo”, usar
das “palavras apenas para compor silêncios” diante do Mistério da Vida, como a
poesia simples e da vida de Manoel de Barros. A teologia deve ser desnudada da
metafísica e lidar com a física, com o corpo a corpo, com o pé na terra, as
mãos tateando a vida. E como disse Nancy Cardoso, é a “Palavra… se feitas de
carne”. Que a nossa teologia faça
sentido, fale da vida, com a vida e transforme vidas, assim como sentamos e tomamos
cafezinho com amig@s. Odete Liber