segunda-feira, 26 de junho de 2017

Antes de eu partir preciso beijar mais beijos

Antes de eu partir preciso beijar mais beijos, abraçar mais abraços. Preciso mais olhares perdidos, pensamentos distantes, coração acelerado. Preciso mais flores, mais cheiros, mais gente ao redor.
Antes de partir, preciso mais palavras e mais silêncios. Mais poesia e muito, muito mais prosa. Preciso café e bolinho frito (talvez mais salada e exercício, mas vá!). Preciso mais riso de criança e mais história de velhos (sim, que o Rubem Alves diz que o certo mesmo é velho, idoso é só alguém que tem muita idade. Velho é quem enrugou-se ao sabor das experiências, sentiu o frio e o calor!). Preciso, antes de partir, de mais pores-do-sol (Talvez alguns nasceres, mas é que é muito difícil pra mim acordar cedo). Preciso mais mitos que são as formas mais belas de verdade. Preciso mais contos e cantos. Preciso mais choro e pranto. Preciso ver mais com os olhos da fé e preciso mais fé para usar os meus olhos. Antes de partir quero sentir saudade e viver reencontros. Antes de partir quero rir até chorar e chorar até poder rir de novo. Antes de partir quero mais gosto na boca, mais arrepio na pele, mais música nos ouvidos. Antes de partir, quero ter chegado, de fato e verdade. Não concordo com essa ideia de que estejamos aqui de passagem. Gosto de pensar que viemos morar um pouco aqui. Depois moraremos por mais um pouco lá. Quero minha raiz-rizoma - conceito novo pra mim nesses dias, mas que gostei muito, porque me permite ser enquanto estou em mais de um lugar. E experimento novas espacialidades, onde a profundeza não tem a ver com profundidade, nem o superficial só com a superfície, mas é possível ser profundo como um vale, quando a fotografia é tirada do lugar certo... Profundo porque vasto. Sim, acho que quero ser vasta antes de partir. É que quando olho a vida, me dá uma impressão de que estou deixando tanta coisa passar... meu coração, já dizia o poeta, não é maior do que o mundo. É muito menor. O problema é esse, poeta: o coração é pequeno e os olhos não conhecem limites. Então, é preciso fazer alguma coisa a mais, antes de partir...

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