LUCAS
14.1,7-14 - Ser @ primeir@ ou @ últim@?
Como é bonito quando nos
reunimos em nome de Deus, como irmãs e irmãos da fé. Cada uma, cada um de
lugares diferentes, de formas diferentes de crer e amar a Deus e de adorá-Lo. É
o amor que nos proporciona esse encontro, amor que é intenso e, que, por isso,
rompe barreiras. Amor que faz servir, que nos torna diaconisas e diáconos,
razão porque mesmo sendo os últimos, somos os primeiros, pois no Reino de Deus
há lugar para todos e todas.
Nosso texto bíblico para a nossa
reflexão trata de regras, mas acima de tudo do servir. A busca pelos primeiros
lugares que o texto menciona não deve ser tratada apenas como uma regra de
etiqueta, mas levanta a questão sobre o nosso papel e sobre o nosso lugar na
comunidade de fé.
Seria o nosso papel a busca
pelos primeiros lugares apenas para receber honra, mérito, reconhecimento? Ou
apenas para servir o próximo? Ser o primeiro ou o último?
Sabemos que regras de
etiqueta podem ser a redenção ou a perdição. Saber manuseá-las, usar a roupa
certa, o gesto, atitude correta no momento correto pode nos livrar de algumas
gafes. Falo de etiquetas e banquetes são parte do assunto dos versos 7-11 do
texto de nossa predica.
Jesus estava numa ceia
festiva, na casa de um dos líderes dos fariseus, era observado por todos e
observava a todos. Ele notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares
e, naturalmente, numa conversa, contou-lhes uma parábola:
“Quando fores convidado para
uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar...”
Jesus utiliza uma situação
cotidiana como termo de comparação para trazer uma mensagem que vai muito além
de uma simples regra de etiqueta. Ele fala sobre o Reino de Deus, o qual não
admite discussão sobre quem é o maior, o mais importante ou quem merece o
primeiro lugar. O núcleo é a questão dos últimos e dos primeiros, de quem serve
e de quem é servido. O propósito é ilustrar os valores do Reino de Deus, a
partir das regras de etiqueta, mas radicalizando-as ao absurdo, para mostrar
que estes valores invertem as regras estabelecidas pela sociedade. O Reino de
Deus é festa, é o banquete da ressurreição dos pobres, dos aleijados, coxos e
cegos. O Reino de Deus é dos que pelas regras sociais estabelecidas estão a
margem, é dos tolos e desvalidos, dos loucos e estropiados, das crianças, das
mulheres, dos que fazem um desvairado carnaval escatológico invertendo as
regras, vivendo a impossível exceção.
Os “últimos” no texto não
indica apenas um lugar social, não é apenas o lugar em que se encontram os que
são objetos da filantropia e da caridade. Os “últimos” não são um subproduto,
dignos de pena, de dó, compaixão. Para o evangelho, os últimos são o eschaton, o fim da história, são a linha
do horizonte, o fim de um mundo e o começo de um novo mundo. O lugar dos
últimos é o lugar do juízo, onde o velho vira novo e a morte ressurge em vida,
o lugar da graça e da maldição, por isso, lugar de epifania. É a margem que
vira centro, que se torna o eixo em torno do qual gira o mundo.
A falta de conhecimento dos
sábios e a fraqueza dos fortes não está em criar os últimos, ou então em criar
a pobreza, a marginalidade, o desemprego, mas na sua incapacidade de pensá-los
como margem, como periferia.
O texto de Hebreus, lido
hoje, ressalta um aspecto do servir, da hospitalidade, afirmando que quem trata
de um oprimido como se fosse oprimido tem a sorte de acolher anjos, mensageiros
do novo, surpreendentes evangelistas. Com estas observações, creio que a
parábola traz para nós um chamado que é o de estar com os últimos, escolher os
últimos lugares junto a eles, permitindo que o novo se estenda além da linha do
horizonte, pois a vida surge do outro lado de quem vive a morte.
Servir no seguimento de
Jesus não se busca subir e dominar sobre os outros, mas procura-se justamente o
orientar-se para baixo. Ser servidor/a e escravo/a de todos , e isto tem
conseqüências. Ou seja, não se pode ter ou haver domínio de pessoas sobre
pessoas.
Dessa forma, podemos
responder a indagação: qual o nosso papel, qual é o nosso lugar na comunidade
de fé? Será apenas para receber honra, mérito, reconhecimento? A resposta é
NÃO. Estamos para servir, somos todas/os diaconisas e diáconos, somos feitos e
chamados para servir. Somos chamados para alimentar com gestos concretos a
esperança de que é possível construir uma sociedade justa, pois para isso não
precisamos de regras de etiquetas, nem de poder, tampouco de cargos para
exercer o serviço e a compaixão, que levam à encarnação no cotidiano dos
empobrecidos. Servir representa para a Igreja e para as pessoas o esforço de
construir mesas, como nos diz o professor e pastor Rodolfo Gaede Neto:
Mesas como espaços abertos,
para os quais as pessoas são convidadas sem prévia seleção; ou mesas que
superam a barreira da velha lista dos iguais;
Mesas como espaços de
partilha do pão, para que todas as pessoas possam comer e se fartar (o banquete
da vida);
Mesas em que as pessoas se
encontram com suas diferenças; aí todos e todas estão na mesma condição de
convidados e convidadas do mesmo anfitrião, cabendo-lhes aceitarem-se e
respeitarem-se mutuamente como irmãs e irmãos; superado o fundamentalismo e a
inveja entre irmãos, poderá haver cooperação na causa comum da solidariedade;
Mesas como espaços de reconciliação nos níveis social, econômico, político, cultural e religioso, como lugar de testemunho do projeto de Deus de reconciliação do seres humanos divididos
Mas fica ainda a indagação:
Como fazer isto no dia dia?
Todos e todas somos
chamados/as a servir. Servir não se
resume em apenas doar alimentos, roupas, dinheiro. É mais que isso. Servir
significa caminhar com quem sofre, ajudar alguém a levantar-se, ouvir @ outr@,
orar pelo outr@, dar um abraço, um sorriso. Ninguém pode dizer que nada pode
fazer para ajudar o outr@.
Todos/as os/as cristãos/ãs
são chamados/as através do batismo a viverem o serviço, a diaconia naquilo que
fazem e na maneira como vivem o seu dia-a-dia no mundo. Pois no servir ou na
diaconia, tanto os/as que são servidos/as como os/as que servem são
transformados. É nesse sentido que a pratica evangélica se converte para o
mundo como um reflexo da antecipação do Reino de Deus. Deus nos abençoe! Odete Liber