Prezados HOMENS,
A tradição
ibérica trouxe muitos efeitos para o nosso amado país, o Brasil. Trouxe por
exemplo, para a vida das mulheres
brasileiras, uma vida restrita em todos os sentidos. Por isso, difíceis de
medir.
O cenário que
já vinha se desenhando, e tomou forma mais nítidas na colônia brasileira do
século XVI impôs um papel à mulher, anunciou um recrudescimento das formas
fundamentalistas de pensar e agir, que, além de economicamente excludentes, são
racistas e patriarcais, negando a mulher qualquer direito, a não ser o de
procriar, cuidar da casa. Esses fatos são abusivos e ferem a mulher enquanto
ser humano.
Queremos denunciar os homens que apenas copulam com suas
esposas e não as amam, e muito menos sentem com elas prazer, já que entendem o
orgasmo como coisa do demônio. Com isso indagamos: “Será que só o demônio pode
sentir prazer?”. “Porque o corpo da mulher deve ser encoberto, e nem mesmo o
marido pode vê-lo?” Aliás, ao contrário
do que a Igreja Católica falava ou fala, o corpo é tudo o que uma mulher é. Ele
nos define, nos faz aparecer frente à realidade e aos outros, nos faz ir ao
encontro do mundo. Não podemos tratar nosso corpo de qualquer jeito, pois o
corpo é espaço da vida. Até na Bíblia encontramos histórias que falam de uma
forma boa sobre o corpo. O livro Cânticos dos Cânticos é um exemplo disto:
usando uma linguagem sensual, conta a história de um amor muito bonito.
Queremos também denunciar os homens que abusavam de suas
negras escravas que os satisfaziam duplamente nos trabalhos da casa e na cama,
porque diziam que com suas esposas não se podia ter prazer, orgasmo. Diante de
tudo isto indagamos: “O que dizer então da sexualidade?”. Ela faz parte do
nosso corpo e é uma energia boa que nos coloca em relação com outras pessoas,
nos permite viver o amor, a ternura, o prazer. Para viver estas experiências,
outros fatores também influenciam, como a nossa educação, a cultura e o jeito
de ser do grupo que vivemos. Acreditamos que seja importante olhar o corpo e a
sexualidade feminina como coisas muito positivas e não como um pecado. Todas o
corpo feminino é bonito e bom. Trabalhar, cuidar da casa, dançar, namorar, são
coisas que fazem parte da vida da mulher e fazem bem ao corpo, são todas coisas
boas e não há do que se envergonhar.
Desejamos que os homens aceitem que as mulheres têm
capacidade moral de tomar decisões, que sejam aceitáveis os seus pontos de
vista ético e religioso, que reconheçam direito da mulher de decidir acerca de
questões que afetem sua própria vida e seu corpo. As mulheres não são meras
reprodutoras, sem sentimentos ou desejos. A mulher tem o direito de ter o
controle do próprio corpo e não apenas de ser “usada” quando o homem bem
entender. “Como pode alguém sentir-se uma pessoa quando aquilo que se acha mais
próximo dela, seu próprio corpo, lhe escapa, tornando-se dependente de outras
pessoas e ficando submetido à autoridade delas?". Sabemos que os corpos
das mulheres têm sido o “locus” privilegiado de controle social dos homens
sobre as mulheres. Também sabemos que a efetivação da autonomia das mulheres -
como dos homens - não se dá quando direitos econômicos, sociais e políticos
lhes são negados. Não queremos que os homens nos devolvam “os nossos direitos”,
porque esse direitos não lhes pertencem. Apenas desejamos que nos respeitem e
nos permitam ter e exercer o direito de decidir.
Sem vergonha e sem culpa,
Mulheres do século XVIII
PS: Carta hipotética
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