"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto, como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo..." (Clarice Lispector)
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Minas Gerais
Caminhando pelas
cidades de Mariana, Ouro Preto e Santuário do Caraça – MG
Depois de dias ausente, voltei. Fui conhecer um pouco da nossa história em algumas cidades do estado de Minas Gerais. Passamos por Ouro Preto, Mariana e Caraça. Abaixo um pouco mais de infromação dessas cidades (tiradas do site das mesmas)
Ouro Preto nasceu sob o
nome de Vila Rica, como resultado da épica aventura da colonização do interior
brasileiro, que ocorreu no final do século XVII.
Em 1698, saindo de Taubaté, São Paulo, a bandeira chefiada por Antônio Dias descortina o Itacolomi do alto da Serra do Ouro Preto, onde implanta a capela de São João. Ali, tem início o povoamento intenso do Vale do Tripui que, trinta anos depois, já possuía perto de 40 mil pessoas em mineração desordenada e sob a louca corrida pelo ouro de aluvião. Com a Independência, recebe o nome de Ouro Preto e torna-se a capital de Minas até 1897. É instituída Patrimônio da Memória Nacional a partir de 1933 e tombada pelo IPHAN em 1938. Em 1980 é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO. O surgimento e apogeu da arte colonial em Minas Gerais - barroco mineiro - é um fenômeno inteiramente ligado à exploração do ouro, acontecido no século XVIII, que veio criar uma cultura dotada de características peculiares e uma singular visão do mundo.
Em 1698, saindo de Taubaté, São Paulo, a bandeira chefiada por Antônio Dias descortina o Itacolomi do alto da Serra do Ouro Preto, onde implanta a capela de São João. Ali, tem início o povoamento intenso do Vale do Tripui que, trinta anos depois, já possuía perto de 40 mil pessoas em mineração desordenada e sob a louca corrida pelo ouro de aluvião. Com a Independência, recebe o nome de Ouro Preto e torna-se a capital de Minas até 1897. É instituída Patrimônio da Memória Nacional a partir de 1933 e tombada pelo IPHAN em 1938. Em 1980 é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO. O surgimento e apogeu da arte colonial em Minas Gerais - barroco mineiro - é um fenômeno inteiramente ligado à exploração do ouro, acontecido no século XVIII, que veio criar uma cultura dotada de características peculiares e uma singular visão do mundo.
Mariana foi a primeira
capital, sede do primeiro bispado e primeira cidade a ser projetada em Minas
Gerais. A história de Mariana, que tem como cenário um período de descobertas,
religiosidade, projeção artística e busca pelo ouro, é marcada também pelo
pioneirismo de uma região que há três séculos guarda riquezas que nos remetem
ao tempo do Brasil Colônia. Em 16 de julho de 1696, bandeirantes paulistas
liderados por Salvador Fernandes Furtado de Mendonça encontraram ouro em um rio
batizado de Ribeirão Nossa Senhora do Carmo. Às suas margens nasceu o arraial
de Nossa Senhora do Carmo, que logo assumiria uma função estratégica no jogo de
poder determinado pelo ouro. O local se transformou em um dos principais
fornecedores deste minério para Portugal e, pouco tempo depois, tornou-se a
primeira vila criada na então Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. Lá foi
estabelecida também a primeira capital. Em
1711, por ordem do rei lusitano D. João V, a região foi elevada à cidade e
nomeada Mariana – uma homenagem à rainha Maria Ana D’Austria, sua esposa.
Transformando-se no centro religioso do Estado, nesta mesma época a cidade
passou a ser sede do primeiro bispado mineiro. Para isso, foi enviado, do
Maranhão, o bispo D. Frei Manoel da Cruz. Sua trajetória realizada por terra
durou um ano e dois meses e foi considerada um feito bastante representativo no
Brasil Colônia. Ruas em linha reta e praças retangulares são características da
primeira cidade planejada de Minas e uma das primeiras do Brasil. Pioneira em
comunicação, nas suas terras foi instalada a primeira agência dos Correios no
Estado, em 1730. Em
1945, Mariana recebe do presidente Getúlio Vargas o título de Monumento
Nacional por seu “significativo patrimônio histórico, religioso e cultural” e
ativa participação na vida cívica e política do país, contribuindo na
Independência, no Império e na República, para a formação da nacionalidade
brasileira.
E
para terminar o passeio, passamos por Caraça. Ficamos hospedados no Santuário
do Caraça. Santuário do Caraça,
fundado em 1774 . Foi novamente reativado como Pousada a partir da década de
1970, depois de 150 anos dedicados à educação e à formação intelectual de
meninos e de seminaristas. Hoje conta com mais de 40 apartamentos e quartos,
além de algumas casas, com acomodações mais simples, para a hospedagem de até
180 pessoas. Suas diárias são com pensão completa, isto é, com direito a café
da manhã, almoço e jantar, além da entrada na Reserva Natural.Conhecer esses lugares é poder ver a arte de perto e imaginar um passado triste que nos deixou um legado artístico belíssimo, que conta uma história do nosso Brasil
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Não sei...
Feriadão à vista... tempo de parar o que se faz (estudo, trabalho) para descansar... Viajar, conhecer novos lugares, novas pessoas. Então lá vou eu... Bom e abeçoado feriadão para tod@s!!!
O cavalo no poço
O cavalo no
poço
Um fazendeiro, que lutava com muitas dificuldades, possuía alguns
cavalos para ajudar nos trabalhos em sua pequena fazenda. Um dia, seu capataz
veio trazer a notícia de que um dos cavalos havia caído num velho poço
abandonado.O fazendeiro foi rapidamente ao local do acidente e avaliou a situação. Certificando-se de que o animal não se machucara, mas, pela dificuldade e o alto custo de retirá-lo do fundo do poço, achou que não valeria a pena investir numa operação de resgate.
Tomou então a difícil decisão: determinou ao capataz que sacrificasse o animal, jogando terra no poço até enterrá-lo, ali mesmo.
E assim foi feito: os empregados, comandados pelo capataz, começaram a jogar terra para dentro do buraco de forma a cobrir o cavalo.
Mas, à medida que a terra caía em seu dorso, o animal a sacudia e ela ia se acumulando no fundo, possibilitando ao cavalo ir subindo. Logo, os homens perceberam que o cavalo não se deixava enterrar, mas, ao contrário, estava subindo à medida que a terra enchia o poço, até que finalmente, conseguiu sair.
Sabendo do caso, o fazendeiro ficou muito satisfeito e o cavalo viveu ainda muitos anos servindo ao dono da fazenda.
Se você estiver “lá embaixo”, sentindo-se pouco valorizado, quando, já certos de seu desaparecimento, os outros jogarem sobre você terra da incompreensão, da falta de oportunidades e de apoio, lembre-se desse cavalo. Não aceite a terra que cai sobre você. Sacuda-a e suba sobre ela. E, quanto mais terra, mais você vai subindo…subindo…subindo, e aprendendo a sair do poço.
desejos
Desejos
Estava eu olhando o velho João, entretido em varrer as folhas secas do
jardim. A área era grande, e o velho caprichava em não deixar nem uma folha no
gramado.- João, disse eu sorrindo, que maravilha se você pudesse, só a um desejo seu, ver todas estas folhas, de repente, empilhadas num monte!
- E posso mesmo, disse o velho prontamente.
- Se você pode, vamos ver! desafiei.
- Folhas! Juntem-se todas! disse o velho, numa voz de comando. E lá continuou limpando a relva até que as folhas ficaram juntas num só monte.
Viu? Disse-me, sorrindo - É este o melhor meio de vermos realizados os nossos desejos. Trabalhar, com afinco, para que aquilo que queremos seja feito.
O incidente calou-me no espírito. Mais tarde, ao estudar a biografia dos cientistas e de todos aqueles cujas obras nos parecem, por vezes, milagres verdadeiramente sobre humanos, descobrí que adotavam geralmente o sistema do velho jardineiro.
Todas as suas realizações resultaram do fato de que estes homens, desejando fortemente chegar a certo objetivo, nunca cessaram de lutar por alcançá-lo.
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
CARREGANDO PEDRAS
Carregando Pedras
E assim saíram, alegres e empolgadas com o programa que há tempos vinham planejando.
A estrada era longa até que chegassem à pedra, e representava uma boa parte do trajeto que incluía céu aberto, mata fechada, pastos íngremes, riachos, e uma miscelânea de solos e flora.
Logo ao iniciarem a trilha, um dos jovens tropeçou em uma pequena pedra, que lhe fez parar a caminhada. Ele abaixou-se, pegou a pequena pedra e disse ao amigo:
-Vou guardar essa pedrinha em minha mochila, como recordação do nosso passeio, que poderia ter sido interrompido ainda no princípio por ela, caso eu tivesse caído e me machucado.
E assim o jovem o fez, guardou aquela pedra em sua mochila.
Um pouco mais andaram e se equilibrando entre pedras para atravessar um pequeno riacho, aquele jovem teve que encontrar em si habilidade para tanto. E mais uma vez, ele guardou um pedra, aquela em que ele achara mais difícil se equilibrar.
Nem um terço do caminho andado e aquele jovem que parecia ser encontrado pelas pedras do caminho, observou que não cabia mais nenhuma pedra em sua mochila a não ser que começasse a se desfazer dos pertences que trouxera de casa. E um a um, ele foi se desfazendo deles, substituindo por pedras, que ele tomara como troféus na dura trilha.
O jovem que carregava a mochila repleta de pedras se viu cada vez mais devagar no caminho, e seu amigo - que ele mesmo aconselhara a segui seu ritmo normal de caminhada - cada vez mais distante. Ele já estava cansado e ofegante, e parava a cada pequeno trecho do caminho, e em cada parada mais uma pedra que “quase” o atrapalhara ia para mochila.
O dia foi longo, e o caminho mais longo do que realmente era tanto para o jovem que carregava a mochila de pedras, quanto para o seu amigo, que por vezes diminuía seus passos e parava para que a distância entre ele e seu companheiro de estrada diminuísse.
Quando o primeiro jovem chegou à montanha, ele sentou-se para esperar seu amigo, que já vinha quase se arrastando na estrada. Ao chegar, com o pouco fôlego que lhe estava restando, ele disse:
-Amigo, eu paro por aqui, estou muito cansado. Não aguento mais! Você está muito mais bem preparado fisicamente do que eu, agradeço por ter parado para me esperar, pode continuar sem mim.
Ao que o amigo lhe falou:
-Eu não estou mais bem preparado que você. Eu consegui chegar por que só trouxe na bagagem o essencial, enquanto você carregou pedras até aqui, e cada vez mais uma, que foram tomando o lugar de tudo que te sustentaria até aqui, sem você ao menos se dar conta de que se desfazia dessas coisas, e até esqueceu a importância delas. O que te impediu foi guardar tudo aquilo que você pensava que “quase te derrubou”.
Recomece sem medo
“Porque há esperança para a árvore que, se for
cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos” (Jó 14:7)
A quem necessita recomeçar, força, fé, coragem, esperança. Pois quando
nada mais restar, recomeçar é o único caminho a seguir. Pois “A esperança adiada desfalece o
coração[...]” (Provérbios 13: 12) E “O insucesso é apenas uma oportunidade para
recomeçar de novo com mais inteligência” (Henry Ford)
O porquinho que ousou olhar para cima
Ele morava em uma fazenda, onde havia muitos animais, inclusive outros porcos.
Um dia, enquanto Fedroso procurava seus amiguinhos porcos com os quais brincava de esconder, ouviu em meio a muitas gargalhadas a conversa de outros animais:
-Coitado dos porcos, nascem com destino traçado: a panela! Hahahaha! Disse a vaca. Ainda bem que eu tenho o meu leite, que me garante vida longa e folgada!
E a galinha:
-Pois eu tenho meus ovos, extremamente necessários à alimentação de toda a família do fazendeiro.
Já o cavalo, debochado como ele só acrescenta:
-É por isso que eles só olham para baixo! Hahahaha!
E o jumento:
-Dizem que é porque a mãe é uma porca! Hahaha!
E os animais se esbaldavam chacoteando os vizinhos porcos.
Fedroso ficou tão perplexo e angustiado ao ouvir toda aquela conversa, que esqueceu-se de sua brincadeira. Então, foi falar com sua mãe:
-Mãe, é verdade que um dia vamos todos para panela?
E sua mãe atônita lhe perguntou:
-Quem disse isso filho?
E ele refez a pergunta:
-Só me diga: É verdade mãe? Nascemos destinados a isso?
Então a mãe se viu diante da necessidade de conversar com seu filho precocemente sobre o que toda mãe porca adiava.
-Filho, que nascemos é certo, e que morreremos também. Assim o é com todos os seres vivos, sejam animais, plantas, ou seres humanos. Mas ninguém sabe o dia de nosso fim, a não ser, quando muito, o fazendeiro. Então ninguém sabe como, nem quando será esse dia. Mas o importante meu filho é que a que serviu sua vida não está necessariamente no dia, ou forma de sua morte, e sim, no que você fez no intervalo entre esses dois momentos certos, que podem inclusive acontecer no mesmo dia: nascimento e morte. Aí estará seu legado.
-Mãe, mas eu sou só um porco, e nem sequer consigo olhar para cima...
-Filho, você não é só um porco, é um porco, entendeu?
E o porquinho ficou pensando no que a mãe disse, e assim se passou um dia inteiro.
No dia seguinte, Fedroso subiu no cocheiro, de onde via o cavalo e perguntou:
-Sr. Cavalo, o senhor é um dos mais inteligentes dos animais da fazenda, e eu o admiro, poderia me responder uma pergunta?
E o cavalo, envaidecido, com seu ego inflado, lhe diz:
-Como não?! Provavelmente eu serei o único animal que poderá te responder mesmo.
E humildemente Fedroso pergunta:
-O senhor acha que posso conseguir ver o céu?
E com uma risada sórdida, ele responde:
-Talvez no dia em que você se tornar um cavalo. E explica-lhe: Vocês não tem vertebras longitudinais, que impedem que vocês virem o pescoço, então só podem olhar para baixo e para frente.
E o insistente porquinho:
-Mas e seu eu conseguir olhar para cima?
Mas a resposta do Cavalo foi somente uma risada.
Então Fedroso começou a sua busca por um meio de olhar para o céu. Foram tantas as tentativas, e tantas quantas foram também as risadas debochadas dos animais que assistiam a cena do porco que queria ver o céu, ao ponto de seus próprios colegas porcos caçoarem junto e a cada tentativa sentarem acreditando que estavam para assistir mais um fracasso do porco. Aliás, nenhum porco entendia porque ele queria ver o céu.
Um dia, quando Fedroso se preparava para subir num caixote e encaixar seu pescoço numa engenhoca que projetará para o fim que almejava, ele tomou um grande tombo, e podia se ouvir ao longe as gargalhadas da plateia que aumentava a cada dia, mas nenhum animal se preocupara em saber se ele havia se machucado.
Alguns minutos depois, os risos foram diminuindo, porque fora se percebendo que o porquinho que caiu não se levantara. De repente, um colega porco correu para ver o que acontecera, e encontrou Fedroso, deitado, de barriga para cima, em meio à palha que amortecera sua queda, com os olhos brilhantes refletindo o céu.
O porco amigo parou admirado, assistindo a cena que o emudeceu, até que um grito irrompeu o silêncio de todos os animais que aguardavam para saber o que acontecera com Fedroso:
-Ele conseguiu!
Nenhum animal acreditava, e agora surpresos, muitos diziam:
-“Eu sabia que ele conseguiria”. “-Ele é muito persistente, uma hora daria certo”...
E por conseguir superar os limites impostos pelos que não acreditavam na busca por uma alternativa, e no descrédito e zombaria dos outros, e na conquista alcançada, Fedroso ficou ali por muito tempo, contemplando o céu que nunca vira antes, acreditando que encontrara o sentido de sua própria vida: Acreditar em si mesmo apesar dos outros!
Quando sua mãe o felicitou, ela disse:
-Satisfeito filho? Já fez algo significativo que desse sentido à sua existência.
Ele respondeu:
-Não mamãe, eu descobri que esse foi só o pontapé para minha busca, porque o que eu procurava era apenas esperança apesar das possibilidades.
Já pensou no sentido que você tem dado à sua existência? Pois ousadia é a marca daqueles que acreditam que podem fazer aquilo que os outros dizem que não!
A vitória nos instiga a continuar, mas a derrota deve nos impulsionar à ir além, pois muitas vezes é errando que encontramos o caminho. Pois a resposta pode estar nos meios simples...
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Compacto Programa Roda Viva
Muito bom debate com a Sandra Duarte (metodista) e Aldo (Anglicano), e o cardeal da ICAR.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
MULHER: ESCRAVA HISTÓRICA DO HOMEM
MULHER: ESCRAVA HISTÓRICA DO HOMEM
Jó 1,1; 2,1-10 – Ainda conservas tua integridade
Salmo 26 – Faze-me justiça, Senhor, pois busco minha integridade
Hebreus1,1-4;2;5-12 – O homem e a mulher, igualmente, estão sujeitos a Deus
Marcos 10, 2-12 – Aqueles a quem Deus deu unidade, o homem não separe!
Salmo 26 – Faze-me justiça, Senhor, pois busco minha integridade
Hebreus1,1-4;2;5-12 – O homem e a mulher, igualmente, estão sujeitos a Deus
Marcos 10, 2-12 – Aqueles a quem Deus deu unidade, o homem não separe!
O profeta Isaías, antes do cristianismo, pontua sobre mulheres
israelitas chamando-as à confiança (emunah) e à fé. Mulheres deportadas
experimentavam violências religiosas nos guetos judaicos (Lv15,19-31),
políticas, sociais (Ex 21,5); israelitas vendiam suas filhas como escravas.
Babilônios, persas, gregos, romanos, hebreus, representam o patriarcalismo que
sobrevive no Oriente Islâmico. Entre cristãos, a inculturação patriarcal ainda
existe, mesmo disfarçada, no mundo inteiro.
Contudo, além da sexualidade compartilhada, “o homem e a mulher
levantam cedo para os afazeres da vida” (Ct 7,11-14), diz o poema rebelde,
como toda essa página bíblica de amor erótico, do cânon hebraico. Sem a
mãe-mulher, os filhos perdem as raízes da justiça. A mãe ama seus filhos com
isonomia. Nenhum é melhor que o outro, mesmo que dotado de capacidades maiores
na garantia da continuidade familiar, de gerenciar bens, produzir meios de
sobrevivência. Assim, podemos ter uma mulher na presidência da nação. Todos têm
direito igual ao carinho, ternura, amor e cuidado. Para entendermos
corretamente essa linguagem, que não é de exclusividade bíblica, precisamos
buscar os sentidos da compaixão pela humanidade e pela criação aviltada – ter
misericórdia (miseri-córdis), um coração cheio de amor (cor) que
sai na direção dos miseráveis (miseri) para socorrê-los.
Vem daí o fruto esperado, a prática da justiça para o exercício dos
direitos fundamentais do homem e da mulher, igualitariamente, sem considerar
ódios ancestrais, sexuais, raciais, preconceitos religiosos e classificações
sociais, sob o ethos principialista que organiza a justiça. E não
podemos esquecer os ódios ecológicos, contra a Terra, ensinados até por
importantes filósofos da modernidade, ou do progresso tecnológico. Isaías
aponta o amor que julga: “Ai dos que ao mal chamam bem, que fazem da
escuridade luz, e da luz escuridade; põem o amargo por doce, e o doce por
amargo ” (Is 5,20). Justiça é atributo e exigência para o homem e para a
mulher, indistintamente.
Esse amor que veste a justiça (“ágape” e “phileo” se
empregam aqui; reclama-se atenção, na exegese e na hermenêutica: não esquecer “ahavah”
e seu sentido no hebraico). Segundo a perspectiva joanina (1Jo …..), não é
humano, porque a seiva que recebe vem da raiz e do tronco que sustenta a fé no
Cristo de Deus. Jesus funda e engloba tudo que abrange a justiça e o direito
(Bíblia do Peregrino, Shöekel, p.2600). O modelo desse amor é o Pai (Abbah,
paínho, com toda a meiguice baiana quando pronuncia essa palavra maravilhosa),
e se estende aos “amigos” (phileo) da causa do Reino, força viva na
mensagem de Jesus.
No princípio, Deus criou o homem e a mulher em igualdade de condições,
em igualdade de direitos e obrigações de um para com o outro e com o resto da
criação. Mas houve tergiversações e interpretações ajeitadas, que até o próprio
Moisés “teria propiciado” (Bíblia Hebraica). Pois bem, Jesus apresenta o
original para resgatar a harmonia e o equilíbrio querido entre o homem e a
mulher, e a criação, desde o princípio. Pode-se notar também aqui a luta de
Jesus pelo mais fraco, pelo que não é contado, na sociedade. Para a sociedade
do seu tempo de Jesus, a mulher era somente um objeto que unicamente se usava
para a necessária ação da procriação e o cuidado das crianças e do lar (“… e
é sentada, em pé, muié tem é que trabaiá”, que Patativa do Assaré
não disse, mas Vinicius de Morais consagrou0 em Maria Moita). Jesus uma vez
mais denuncia este desequilíbrio na relação varão-mulher, quando toma partido
em favor das mulheres (Servicios Koinonia).
Jacob Bachofen (1815), talvez interpretando a Bíblia Hebraica, já falava
da figura positiva da mulher (ishah) na afirmação da vida, liberdade e
igualdade. Por sua própria natureza, a mulher gera a vida, iguala os gerados em
seu ventre; um valor próprio da têmpera feminina original, criada “ao lado” do
homem (“selah” significa “lado” nas línguas semíticas, e não costela,
termo adotado equivocadamente nas versões tradicionais). Mais impressionante,
no texto hebraico, é ignorar que a rûah, Espírito Criador, é uma
gigantesca mãe-pássaro da Criação que “choca”, agita as asas soprando a vida
que dá ordem ao caos, no princípio.
Tanto o homem como a mulher, no entanto, rompem o equilíbrio relacional
e dão rédea solta à tendência humana de dominar, de cobiçar o bem do outro. E
isto se transforma em “norma social”, é quando se começa a agir em
contraposição do que implica ser modelado pela mão de Deus e ser portador do
próprio hálito de Deus, e é como agir da maneira mais rasteira, como guiado
somente pela matéria, pelo pó da terra; isto é, da maneira mais vil e vulgar.
Em suma, os versículos, retirados de um conjunto tão amplo, tão rico e tão
profundo, não nos podem fazer esquecer que fazem parte de uma preocupação muito
mais ampla que explicar a origem do matrimônio e de sua indissolubilidade que,
desde cedo poderia ser iluminada a partir daí, mas não ser reduzida somente a
isso.
Derval Dasilio
TENTAÇÃO
Caindo em
tentação
Texto bíblico: Lucas 4.1-13
O assunto proposto para
a prédica nesta manhã nos apresenta nada mais nada menos do que um aspecto
central da existência cristã. A tentação, por um lado, a está para a vida
cristã assim como, por outro lado, está a fé, a confiança e a certeza. São dois
lados, duas forças, dois poderes que paradoxalmente estão em uma constante
tensão na vida cristã.
O relato que nos é
apresentado de Jesus sendo tentado tem uma finalidade. O Jesus que está só no
deserto e entregue ao assalto do Diabo e que vai ficar outra vez só no
Getsemani e na cruz, é o Jesus que nas suas andanças não permaneceu só, mas se
colocou na companhia do povo sofrido, chamando de bem aventurado os pobres,
curando os enfermos, saciando os famintos, desafiando os poderosos e chamando
ao discipulado. Em nosso texto está traçado o seu caminho até a cruz.
Podemos
indagar: Ainda somos tentad@s? Como crist@s para quê vivemos? Que rumo tem tomado
nossa vida?
Vivemos numa
sociedade repleta de desemprego, de subemprego e pobreza que encobrem os rostos
dos famintos (adultos e crianças) que perambulam pelas ruas. As nossas
comunidades (em especial as da periferia) refletem a onipresença aterradora do
poder político-econômico vigente em nosso país, que cada vez mais contribui
para com a desigualdade, a injustiça, a falta de dignidade humana.
Sabemos
também que podemos por nossa vida a perder, quando a direcionamos por falsos
valores e metas, pois estamos rodead@s
de tentações permanentes. Como já dissemos, Jesus foi ameaçado e em suas
tentações estão figuradas as tentações que nos assolam, que em nossa realidade
dão combate incessante à verdadeira vida conquistada por Jesus. Mas é nas
tentações que encontramos a vontade de Deus que impele ao seu Reino e nos chama
à opção pela vida.
Vejamos as
tentações que encontramos em nosso texto:
A- TENTAÇÃO DA FALTA DO PÃO
O
texto nos diz que Jesus sentiu fome. Bonhoeffer
diz que as duas grandes interrogações na vida do ser humano são: indagar a
respeito de Deus e do pão, mas ambas sentem ciúmes uma da outra. Podemos dizer que há algumas situações que
tornam o ser humano especialmente vulnerável às tentações. Se lembrarmos a
oração do Pai nosso, onde suplicamos o pão
nosso de cada dia dá-nos hoje, perceberemos
a profundidade dessa vulnerabilidade, dessa fragilidade. Só quem experimenta a
realidade da fome pode compreender que magnitude tem a tentação do pão fácil,
pois nessa situação todos os valores mudam. Por exemplo: o que significa o
roubo, quando se tem fome? O que significa aquela mãe que rouba um alimento
qualquer para saciar a fome dos filhos? Ou então quando se está com uma grande
vontade de comer alguma coisa e não se tem como comprá-la.
Por
isso, só quem experimenta a realidade da fome (e não quem está satisfeito e
fecha os olhos) pode entender o significado que tem, quando Jesus, sofrendo
essa situação, reconhece que mais importante do que tudo é a palavra de Deus,
que intenciona um reino fraterno, de amor a Deus e justiça entre os seres
humanos, sem comparação até mesmo com qualquer necessidade na vida humana: lar,
alimentação, vestuário, saúde, escola e descanso. Mas mesmo assim essa palavra
de Deus tem sido abusada pelos próprios cristãos, já que Jesus usou esta frase
“Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de
Deus”, quando estava só, como arma de defesa contra o diabo. Jamais para dizer
que se deve passar fome, visto que quando esteve com os famintos, nãos
consolou, mas lhe deu pão. Assumiu privação ele mesmo, mas em solidariedade aos
que passavam privação forçada. Logo, só tem direito de empregar esta frase quem
estiver dispost@ a demonstrar em si mesmo que a palavra de Deus lhe é mais importante
do que o pão, isto é, quem estiver dispost@ a partilhar seu próprio pão e lutar
pelo pão dos que não tem. Precisamos sentar à mesa juntos (Lc 10.4-9), para um
banquete, cujo convite foi recusado pelos convidados (Lc 14.16-23). A fome e o
pão são importantes nessa passagem, porque nos remete para um projeto de
sociedade diferente, onde tod@s têm a possibilidade
de sentar-se à mesa, em regime de igualdade, judeus, pagãos, ricos, pobres,
brancos, negros, homens, mulheres, crianças, todos nós. O pão não é dado, mas é
repartido, não é sinal de poder, mas de fraternidade.
B- TENTAÇÃO DO EMPREGO DO PODER
Jesus ao
resistir à tentação da falta de pão
triunfa sobre o mal, enquanto ser humano, despido de qualquer poder
extraordinário. Mas nos vv.6-8 o diabo “abre o jogo”, colocando todas as cartas
na mesa. Como diz Bonhoeffer: “Esta vez Satanás luta com suas próprias armas.
Aqui não há mais camuflagem alguma, nem simulação.” O poder de satã se opõe
diretamente ao de Deus. Seu oferecimento é imensamente grande e belo e ao mesmo
tempo sedutor. Ele exige em retribuição a adoração. Ele exige a franca
apostasia de Deus, que não mais tem justificativa, a não ser a grandeza e a
beleza do reino de Satanás. Nesta tentação, o caso é a clara e definitiva
negação de Deus e a submissão a Satanás. Poder
e riqueza para quem adorar o diabo! E quem adora o diabo? A resposta é simples:
Aquele que já não “dá bola” para Deus e toma o ser humano como objeto de
manipulação. Assim como Jesus resumiu toda
a lei em amar a Deus acima de tudo e o próximo como cada um ama a si
mesmo, assim ceder a essa tentação é renunciar a Deus e ao próximo.
Na prática,
inúmeras pessoas, a rigor, todos nós, muitas vezes, demonstramos, pelas
conseqüências, que adoramos ao diabo. Essa realidade se repete e acontece em
nossas relações familiares marcadas pela tirania, desrespeito, desamor, em
nossas relações grupais quando estas se norteiam por interesses particulares e
até mesmo em nossas comunidades eclesiais (quando repetimos e reproduzimos como
espelho as discriminações e injustiças sociais, quando queremos que a igreja se
pareça com a atual sociedade). Isto se torna mais claro quando o poder político
que deve ser destinado ao bem comum, é empregado para oprimir pessoas, povos inteiros,
lesando seus direitos, para manter os privilégios dos detentores do poder e
seus aliados (quantos cristãos não fazem isso).
Outra
realidade triste é a da esfera econômica, quando o ser humano não é seu dono e
beneficiário, mas reduzido a produtor do que necessita e não pode usufruir do
que produz. Há também muitas outras formas de tentações que se expressam na
vida individual e comunitária. Na vida comunitária, podemos lembrar, de modo
particular, as situações em que em nossas celebrações, muitas vezes sem o
perceber, o diabo tenta através de nós o próprio Deus, exigindo sinais e
exigindo que ele cumpra suas promessas, porque temos o poder em nossas mãos.
Mas por que como cristãos fazemos isto? Talvez porque não permitimos que ocorra
em nós e através de nós um verdadeiro confronto entre valores de sermos filh@s
de Deus e os valores do mundo, do diabo.
C- TENTAÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DA
FÉ
Superadas
pela palavra de Deus a tentação da falta do pão (ou apego ao pão), uma tentação
que provia das próprias condições desumanas de vida, e a tentação do poder, o
diabo assalta agora dentro da própria fé. O diabo ataca com a escritura
(vv.9-11), citando o Salmo 91. O diabo, aqui, empata em conhecimentos bíblicos
com Jesus, mas apenas Jesus tem o espírito da Escritura consigo.
A tentação
da demonstração de fé quer manifestar sinais prodigiosos em nome de Deus. Ela
procura também inverter as coisas. Deus nos conduz para a tribulação, nos quer
em fraqueza solidária para com o próximo, mas nós o queremos poderoso para nós.
Pedimos a Deus em oração todo tipo de conforto pessoal (o desafiamos e
cremos!), quando Deus nos chama para assumir sua cruz. Consideramos bênçãos de
Deus quando tudo vai bem (nossos ambiciosos desejos são concretizados, afinal
nosso Deus é o Deus do ouro e da prata), não precisamos abrir mão de nada.
Consideramos tentação diabólica quando estamos em dificuldade, quando não temos
trabalho, quando não podemos comprar carro novo ou roupa de marca etc. O texto
bíblico nos apresenta que o inverso é verdade: o bem estar pode ser a tentação
diabólica e a dificuldade pode ser a chance divina de colocar-se ao lado de
quem está destituído de seu amor.
A resposta
de Jesus lança a Palavra de Deus contra a Palavra de Deus, de um modo que a
verdade se revela contra a mentira. Se Jesus exigisse um único sinal, daria lugar à dúvida em seu
coração. A fé não necessita mais do que a simples Palavra de Deus em mandamento
e promessa. Por isso, ela se torna tentação quando cobramos e exigimos que
nossos desejos sejam realizados. Ela também se torna tentação quando julgamos o
outr@, pois quando isso acontece, nos colocamos no lugar do próprio Deus,
agindo como juiz do próxim@.
CONCLUSÃO:
O
texto de Lucas 4.1-13 nos mostra a
tentação a respeito da falta do pão (os indiferentes), a tentação do emprego do poder (cada um ama a si mesmo, o melhor de
tudo é ter domínio) e a tentação da
demonstração da fé (a tentação de manifestar sinais prodigiosos em nome de
Deus e inverter as coisas, agindo como se fossemos Deus. Trata-se, em outras
palavras, da tentação espiritual, de não saber seu lugar, da empáfia de deixar
a posição adequada de criatura em relação ao Criador). A experiência parece
ensinar que tem razão os indiferentes, os hipócritas e os poderosos, porque
eles estão “por cima” e “prosperam”. Onde estaria realidade do temor a Deus e
da fraternidade entre as pessoas, prometida pela palavra de Deus? Olhando a
nossa realidade poderíamos desesperar. Contudo, devemos olhar para Cristo.
A
luta dos primeiros seguidor@s de Jesus foi
contra os detentores do poder na sociedade judaica: o poder religioso
responsável pela lei, e o poder
político, que perseguia os adversários até a morte. Por esta razão os
opositores são chamados de uma geração insensível a qualquer apelo (Lc
7.31-35), má e que busca um sinal (Lc
11.29-31), mata os profetas (11.49-50), come e bebe sem se preocupar com o que
vai acontecer (17.23-37; 12.45-46), são os fariseus, preocupados com o exterior
e não com o interior, sobrecarregam o povo, mas eles mesmas não praticam
(11.39-52), estão envolvidos com as morte dos profetas (11.48).
O
nosso texto apresenta um chamado à Igreja, que também sofre a tentação do poder
e do autoritarismo, para que ela se renove a luz do Evangelho e sempre se confronte
com o testemunho de Jesus de Nazaré. É um chamado, porque não, para uma mudança
de mente, uma mudança de estruturas, uma mudança na maneira de ver o mundo.
Somos
convidados e convidadas, como batizad@s que
somos e participantes do banquete – a ceia -, para uma conversão e renovação,
as quais se concretizam cada vez que individual ou coletivamente nos
comprometemos na construção de uma Igreja onde tod@s tenham espaço e onde tod@s
tenham direitos iguais, onde definitivamente a tentação do poder e da exclusão
estejam superadas.
Neste texto e, em geral, na tradição bíblica a
tentação sempre se constitui numa ameaça integral ao rumo de toda a vida, seus
valores e suas dimensões. Vemos que não está em jogo algumas atitudes morais ou
piedosas de Jesus, mas sim o direcionamento de toda sua vida e obra. Nossa
perícope, localizada logo após a passagem referente ao batismo de Jesus e antes
do relato da sua vida pública, é um momento de definição. A tentação tem,
assim, a dimensão de totalidade, pois ela é o oposto do chamado a decisão de fé
e “cair em tentação” é o oposto da opção de vida. Como disse Bonhoeffer:
“Nenhuma tentação é mais terrível do que a de não sermos tentados.” Nas
tentações somos desafiad@s, somos lembrad@s de
vivermos sob a cruz. Jesus, em nosso texto, foi desafiado, pois faminto decidiu
viver pela palavra de Deus, embora filho de Deus renunciou o pedir milagres do
Pai, tentado pelo poder e pelas riquezas, optou permanecer como um ser humano
solidário com seu semelhante e assim temente ao Senhor. Não se trata de fugir
às tentações, nem de reprimi-las ou tampouco ignorá-las. É necessário
enfrentá-las, pois as armas o Senhor nos dá: “Espírito, Verdade.” O que devemos
saber é que precisamos confiar na Palavra de Deus e “amar a Deus acima de tudo
e ao outro como nos amamos”. O Deus que esteve conosco em Jesus Cristo , com seu
Espirito Santo “nos guiará a toda verdade”. Ouçamo-lhe, pois este pode ser o
início de uma vida cristã mais autêntica, superando as tentações do pão, do
poder e da fé, vivendo na e pela Palavra de Deus. Odete Liber Adriano
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