segunda-feira, 20 de maio de 2013

Cuidado pastoral


O CUIDADO PASTORAL

O cuidar é universalmente humano. Ninguém pode cuidar de si mesmo em todas as situações. Ninguém pode, até mesmo, falar a si próprio sem que lhe tivesse sido falado por outrem. Paul Tillich


Ao se falar de cuidado pastoral, devemos lembrar que primeiro precisamos citar o mundo. O mundo como um lugar de construção do “sendo humano” e com isso, do “sendo do ministério pastoral”. Pois é nesse mundo, no qual o ser humano está sendo, é que a vida acontece, e o ministério pastoral também. E nessa caminhada, nesse mundo, é preciso lembrar a questão do cuidado, que é essencial numa comunidade. Visitar, orar, cuidar das pessoas. Amá-las.

Sabe-se que o “cuidado” em si, tem significados que extrapolam o conhecimento comum, como por exemplo, “Ser-no-mundo-com-outros”, “atitude de solicitude, de atenção, dedicação”; pois quem cuida sente-se “afetivamente ligada ao outro”; “é constituição ontológico-existencial” do ser e do “ser-aí”, no mundo.

De acordo com Tillich o cuidar é universalmente humano, e só é possível receber cuidado se cuidarmos de outr@s. Trata-se de uma atitude e não de dois atos. Não se torna pessoa sem o encontro com outra pessoa e por isso Boff ressalta: “O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”. O cuidado, é uma característica inerente aquele/a que se dispõe ao pastorado, deve ser algo que vá além da mera oração. Deve ser algo que faça com que @ pastor/a sinta em seu coração, algo que o faça acordar à noite e orar pelas pessoas, abençoando-as. 

Vale citar que o “Cuidado pastoral” não é um conceito bíblico, mas sabe-se que há uma longa história na dinâmica tradição da Igreja, além do respaldo nas Escrituras. Na tradução francesa temos o “cure d’âme” (cura da alma) e no latim “cura animarum” (cura ou cuidado da alma). E por isso, na tradição cristã tal expressão tornou-se clássica ao descrever esse elemento central e unificador do ministério pastoral, afinal o “Cuidar das almas significa cuidar do centro vital das pessoas; é o reparo e a nutrição desse centro pessoal de afeto e vontade”.  Isso significa que a pessoa que está a frente de uma comunidade, deve ser uma “pessoa apaixonada” por gente. E não é tarefa fácil! Mas é possível e essencial.

Cuidado pastoral pode ser definido como encontro, e esse encontro é um acontecimento de conhecimento, um processo de interpretação, marcado por dualidades; e mais, encontro implica em experiência, reciprocidade e interação; encontro envolve o influenciar, transformar e mudar. Não é estático! Envolve relação, afetividade, cuidado, amor.

Para Clebsch e Jaekle “O cuidado pastoral consiste de atos de ajuda realizados por representantes cristãos, voltados para curar, suster, guiar e reconciliar as pessoas em dificuldades, cujos problemas emergem no contexto de preocupações e significados últimos”. Ou seja, para eles, o curar, significa tornar inteiro, íntegro. Tem o objetivo de superar desarmonias pessoais e, recuperar a integralidade nas relações interpessoais e com isso, fazer com que as pessoas se desenvolvam em relação a seu estado prévio. O suster, é ajudar uma pessoa que está em sofrimento, é amparar, é ser apoio, ajudar em crise, a perseverar e a transcender uma circunstância em que a recuperação de condição anterior pareça ser impossível, distante ou improvável. O guiar é a assistência pastoral ante a iminência de decisões e opções em relação a alternativas de pensamento e ação, em especial quando essas escolhas podem alterar fortemente a vida presente e futura da pessoa. E por fim, reconciliar, que é facilitar o restabelecimento de relacionamentos rompidos entre a pessoa e Deus, pessoas e a natureza, pessoas, grupos e sociedade.

E nesse sentido uso as palavras de Bonhoeffer, que disse: “o outro só será irmão quando se tornar um fardo, e só então deixará de ser objeto dominado. [...]. Levar o fardo do outro significa aqui suportar a realidade do outro em sua condição de criatura, aceitá-la, e, sofrendo-a, chegar ao ponto de alegrar-se com ela”. Portanto, somente “quem carrega sabe-se carregado, e somente com esta força poderá carregar”. O cuidado pastoral ensina que ser cristã ou cristão, ser clerig@, pastor/a é tornar-se carregador/a de fardos de esperança, de justiça, de amor, cura, sustentação, assistência, reconciliação, de misericórdia e da paz que excede todo entendimento humano. 

Que o trino Deus nos abençoe, como corpo de Cristo que somos.
Odete Liber


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