O CUIDADO PASTORAL
O cuidar é universalmente humano. Ninguém pode
cuidar de si mesmo em todas as situações. Ninguém pode, até mesmo, falar a si
próprio sem que lhe tivesse sido falado por outrem. Paul Tillich
Ao se falar de cuidado pastoral,
devemos lembrar que primeiro precisamos citar o mundo. O mundo como um lugar de
construção do “sendo humano” e com isso, do “sendo do ministério pastoral”.
Pois é nesse mundo, no qual o ser humano está sendo, é que a vida acontece, e o
ministério pastoral também. E nessa caminhada, nesse mundo, é preciso lembrar a
questão do cuidado, que é essencial numa comunidade. Visitar, orar, cuidar das pessoas. Amá-las.
Sabe-se que o “cuidado” em si, tem
significados que extrapolam o conhecimento comum, como por exemplo, “Ser-no-mundo-com-outros”,
“atitude de solicitude, de atenção, dedicação”; pois quem cuida sente-se
“afetivamente ligada ao outro”; “é constituição ontológico-existencial” do ser
e do “ser-aí”, no mundo.
De acordo com Tillich o cuidar é
universalmente humano, e só é possível receber cuidado se cuidarmos de outr@s. Trata-se
de uma atitude e não de dois atos. Não se torna pessoa sem o encontro com outra
pessoa e por isso Boff ressalta: “O que se opõe ao descuido e ao descaso é o
cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um
momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação,
preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”. O
cuidado, é uma característica inerente aquele/a que se dispõe ao pastorado, deve
ser algo que vá além da mera oração. Deve ser algo que faça com que @ pastor/a
sinta em seu coração, algo que o faça acordar à noite e orar pelas pessoas,
abençoando-as.
Vale citar que o “Cuidado
pastoral” não é um conceito bíblico, mas sabe-se que há uma longa história na
dinâmica tradição da Igreja, além do respaldo nas Escrituras. Na tradução
francesa temos o “cure d’âme” (cura da alma) e no latim “cura animarum” (cura
ou cuidado da alma). E por isso, na tradição cristã tal expressão tornou-se
clássica ao descrever esse elemento central e unificador do ministério pastoral,
afinal o “Cuidar das almas significa cuidar do centro vital das pessoas; é o
reparo e a nutrição desse centro pessoal de afeto e vontade”. Isso significa que a pessoa que está a frente
de uma comunidade, deve ser uma “pessoa apaixonada” por gente. E não é tarefa
fácil! Mas é possível e essencial.
Cuidado pastoral pode
ser definido como encontro, e esse encontro é um acontecimento de conhecimento,
um processo de interpretação, marcado por dualidades; e mais, encontro implica
em experiência, reciprocidade e interação; encontro envolve o influenciar,
transformar e mudar. Não é estático! Envolve relação, afetividade, cuidado, amor.
Para Clebsch e Jaekle “O
cuidado pastoral consiste de atos de ajuda realizados por representantes
cristãos, voltados para curar, suster, guiar e reconciliar as pessoas em
dificuldades, cujos problemas emergem no contexto de preocupações e
significados últimos”. Ou seja, para eles, o curar, significa tornar inteiro, íntegro. Tem o objetivo de superar
desarmonias pessoais e, recuperar a integralidade nas relações interpessoais e com
isso, fazer com que as pessoas se desenvolvam em relação a seu estado prévio. O
suster, é ajudar uma pessoa que está
em sofrimento, é amparar, é ser apoio, ajudar em crise, a perseverar e a
transcender uma circunstância em que a recuperação de condição anterior pareça
ser impossível, distante ou improvável. O guiar
é a assistência pastoral ante a iminência de decisões e opções em relação a
alternativas de pensamento e ação, em especial quando essas escolhas podem alterar
fortemente a vida presente e futura da pessoa. E por fim, reconciliar, que é facilitar o restabelecimento de relacionamentos
rompidos entre a pessoa e Deus, pessoas e a natureza, pessoas, grupos e
sociedade.
E nesse sentido uso as palavras
de Bonhoeffer, que disse: “o outro só será irmão quando se tornar um fardo, e
só então deixará de ser objeto dominado. [...]. Levar o fardo do outro
significa aqui suportar a realidade do outro em sua condição de criatura,
aceitá-la, e, sofrendo-a, chegar ao ponto de alegrar-se com ela”. Portanto,
somente “quem carrega sabe-se carregado, e somente com esta força poderá
carregar”. O cuidado pastoral ensina que ser cristã ou cristão, ser clerig@, pastor/a é
tornar-se carregador/a de fardos de esperança, de justiça, de amor, cura,
sustentação, assistência, reconciliação, de misericórdia e da paz que excede
todo entendimento humano.
Que o trino Deus nos abençoe,
como corpo de Cristo que somos.
Odete Liber
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