A tradição
bíblica apresenta o ser humano como um todo. Ele é apresentado como um “ser
vivente” (Gênesis 2.7), não é concebido de forma dicotômica, como alguém que
tem apenas uma “alma” ou um “corpo” , vistos separadamente, uma noção que, sem
dúvida, deriva da influência do pensamento platônico no cristianismo, que foi
incorporado por este durante a sua expansão nos durante nos seus primeiros
séculos de existência e que acabou por moldar a sua estrutura de pensamento.
A constituição do
ser humano, alma e corpo, sem separação, um todo, sublinha a sua integralidade:
o “ser vivente” que é simultaneamente, sem fragmentações, “alma e corpo”. Ele
não tem apenas um “corpo” e uma “alma” separados, mas tem um corpo, que é
animado: “Deus soprou (insuflou) nas narinas do homem o fôlego da vida” (Gênesis
2.7). Trata-se da unidade de vida que se manifesta em forma de corpo.
Nesse sentido,
quando retornamos à Bíblia para vermos o que significa salvação, percebemos que
a palavra tem vários significados. Corresponde às vezes a curar, a encontrar a
paz, a ser liberto de situação concreta, existencial, de perigo ou outras.
Também se refere a Deus como Aquele que salva, em Jesus Cristo, do pecado, o
qual se manifesta concretamente nos atos individuais das pessoas e nas
estruturas sociais criadas pelo ser humano ao logo da sua história. Na tradição
bíblica, a salvação anunciada é uma realidade para esta vida e o futuro. A
salvação é descrita como “relação nova com Deus, cheia de eficácia” pela
mediação do Evangelho recebido em atitude de fé. A salvação é o grande desígnio
de Deus para a humanidade e para sua criação.
Salvação,
portanto, envolve o ser humano como um todo. Vista dessa perspectiva, é um
processo que visa reacender nos humanos sua vocação maior: viver a salvação em
sua vida, nesta vida, como Dom divino, com uma esperança que se desdobra para
além dessa vida: “porque em esperança fomos salvos” (Romanos 8.24).
A salvação é
abrangente, envolvendo também as suas relações do ser humano como a sociedade e
com a criação. A salvação só se concretiza por atos e experiências que
determinam novas relações de Deus conosco e de nós mesmos com Deus e com toda
sua criação. A salvação se configura historicamente nessas relações.
Por isso, a salvação
é social e, enquanto tal, ela representa um desdobramento de um cristianismo
prático e vivido no seio das relações com Deus e com os outros e com a criação.
A salvação a partir desse ponto de vista é um processo responsável que inclui a
vida como um todo e que se desdobra como vida que se recria, renasce, renova. Com
isso, a missão torna-se salvação da “alma” e do “corpo”, pois é libertadora,
transformadora da vida humana, envolvendo-o na sua totalidade.
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