terça-feira, 24 de abril de 2018

silêncio só vira ouro, quando a palavra que escolhemos não dizer for de chumbo


No início de uma relação tudo são flores, mimos, carinhos, detalhes. Depois de um certo tempo, se começa a pensar que os pequenos detalhes já não são mais importantes, e por isso, são dispensáveis. Só que não!!!  Não são não!!
Não importa quanto tempo você está com alguém. Se um mês ou 10, 20 anos. Os detalhes sempre serão importantes, valiosos. Os pequenos gestos farão a diferença na vida e na caminhada. Uma frase simples como “uau,  você está bonita”, ou “você é importante pra mim”, “sinto sua falta”, “trouxe isso pra você”, “vou te ajudar hoje nos afazeres da casa”... Relacionamento é como uma planta, uma casa, um carro, precisa de manutenções regulares, de cuidado. E cuidar e manter, nesse caso, nada mais é do que ser capaz de dizer, fazer e também ouvir coisas simples, que até parecem sem sentido ou repetitivas. É ouvir as reclamações e reclamar também. É reclamar mas também mudar.
Ok, tudo bem, não é fácil, porém não é impossível. E é, não é à toa que falam por aí que a prática leva à perfeição, pois ninguém pode ser bom de fato em alguma coisa, sem dedicação de corpo e alma. Sem se estar apaixonad@ e encantad@ pelo que faz! Isso serve para uma relação.
Uma relação em que o casal (os dois e não só um) não prima pela repetição de pequenos gestos, erra e erra feio. Não adianta ficar numa busca incessante pelo novo, o anseio incontrolável por novidade, porque isso só levará o casal ao total esquecimento do que é essencial. Não estou dizendo que o novo não faz bem, mas que é necessário equilibrar, nem oito e nem oitenta. Combinar o novo com gestos simples do cotidiano.  Gestos simples do cotidiano é aquele  “bom dia”, o agradecimento “muito obrigad@”, o elogio, as demonstrações de apoio, carinho.  
Sabe, abrir mão da urgência desses detalhes é antecipar a cerimônia de adeus, do fim. É antecipar brigas, indiferença.
Alicerçar os laços afetivos não é apenas ir ao cinema, ao restaurante  ou viajar juntos. Alicerçar e sedimentar uma relação é estabelecer o diálogo, o prazer da companhia através da palavra, da conversa mesmo que banal. É rir um do outro, é surpreender com pequenos gestos, é se fazer presente mesmo ausente.
Quando não há conversa, a intimidade se quebra, inclusive a intimidade dos corpos, do sexo. Porque não há tesão que resista à degeneração do diálogo, do cuidado, da surpresa, do afeto. Sabe, a relação começa a findar-se quando tem inicio a falta de afeto, quando começa o desprezo pelas coisas pequenas. O silêncio só vira ouro, quando a palavra que escolhemos não dizer for de chumbo. Por isso, não reprima, não se esqueça de valorizar o que é simples, o que nada custa em termos financeiros (não que você não deva dar um belo presente ao seu amor). Como é bom ter o brilho no olhar, o sabor gostoso do beijo, a sensação confortável de uma mão aquecendo a outra numa noite fria na volta pra casa ou sobre o prazer de dividir o cobertor no sofá em tarde de chuva, vendo um filme. Lembre-se que cada sílaba importa, cada olhar encanta, o sorriso toca fundo o coração e o beijo gostoso é o carinho de alguém que está dispost@ a dividir a vida...
E como dizia Rubem Alves
“Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.”
“Será possível, então, um triunfo no amor? Sim. Mas ele não se encontra no final do caminho: não na partida, não na chegada, mas na travessia.”
Então, construa uma caminha, uma travessia cheia de cuidado, gentileza e simplicidade... E claro, que seja reciproco... Caso contrário, não! ODete Liber



segunda-feira, 12 de março de 2018

Teologia é vida e não meras palavras


Fazer teologia é viver a vida e suas agruras. É sujar as mãos, mexer e pisar na terra, correr, pular, brincar, rir, chorar, sonhar. Fazer teologia é mexer com os sentidos. Sentidos do ouvir os pássaros, os grilos, sapos, bichos, do apalpar, do tocar, do comer e beber, do sentir o aroma das flores, do olhar curioso, do olhar apaixonado ou sofrido, de andar com os que sofrem, pobre, viúva, órfãos, enfim, andar com necessitados.
A teologia se faz real e presente na vida e não em meras palavras ou em artigos sistematizados. Teologia que faz sentido pra vida não é a elaboração de longos textos acadêmicos, cheios de notas de rodapé e palavras difíceis. Talvez por isso Jesus não escreveu um livro, escritos, artigos.
A teologia pra vida não se faz na academia, não que essa não seja importante. A teologia acontece em casa, na vivencia, na mesa, no partir do pão, no compartilhar as experiências da vida, nas coisas simples, nas dificuldades. Teologia do dia a dia, teologia do pão com manteiga e café, da cerveja na sexta feira com amigos, na conversa com amig@s,  no frigir dos ovos, do brincar e cantar com o sobrinho, das crises de riso e choro, do sofrer por amor, do choro pela perda.
Teologia é coisa simples, porem os teólog@s gostam de complicar, usam palavras difíceis para explicar o simples, gostam de vocabulário robusto: pneumatologia, soteriologia,, longas elocubrações. E a teologia fica cada vez mais distante da vida das pessoas e se torna inútil. Perde seu sentido.
Creio que a teologia é para libertar as pessoas que estão oprimidas pela religiosidade vazia, vã, que escraviza ou faz com que as pessoas vivam uma duplicidade de vida.
A teologia que faz sentido para vida precisa despir-se das roupas antiquadas, tradição pesada, clericalismo que cheira legalismo, despir-se da roupagem que encobre o que deveria ser descoberto e mostrado. Precisamos de uma teologia sensorial e sensual, como dizia Rubem Alves. Corpo que dança em êxtase, deve ser a festa e comemoração da liberdade, deve se embriagar no vinho da vida. A teologia pra vida e da vida é aquela que liberta o Cristo dos religiosos, da teologia clássica, dos fundamentalistas. E deixa livre para ser quem é: esse ser de amor e liberdade. Uma teologia sem as amarras intelectuais, sem doutrina e moralismos. Saindo das bibliotecas, da academia, dos livros, dos artigos e indo para o mundo, abrindo suas tendas e habitando e lutando com o povo e pelo povo.
A teologia deve ser como a poesia, que se faz das “coisas insignificantes”. Deve aprender a gostar das “das coisinhas do chão- / Antes que das coisas celestiais”, deve ter “um olhar para baixo”, usar das “palavras apenas para compor silêncios” diante do Mistério da Vida, como a poesia simples e da vida de Manoel de Barros. A teologia deve ser desnudada da metafísica e lidar com a física, com o corpo a corpo, com o pé na terra, as mãos tateando a vida. E como disse Nancy Cardoso, é a “Palavra… se feitas de carne”.  Que a nossa teologia faça sentido, fale da vida, com a vida e transforme vidas, assim como sentamos e tomamos cafezinho com amig@s. Odete Liber

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

As vezes o coração fica pesado e a alma cansada.



As vezes o coração fica pesado e a alma cansada. Nos sentimos exaustas emocionalmente. Parece que ficamos no vazio. O sentimento que dá, é que parece que acordamos cansad@s porque não conseguimos dormir e na madrugada foi só solidão.
Os questionamentos vêm à cabeça e indagamos “o que estamos fazendo de errado e porque as coisas não dão”.
Queríamos amar menos, outras vezes amar mais. As vezes queríamos sentir menos, não se importar. Batalhamos tanto e parece que não fazemos nada. Porém sentimos, sentimos e sentimos inveja das pessoas que não se importam com nada além de si mesmas, porque a gente não pode sequer imaginar uma vida desse jeito. Sentimos inveja das pessoas que parece que tudo dá certo pra elas.
E aí lembramos que nos doamos tanto que as vezes não sobra nada para gente. Outras vezes ficamos despedaçadas, procurando nossos próprios cacos. Queremos que os outros se sintam inteiros enquanto nós estamos em caquinhos. As pessoas nem imaginam como estamos.
É preciso descobrir jeitos de se construir, reerguer, mesmo em meio a lágrimas escondidas, solidão em meio a multidão, a olhares que questionam os amores e desejam amores se perguntando quando será a vez delas.
É, as vezes as pessoas sentem-se cansadas de tanto tentar. Tentar acertar no amor, na família, no trabalho, com as amizades, com a vida. E eu sei que é muito complicado ser desse jeito. E todo mundo acha que isso vem naturalmente e fácil. Nem sequer imaginam o seu emaranhado de sentimentos, dores.
As pessoas te admiram, te acham destemida, amorosa, cuidados, egoísta, forte, mas elas não veem que seus olhos estão ficando cansados, que sua fé está sendo testada e a solidão que você sente em dar o seu melhor está te consumindo mais a cada dia.
Se você sente tudo isso, eu quero que você saiba que não é como o resto deles. Eu quero que você saiba que você é uma pessoa cheia de força. Eu quero que você saiba que, um dia, ser exatamente como você é vai compensar, e você vai encontrar alguém que vai preenchê-lo da mesma forma que você preencheu outros. Eu sei, porque sou assim.
Não pare, não se consuma, continue tentando. Continue se segurando a esse pouco de fé que você tem. Continue sendo você mesmo e não mude. Há algo em você que é muito raro. Vale a pena, cada dor, cada momento de solidão, cada sentimento de cansaço. Você não está só neste mundo, pois Deus não ignora nossas lágrimas e nem nossos sentimentos. Lembre-se que “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima”, e “Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão. Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes”. Salmos 126:5-6
Odete Liber



terça-feira, 7 de novembro de 2017

Sou um bosque

"Sinto que sou um bosque
que há rios dentro de mim,
montanhas,
ar fresco, ralinho
e parece-me que vou espirrar flores
e que, se abro a boca,
provocarei um furacão com todo o vento
que tenho contido nos pulmões."
Gioconda Belli


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Sou feita de fiapos de esperança



Sou como uma colcha de retalhos, colorida, emendada, remendada, mas sem perder a beleza e alegria de viver.  Já fui sacudida pelas perdas e ainda serei. Já chorei dias e noite, mas superei. O sorriso voltou, as lágrimas secaram, a alegria me contagiou. Os tombos não me limitaram, deixaram marcas, e só! Continuo sonhando, caminhando, caindo, levantando, sorrindo, chorando. A cada queda, a cada tombo,  me levanto mais forte e decidida, com mais planos e sonhos do que antes. Sigo na luta, sem desanimar, apesar de...
Sou rara, confesso! Amo de graça, e não peço nada por dar o coração. Sonho e aceito sonhar junto,  sonhos que não são meus, e insisto em acompanhá-los até que se realizem.  
Dou o coração antes do corpo, amo com um sorriso. De bandeja, dou os bons sentimentos, pois sou regida por eles, que me tiram do limbo egoísta de pensar somente no que posso ganhar e ter. Fico firme quando pareço que sou a mais fraca das pessoas, e então, revelo com lágrimas nos olhos, onde está a minha força e a capacidade de superação.  Consigo renascer após as crises, e dou conforto no aconchego dos meus braços as pessoas que se aproximam com dores na alma. Me junto também à irmãs e irmãos, que se sentem frágeis e fracos quando se imaginam em queda livre, descobrindo junt@s o dom das asas – em pleno exercício do voo e queda livre.
Sou um emaranhado de cores que não constam na tabela Pantone, e é na escuridão das minhas dúvidas que descubro um brilho fosforescente em um olho, e no outro, uma lágrima esperançosa, que insiste em me animar, me jogar pra frente, porque a vida não para.  Os desafios estão aí. Não esmoreço, não cedo à tentação do menor esforço, porque sou feita da vontade louca de progredir, de seguir em frente, de ser melhor que ontem, mesmo quando os caminhos estão abarrotados de placas proibitivas, mesmo quando me sinto cansada e frágil.
Desobedeço quando me dizem não ou quando dizem que não vai dar certo, que é impossível. Pois sou feita de impossíveis.  Refaço cálculos, contorno abismos, subo montanhas apreciando a beleza que está em volta, e isso me ajuda a não cansar tanto. Sigo em frente, sou feita de caminhos jamais trilhados, com possibilidades infinitas, e mesmo que não haja uma estrada, sigo pelos inóspitos caminhos e faço trilhas, saídas.
Tenho fiapos de esperança, que me fortalecem quando os abalos teimam em sacudir o meu interior. As costuras feitas em mim, faz com que o tempo me alinhave por dentro e seja guardado no coração e mente as histórias, os amores, as risadas, as dores e um punhado de sonhos coloridos e um desejo incansável de aprender sempre e de amar.
Faço incursões pelos labirintos internos da minha vida, reconheço minhas vulnerabilidades como partes importantes da minha humanidade. Busco ser uma alma fluida, que corre como águas claras de um rio e enche os bolsos de fé e esperança. Minha esperança está na simplicidade da alegria do encontro com amig@s, família, nas  coisas que dão sentido e fazem sentir. Coisas que são não tem como mensurar valor, porque o valor está no coração.