domingo, 2 de julho de 2017

Cheiros e Aromas

Hoje, um belo domingo, fiz tudo que não planejei. Havia planejado ir à igreja cedo, depois voltar pra casa e andar na praia... Pois bem, acordei cedo e fui fazer relatório final pra reunião de amanhã, a qual não estarei presente. E lá se foi mais uma manhã...
Almocei. Depois fui olhar minhas plantas, sentir o cheiro de algumas, o céu lá fora cinza, dia de uma chuva fina... E com isso viajei. E pra você, como é pegar aquele tempo ou ter o cheiro dele? Lembrar da infância, de quando a gente ia para escola ? os primeiros amores platônicos? Nesses casos a memória remete as cores, aos sabores e aos sentimentos.  Lembra da dança, da brincadeira, do fim da tarde, os sorrisos na roda e aquele toque? Lembrar do que já tivemos, fizemos, sonhamos e não realizamos, das surpresas da vida?
É o tempo tem dessas coisas de guardar tudo em um baú vivo, a gente, de modo que não há outra maneira de acessá-lo se não entrando nele e se deixando tocar por tudo que está em seu fundo. Esse fundo que não está longe da gente, pois está aqui grudado, colado em nós, porque o tempo é coisa de narrador e quem narra faz a história viver. E me recordei de tanta coisa. Momentos bons, outros nem tanto, outros ruins, outros maravilhosos...
Por isso, te  proponho que experimente olhar pra você, pro seu báu e experimente, proponho que feche os seus olhos e vá para aquele lugar onde tudo começou, mas pode, se quiser, ir para um pouco antes ou um pouco depois, afinal não importa o ponto de partida porque é na viagem que a gente se encontra, se emociona, faz lágrimas correrem e risos aparecerem.
E nessa viagem para o passado, selecione o que for possível, capte as intensidades, reviva as sensações, as emoções, o calor ou o frio, o estado de estar e sinta o que puder. Sinta e revivencie, pegue-a e transforme em experiência. De olhos ainda fechados e consciente da respiração, reveja nas arestas desse lado de lá os desdobramentos dos acontecimentos, as aparências em suas essências, como espumas do mar que guardam oceanos.  Os cheiros, aromas. Banhe-se e na pele, na flor da pele, perceba a mistura se dando, o encontro avançando e os elos se formando, como correntes que não prendem, mas que puxam, transmitem e interligam. Ou então como laços que não amarram, mas que unem e aproximam, mesmo na distância dos intervalos. Se emocione, viva e continue.
Continue de olhos fechados, sonhando, imaginando, busque outros lugares, outros pontos, que até podem não ser tão doces assim, porque por vezes vem a observância de um medinho, de uma ânsia, de confusões, mas no geral há uma calma e confortável sabedoria de que tudo vale a pena. Voltar vale a pena!
Então como uma roda de bicicleta que gira fazendo barulhinho, zunindo naquele silêncio sem pressa, lembre do sorriso espontâneo, por nada e por tudo. E o gosto da bebida ou comida , de um perfume que se vai sem mesmo saber que se foi, mas ainda sim saber que foi bom!
Então, não é que temos mesmo o nosso próprio tempo!
Viajar no tempo, trazer a memória momentos passados  é se deixar cair e aos poucos se permitir olhar pro passado como experiência. Lembrar de pessoas queridas, porque o vínculo perdura, atravessa o tempo, liga como cola e cola porque corresponde, um dizendo sim e o outro também. Ter o próprio tempo, o nosso, é antes um compartir, um partir juntos para algum lugar. De olhos fechados, inspirando e expirando tudo isso, ter o nosso próprio tempo é indizível, impalpável, proibido até, mas é revivido no privilégio de um retorno encontro sempre atualizado. E nos fazer rememorar momentos, cheiros que se passaram mas que guardamos dentro de nós e os tornamos presente em nosso tempo. Vida que segue, relembrando o que foi, o que escorreu pelas nossas mãos, saudades que permanecem, amor que ficou guardado no fundo, vitórias e derrotas, mas em tudo uma aprendizagem, crescimento!
Pois bem, com isso, o  tempo não é bom agricultor. Não é a função dele. O tempo só passa. Quem tem que arar o solo, somos nós. Quem arranca plantações é o vento; Quem faz crescer é a chuva. O tempo… Só passa e a gente segue a caminhada da vida, com cheiros e aromas...

Odete Liber




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