terça-feira, 31 de maio de 2011

CULTO E LITURGIA
Os termos “culto cristão” e “liturgia cristã” no sentido literal se referem à reunião do povo cristão ou de pessoas cristãs, em nome de Jesus. (Mt 18.20; 1 Co 5.4; 11.17, 18, 20, 33, 34; 14.23, 26) Neste sentido o Novo Testamento usa também o termo “o partir do pão” (cf. At 2. 42; 20.7) indicando que no centro destas reuniões estava a celebração da Santa Ceia, a Eucaristia.
No sentido amplo estes termos abraçam também toda a fé e vida cristãs - (Rm12.1; Tg 1.27; Hb 13.16). De modo que a liturgia do culto cristão nos acolhe com as nossas experiências da vida diária, prepara-nos e nos envia de volta para a vida cristã. Vale ressaltar que o culto na igreja de forma alguma substitui o nosso servir a Deus no dia a dia.
O culto cristão é, e sempre foi, um acontecimento dialogado: Deus age em nossa vida por meio da Palavra e dos Sacramentos, e nós manifestamos a nossa resposta para Deus. Importante é que a iniciativa para o nosso culto parte de Deus. Ele realizou todo o necessário para a nossa salvação e com os meios da graça, Palavra e Sacramentos, o próprio Deus possibilita que os cristãos lhe rendam culto e lhe dediquem toda a sua vida.
Culto é o encontro entre Deus e a comunidade, em determinada hora e em determinado lugar. O culto é, por excelência, comunitário. Assim, a pregação, as orações, a reconciliação, a Ceia do Senhor têm este caráter coletivo. E isso não significa desprezar nem subestimar a importância e o zelo pela espiritualidade individual, fortalecida no culto e, de forma especial, na prática das Orações Diárias da Comunidade[1], um tipo de culto cristão que a tradição protestante carece resgatar.
O termo liturgia provém do grego “leitourgia” que, em sua origem indicava a obra, a ação ou a iniciativa assumida livremente por um particular (indivíduo ou família) em favor do povo ou do bairro ou da cidade ou do Estado. Portanto, a liturgia era a “obra pública” assumida com liberdade. Com o passar do tempo a liturgia perdeu o seu caráter livre e passou a significar um serviço obrigatório. Tempos depois passa a ter o significado de serviço público prestado para o bem comum. 
Assim, a palavra LITURGIA tem sua origem do grego clássico e é composta de duas raízes: Liet – leos – laos: povo, público – ação do povo, obra pública, ação feita para o povo, em favor do povo. Ergomai (ergom): operar, produzir (obra), ação, trabalho, ofício, serviço. Traduzindo literalmente leitourghía significa: “serviço prestado ao povo” ou “serviço diretamente prestado para o bem comum”, serviço público.
Liturgia é o conjunto de elementos e formas utilizados para a efetiva realização do culto. A liturgia, com seus elementos e suas partes[2], forma um conjunto, segue uma lógica, com início, meio e fim, onde cada elemento desempenha função específica a partir do seu significado. Respeitados seu significado e sua função no ordo, que tem uma lógica interna, cada elemento e cada parte litúrgicos podem ser moldados criativamente.
Assim, culto, liturgia, Deus e comunidade se interligam.
CULTO:  é o encontro da comunidade/igreja com Deus
LITURGIA: é o conjunto de elementos e formas através dos quais se realiza esse                     encontro.
QUEM É DEUS?  É quem gerou e fez nascer a comunidade. Ele é a própria razão de ser                        da comunidade/igreja, a fonte da sua existência. Esse Deus chamou pessoas, a adotou como filhos e filhas, através do batismo. Não fosse Deus e o seu chamado, não haveria comunidade/igreja.
QUEM É A COMUNIDADE?  É uma comunhão de pessoas. A comunidade é um corpo vivo, como diz Paulo em Rm 12.5. A comunidade reunida pode ser comparada a uma grande família. E como família, a comunidade tem muitas coisas em comum: um passado conjunto; uma história, tradições, costumes comuns, um jeito mais ou menos parecido de fazer as coisas, de celebrar os momentos importantes da vida, uma certa maneira de ser, de pensar, de se comunicar. 
Segundo Kirst, a comunidade e Deus são dois parceiros[3]. E esses dois parceiros de encontro não são iguais. Há uma diferença entre eles. Há uma diferença infinita entre eles. O encontro no culto não acontece por vontade e iniciativa da comunidade e sim de Deus. O encontro, no culto, não é uma coisa que a comunidade pode exigir ou convocar por sua própria autoridade. É Deus que se coloca à disposição para o encontro com a comunidade no culto. O fundamento de todo culto cristão é a palavra de Jesus em Mateus 18.20.
Deus não indica o monte mais alto ou o lugar mais difícil de alcançar. Deus não nos manda encontrá-lo no deserto ou algo assim. Deus não determina épocas e horários impossíveis para ser achado. Ele nos dá uma fantástica liberdade e se coloca em nossas mãos, ao dizer "Vocês podem se reunir onde quiserem, quando quiserem. Basta que estejam dois ou três reunidos em meu nome, é só chamar o meu nome, que eu vou comparecer".     
Nesse sentido, o encontro no culto é possível, porque Deus permite e porque Ele (Deus) ordenou, conforme I Co 11. 24 e 25.
Por isso, celebrar a ceia/eucaristia, nas primeiras comunidades cristãs era o mesmo que celebrar o culto. Celebrar o encontro com Deus no culto é um ato que a comunidade cristã 'tem que fazer', cumprindo uma ordem de Jesus. Deus não apenas permite que a igreja/comunidade se reúna com ele, como também ordena.
Tal atitude tem uma conseqüência para cada pessoa que se diz cristã. Porque para uma pessoa cristã ir ao culto não apenas uma questão de gosto, de disposição, de ver os amigos. Ou uma questão de vontade de ir ao culto. A questão é "Deus ordenou à sua comunidade que se encontre com Ele no culto", e se a pessoa é membro dessa comunidade, ela é responsável para que a comunidade se reúna com Deus no horário e no local marcados pela comunidade. Ela faz parte desse encontro e não pode deixar de ir, pois tal encontro não é responsabilidade do pastor/a[4]. É responsabilidade da comunidade toda e de cada uma das pessoas que fazem parte dela[5].
E esse culto, ou seja, esse encontro tem uma ordem, um jeito para acontecer. É a liturgia. Na liturgia os dons de Deus são distribuídos ao seu povo. Como a palavra e os sacramentos de Deus não existem num vácuo, a liturgia serve para providenciar uma estrutura através da qual estes dons são entregues à congregação.
A liturgia é algo ordenado, organizado, um todo, inteiro. Tem uma estrutura e partes que se inserem ordenamente dentro dessa estrutura. Por isso, a liturgia é um conjunto de elementos e formas.
Tais elementos podem ser imprescindíveis ou apenas úteis. Quer dizer que, há partes que são úteis, sem ser imprescindível, ou seja, pode faltar que não acontecerá nada. Kirst diz que a liturgia é como uma casa composta com várias dependências. Há certas dependências/cômodos que não podem faltar, como por exemplo, a cozinha, banheiro, dormitório e outras partes que são úteis como a sala de TV, sala de jantar/estar ou varanda. Logo, mesmo que uma casa não tenha sala te TV, sala de estar ou jantar, não deixará de ser uma casa ou um apartamento. Assim, é a liturgia. Ela tem partes imprescindíveis, que nunca podem faltar e outras partes que são úteis, mas podem faltar num culto.
Assim como há liberdade na maneira de se fazer as peças de uma casa, como a liberdade quanto ao material, às cores, cortinas, decoração, igualmente há a liberdade quanto à forma da liturgia, isto é, quanto a maneira ou ao estilo de se realizar as partes da liturgia, como por exemplo, a maneira de se fazer a oração de intercessão ou a distribuição da Ceia/eucaristia.

BIBLIOGRAFIA:
BOROBIO, Dionisio. A Celebração na Igreja, Vol. I, São Paulo, Paulinas, 1990.
KIRST, Nelson. Nossa Liturgia: das origens até hoje. Série Colméia, fascículo 1, Sinodal: São Leopoldo, 2000.
REVISTA TEAR.  Liturgia em revista. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, nº. 7, p. 3-8, maio 2002.



[1] Ver revista  Tear – Liturgia em revista, São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, n. 7, p. 3-8, maio 2002.
[2] A liturgia está dividida em quatro partes, que são: Liturgia de Entrada, Liturgia da Palavra, Liturgia da Ceia do Senhor, Liturgia de Saída.
[3] Nelson KIRST. Nossa Liturgia: das origens até hoje. Série Colméia, fascículo 1, p. 12, Sinodal: São Leopoldo, 2000.
[4] O pastor/a ajuda a comunidade a celebrar.
[5] Nelson KIRST. Nossa Liturgia: das origens até hoje. Série Colméia, fascículo 1, p. 14, Sinodal: São Leopoldo, 2000.

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