sábado, 25 de maio de 2013

carta aos homens


Prezados HOMENS,

A tradição ibérica trouxe muitos efeitos para o nosso amado país, o Brasil. Trouxe por exemplo, para  a vida das mulheres brasileiras, uma vida restrita em todos os sentidos. Por isso, difíceis de medir.

O cenário que já vinha se desenhando, e tomou forma mais nítidas na colônia brasileira do século XVI impôs um papel à mulher, anunciou um recrudescimento das formas fundamentalistas de pensar e agir, que, além de economicamente excludentes, são racistas e patriarcais, negando a mulher qualquer direito, a não ser o de procriar, cuidar da casa. Esses fatos são abusivos e ferem a mulher enquanto ser humano.

Queremos denunciar os homens que apenas copulam com suas esposas e não as amam, e muito menos sentem com elas prazer, já que entendem o orgasmo como coisa do demônio. Com isso indagamos: “Será que só o demônio pode sentir prazer?”. “Porque o corpo da mulher deve ser encoberto, e nem mesmo o marido pode vê-lo?”  Aliás, ao contrário do que a Igreja Católica falava ou fala, o corpo é tudo o que uma mulher é. Ele nos define, nos faz aparecer frente à realidade e aos outros, nos faz ir ao encontro do mundo. Não podemos tratar nosso corpo de qualquer jeito, pois o corpo é espaço da vida. Até na Bíblia encontramos histórias que falam de uma forma boa sobre o corpo. O livro Cânticos dos Cânticos é um exemplo disto: usando uma linguagem sensual, conta a história de um amor muito bonito.

Queremos também denunciar os homens que abusavam de suas negras escravas que os satisfaziam duplamente nos trabalhos da casa e na cama, porque diziam que com suas esposas não se podia ter prazer, orgasmo. Diante de tudo isto indagamos: “O que dizer então da sexualidade?”. Ela faz parte do nosso corpo e é uma energia boa que nos coloca em relação com outras pessoas, nos permite viver o amor, a ternura, o prazer. Para viver estas experiências, outros fatores também influenciam, como a nossa educação, a cultura e o jeito de ser do grupo que vivemos. Acreditamos que seja importante olhar o corpo e a sexualidade feminina como coisas muito positivas e não como um pecado. Todas o corpo feminino é bonito e bom. Trabalhar, cuidar da casa, dançar, namorar, são coisas que fazem parte da vida da mulher e fazem bem ao corpo, são todas coisas boas e não há do que se envergonhar.

Desejamos que os homens aceitem que as mulheres têm capacidade moral de tomar decisões, que sejam aceitáveis os seus pontos de vista ético e religioso, que reconheçam direito da mulher de decidir acerca de questões que afetem sua própria vida e seu corpo. As mulheres não são meras reprodutoras, sem sentimentos ou desejos. A mulher tem o direito de ter o controle do próprio corpo e não apenas de ser “usada” quando o homem bem entender. “Como pode alguém sentir-se uma pessoa quando aquilo que se acha mais próximo dela, seu próprio corpo, lhe escapa, tornando-se dependente de outras pessoas e ficando submetido à autoridade delas?". Sabemos que os corpos das mulheres têm sido o “locus” privilegiado de controle social dos homens sobre as mulheres. Também sabemos que a efetivação da autonomia das mulheres - como dos homens - não se dá quando direitos econômicos, sociais e políticos lhes são negados. Não queremos que os homens nos devolvam “os nossos direitos”, porque esse direitos não lhes pertencem. Apenas desejamos que nos respeitem e nos permitam ter e exercer o direito de decidir.

Sem vergonha e sem culpa,

                                                                        Mulheres do século XVIII
 
 
 
 
PS: Carta hipotética

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