"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto, como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo..." (Clarice Lispector)
quarta-feira, 6 de março de 2013
sábado, 2 de março de 2013
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Cansaço de alma
Cansaço de alma
"Minha dor e a causa dela. A ninguém ouso falar."
(Camões)
Existem dores que não
são do corpo, não se curam com remédios, não desvanecem com terapias. São dores
de alma. A alma, quando dói, só quem sente é que sabe. Não há lágrimas que sejam
suficientes. A sensação de dor é tátil, mesmo quando o corpo não traz marcas,
nem cortes. Já senti umas dores de alma... algumas até me parecem mesmo que são
eternas. Paulo resolveu seu dilema de dor de alma, dando a ele um propósito:
para não engrandecer-se diante das revelações recebidas. Era para isso que
servia seu "espinho na carne", sua dor insuperável.
Também tenho tentado
achar um propósito para as minhas: aprender a compadecer-me. Já fui muito
arrogante e dona de uns pensamentos que não devia ter - pensamentos que me
levaram a julgar indevidamente situações e pessoas. Até a sentir-me
inalcansável por certas coisas que pareciam só acontecer a outros. Até que
alcançam, já que todos somos humanos e, no fim, nossas dores são as mesmas,
você sabe...
Por isso, ao invés de
endurecer-se ou amargurar-se, é preciso buscar o caminho de transformar
qualquer problema em bênção. Aprendi isso com um pastor conselheiro, homem de
dores, que sabia o que era sofrer, mas nunca se entregou. A força dele me
acompanha em todas as minhas dores de alma - que, afinal, graças a Deus, não
foram tantas... agora que vejo com olhos mais humanos quanta alma doendo existe
por aí. E o fato de doerem não é porque sejam almas doentes; algumas,
inclusive, sãs não fossem jamais poderiam suportar a insanidade de sua dor.
O salmista, vendo que a
dor parecia vencer sua alma, fez-lhe um lembrete: "Por que estás abatida,
ó minha alma? Por que te perturbas? Espera em Deus..." Tenho me feito este
lembrete ao longo da minha vida, quando minha alma se agita... tento me lembrar
dos conselhos bíblicos (se te afliges no dia da angústia, tua força é pequena).
Tenho pensado que coragem é admitir o medo e, mesmo assim, seguir adiante. Que
perdoar, aceitar, amar e conviver com os seres humanos é uma tarefa árdua, mas
se Ele, que era Deus, aceitou isso como uma oportunidade, devo fazer o mesmo...
Afinal de contas, há muitos que pensam ser difícil conviver comigo, outro
humano desses seres...
E quando a alma dói um
pouco mais, penso na dele, que sabe o que é sofrer... e me diz: "Eu te
aliviarei."
Evite ser instrumento de divulgação de erros alheios
Destaque
do livro "Desmemórias" do Prof. Elias Boaventura (1937-2012):
“Mister Moore, dirigiu-se a mim amorosamente, pedindo que eu observasse algumas coisas para o meu futuro (eu era candidato a pastor).
Suas palavras foram: “Em sua vida, nunca tenha pressa em punir pessoas que, por estarem sofrendo, pecam, mas não são más.
Evite ser instrumento de divulgação de erros alheios e use fatos para desenvolver sua solidariedade. Pergunte sempre se com seus atos não contribuiu involuntariamente para que tais fatos acontecessem.
É muito difícil, mas necessário e inteligente, que tentemos compreender as razões do outro. Implore sempre a Deus que perdoe o errado e o ajude a vencer suas falhas.” (pág. 75)
“Mister Moore, dirigiu-se a mim amorosamente, pedindo que eu observasse algumas coisas para o meu futuro (eu era candidato a pastor).
Suas palavras foram: “Em sua vida, nunca tenha pressa em punir pessoas que, por estarem sofrendo, pecam, mas não são más.
Evite ser instrumento de divulgação de erros alheios e use fatos para desenvolver sua solidariedade. Pergunte sempre se com seus atos não contribuiu involuntariamente para que tais fatos acontecessem.
É muito difícil, mas necessário e inteligente, que tentemos compreender as razões do outro. Implore sempre a Deus que perdoe o errado e o ajude a vencer suas falhas.” (pág. 75)
Não sei
Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que
vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que
acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria
que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que
promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é
o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa
demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que
transfere o que sabe e aprende o que ensina.
Cora Coralina
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
Para o Meu Coração
Para o Meu Coração...
Para o meu coração basta o teu peito,
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a tua alma.
És em ti a ilusão de cada dia.
Como o orvalho tu chegas às corolas.
Minas o horizonte com a tua ausência.
Eternamente em fuga como a onda.
Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E ficas logo triste, como uma viagem.
Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu acordei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.
Pablo Neruda, in "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada"
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
domingo, 17 de fevereiro de 2013
VOCÊ JÁ FOI TENTAD@ HOJE?
Ao pensar neste texto, me veio outro texto a
memória de Bonhoeffer, que diz: “Nenhuma tentação é mais terrível do que a de
não sermos tentados.” Nas tentações somos desafiad@s.
Jesus,
em nossos texto foi literalmente desafiado, pois faminto decidiu viver pela
palavra de Deus, embora filho de Deus renunciou o pedir milagres do Pai,
tentado pelo poder e pelas riquezas, optou permanecer como um ser humano
solidário com seu semelhante e assim temente ao Senhor. Como entender em nossos
dias a mensagem e o desafio do texto?
O texto bíblico
inicia dizendo que Jesus Cheio do Espírito Santo foi Levado ao deserto
pelo mesmo Espírito.
O
que significaria estar cheio do Espírito Santo e ser levado por este mesmo
espirito ao deserto? Acaso seria sentir-se forte, poderoso, inatingível, acima
de to- das as coisas -do bem e do mal? Certamente aqui já começa a tentação
para nós que lemos, ouvimos e meditamos sobre o texto. É a tentação que enfoca
a pergunta pela vida sob a cruz ou sob a glória.
Assim, o
reformador Lutero diz: “Quem não quer aceitar o Cristo amargo, este se
empanturrará até a morte de mel”. Ou
seja, a cruz supõe a condução, em meio à fraqueza, por bons poderes, enquanto a
glória facilmente impele à soberba e ao menosprezo às dificuldades da vida
cristã.
E ser Levado ao deserto pelo mesmo Espírito é o inusitado
do texto. O próprio Espírito é quem leva Jesus qual ovelha ao matadouro, ao
palco, onde ocorre o embate com as tentações. Esta constatação permite ao
teólogo reformado suíço K. Barth diz que a mais terrível tentação, no
sentido de provação, não é aquela que vem de dentro, nem aquela que vem de fora,
mas aquela que vem de cima: "Todo
trabalho teológico só será bom e aproveitável perante Deus e os homens se constantemente
for exposto a tal fogo, se constantemente for levado a atravessar tal fogo -
que é o fogo do amor divino, mas que não deixa de ser fogo devorador".
Essa tentação ocorre quando Deus fala "na terrível linguagem do seu
silenciar".
Ser tentado pelo diabo é similar à história
de Jó, nas palavras de Bonhoeffer, "Deus parece estar complacente com
Satanás". Sua atuação nessa
história é malograda do início ao fim. Segue, porém, o seu desígnio de tentar,
provar, levar o ser humano ao desespero. No embate com Jesus, ele, porém, é
colocado em seu lugar como criatura caída, que não logra triunfar diante do ser
que vive em obediência e fidelidade a Deus.
O texto nos
diz que Jesus Sentiu fome. Podemos
dizer que há algumas situações que tornam o ser humano especialmente vulnerável
às tentações. Se lembrarmos a oração do Pai nosso, onde suplicamos o pão nosso de cada dia dá-nos hoje, percebemos a profundidade dessa
vulnerabilidade. As tentações : por
um lado, tentação, enquanto ser provado por Deus, no sentido de tribulação ou
seja, em meio ao sofrimento é testada a firmeza da fé. E, por outro lado,
tentação, no sentido da sedução pelo e para o mal. Pode-se dizer que há
basicamente três as fontes da sedução para o mal: a carne, o mundo e os
demônios, se bem que a carne e o mundo são, muitas vezes, instrumentos usados
pelo mal para sua ação nefasta.
Mande que esta pedra vire pão. Desde os
primórdios da Igreja Cristã traçou-se um paralelo entre as tentações de Cristo
e a narrativa da queda em
Gênesis. Trata-se da aplicação da hermenêutica paulina à
distinção entre o velho e o novo Adão. Na narrativa da queda, Adão não resiste
à sedução do mal e come o fruto proibido. O novo Adão, porém, resiste à sedução
do mal e assim, em nosso lugar, vence seu po- der. Ao resistir a essa primeira
tentação, onde pão seria sinônimo de carne, Jesus triunfa sobre o mal,
enquanto ser humano, isto é, despido de qualquer poder extraordinário.
Eu lhe darei todo este poder e toda esta riqueza (...) se você se ajoelhar diante de mim e me adorar. A
seqüência da ordem das tentações no texto paralelo encontrado no Evangelho de
Mateus (Mt 4. 1. 11) é notoriamente diferente.
No texto há
um crescendo, no qual primeiro vem, segundo D. Bonhoeffer, a tentação da carne,
de- pois a espiritual e, finalmente, a última tentação, que ele denomina de tentação total: 'aqui não há mais
camuflagem alguma, nem simulação. O poder de satã se opõe diretamente ao de
Deus. (...) Seu oferecimento é imensamente grande e belo e mesmo sedutor. Ele
exige em retribuição a adoração. Ele exige a franca apostasia de Deus, que não
mais tem justificativa, a não ser a grandeza e a beleza do reino de Satanás.
Nesta tentação, o caso é a clara e definitiva negação de Deus e a submissão a
Satanás. Eis a tentação para pecar contra o Espírito Santo".
Se você é Filho de Deus, jogue-se daqui de cima,
pois as Escrituras Sagradas dizem... A
última tentação, ainda mais com a alusão ao Templo de Jerusalém e à citação das
promessas bíblicas do Salmo 91.11-12, é contumaz, pois representa uma inversão
no endereçamento da tentação: É o próprio Deus que é tentado, a partir de sua
Palavra, em Jesus Cristo ,
pelo diabo. A tentação reside na exigência de um sinal da parte de Deus: fé que
precisa de mais do que a simples Palavra de Deus em mandamento e promessa chega
a ser tentação do próprio Deus". Há um paralelo com a situação do povo
israelita no deserto e a provação de Jesus, com a diferença de que Jesus
resiste à tentação de tentar a Deus, tendo como recurso tão-somente a passagem
bíblica de Dt 6.16.
Conhecemos
estes três tipos de tentações: a tentação que vem de dentro, aquela que vem de
fora e aquela que vem do alto. Elas fazem parte da existência individual do
cristão e de sua existência comunitária. O embate dessa contenda é diário. Em Jesus Cristo , porém,
temos a antecipação dessa batalha por nós, para nós e em nosso lugar. Tanto
mais importante se torna o modo como Jesus triunfa paradigmaticamente sobre o
mal: é a confiança e obediência a Deus, despojada de qualquer poder
sobrenatural, porém fundamentada na sua Palavra, que resiste à tentação. Assim,
revestidos de Cristo, a partir do Batismo, e sustentados pela fé, podemos
enfrentar a mesma contenda em nossas vidas. Não precisamos fugir, pois
"levamos todos hoje a carne que em Cristo Jesus dominou o diabo".
As formas
como essas tentações se expressam na vida individual e comunitária são
múltiplas. Na existência individual podemos lembrar aqui, em especial, o
momento da "derradeira tentação" diante da morte. Na vida
comunitária, podemos lembrar aqui, de modo particular, as situações em que em
nossas celebrações, muitas vezes sem o perceber, o diabo tenta através de nós o
próprio Deus, exigindo sinais e exigindo que ele cumpra suas promessas.
Conclusão:
Apartir do que fora dito, podemos dizer que há três situações: primeiro, o poder da sedução e o fascínio que
determinados objetos exercem sobre mim,
a luta atroz que se estabelece no sentido de reprimir seu surgimento. E
a tentação que vem de dentro, a batalha que se trava na carne. A segunda
associação dizia respeito aos pais que não vinham e à solidão. E o momento da
batalha com a tentação que vem de fora, da substituição. É como se uma voz
soprasse aos ouvidos - eles não vêm, mas eu tenho coisa melhor para oferecer. É
a tentação total, pois aqui está em jogo, diante do silêncio de Deus. É
render-se ao inimigo que oferece compensações maravilhosas diante da ausência
de Deus. E, por fim, a última associação, do vôo sobre os fiéis, é a tentação
de manifestar sinais prodigiosos em nome de Deus, o que representa, em última
análise, tentar o próprio Deus. É, em outras palavras, a tentação espiritual,
de não saber seu lugar, da empáfia de deixar a posição adequada de criatura em
relação ao Criador.
Que Deus
nos abençoe e guarde
Odete Líber
de Almeida Adriano
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Assinar:
Postagens (Atom)