terça-feira, 31 de maio de 2011

1984: o passado que se junta ao presente e futuro

1984: o passado que se junta ao presente e futuro

"Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota prensando um rosto humano para sempre".

George Orwell, grande escritor, que utilizava o pseudônimo de Eric Arthur Blair, nascido em Bengala, na Índia Inglesa, em 25 de junho de 1903, e veio a falecer em Londres, a 21 de janeiro de 1950. Poucas pessoas, mesmo entre as que lhe eram próximas, conheciam seu verdadeiro nome, de tal forma que o seu pseudônimo se tornou a sua Segunda natureza. A adoção deste nome correspondeu a uma alteração na vida e nos ideais do homem – de sustentáculo do Império Britânico, ele tornar-se-á num rebelde, constantemente critico.
Escrito no pós-guerra, o livro de Orwell – 1984, é um dos maiores clássicos do século passado. O romance de Orwell, descreve uma visão pessimista de um futuro sombrio. O autor inverteu o ano no titulo para criticar o totalitarismo vigente em 1948. Sendo assim, não era apenas uma obra de ficção cientifica.
No livro conta-se a história de Winston, um apagado funcionário do Ministério da Verdade da Oceania, como parte da indiferença perante a sociedade totálitária em que vive, passa à revolta, levado pelo amor por Júlia e incentivado por O’Brian, um membro do Partido Interno com quem Winston simpatiza; e de como acaba por descobrir que a própria revolta é fomentada pelo Partido do Poder, e também de como, no quarto 101, todo o homem tem os seus limites.
Logo, pode-se dizer que ao escrever 1984, Orwell estava desencantado com o socialismo, especialmente com sua faceta stalinista, causa que abraçara para melhor lutar contra o naziifascismo, dedicou os últimos anos de vida a denunciar o comunismo stalinista. Para tanto publicou dois livros, nos anos de 1945 e 1949, ambos com impressionante projeção, e que fizeram por acirrar ainda mais o feroz debate ideológico entre comunistas e democratas que dividiu o mundo intelectual na época da guerra fria. Um deles intitulava-se Animal Farm (A revolução dos bichos), e o outro simplesmente tinha um número na capa, o Nineteen Eigthy Four ("1984"), no qual apareceu pela primeira vez o onipresente Big Brother, o Grande Irmão.
O intento do cidadão Winston Smith de rebelar-se contra o todo-poderoso sistema em que ele vivia fracassara rotundamente. Preso, torturado de uma maneira especial pela polícia política do regime (ele era fóbico a ratos, justamente com quem teve que compartilhar uma gaiola), ele não resistiu. Em pouco tempo, reciclado por um programa de recondicionamento de praxe, na verdade uma lavagem cerebral em regra, Winston voltou a ser um servo da ordem totalitária. Esta é em essência o enredo do livro 1984 (Neneteen Eithy-Four). Este livro assinalou o rompimento definitivo de Orwell com qualquer causa de esquerda e de certa forma, pode-se considerá-la como o epílogo do seu desentendimento com os comunistas, drama moral e ideológico que se arrastava há mais de dez anos, desde os tempo da Guerra Civil espanhola (1936-39).
Como tantos intelectuais da sua geração (a crise dos anos 30, seguida da espantosa ascensão do nazi-fascismo, quando ditadores como Hitler, Mussolini e Franco, passaram a servir de exemplo e inspiração para tantos outros candidatos à tirania), Orwell inclinou-se pela resistência a eles. Nunca, entretanto, foi um militante comunista. Considerava-se um independente, um companheiro de viagem da causa. E assim o foi. Em dezembro de 1936, ele, como tantos outros estrangeiros, apresentou-se como voluntário para deter o golpe direitista do general Franco, na Espanha. A situação piorou quando, ainda que ferido na garganta quanto lutava ao lado dos milicianos de esquerda, em maio de 1937, ele foi, justamente por não ser um enquadrado, considerado um fora-da-lei pelos comunistas espanhóis alinhados a Moscou.
Depois, Orwell estava se recuperando em Barcelona quando assistiu, em junho de 1937, a liquidação, por fuzilamento ou encarceramento, do POUM (uma milícia pró-trotsquista que foi colocada na ilegalidade pelos comunistas espanhóis, supervisionados pela GPU de Stalin). As batalhas de rua travadas entre os socialistas e comunistas contra os anarquista e os integrantes do POUM (Partido Obrero de Unificación Marxista) foram por ele vivamente registradas nas páginas do seu Homage to Catalonia (Lutando na Espanha, pela tradução brasileira feita pela Editora Civilização Brasileira), escrito logo após a sua volta a Londres. Aquela absurda carnificina entre as esquerdas, que se tiroteavam e se ofendiam em frente a um inimigo comum, era o resultado da política stalinista. O ditador soviético, na época dos processos de Moscou, tinha transferido sua luta contra Trótski e outros oposicionistas, para dentro da guerra civil da Espanha. Como era ele quem abastecia os republicanos espanhóis com as armas e suprimentos com que lutavam contra Franco, ninguém pôde demovê-lo da intenção de exterminar com os dissidentes, ainda que, até aquele momento, lutassem ombro a ombro contra o inimigo comum.
Então abalado, Orwell, retornando à Grã-Bretanha, aos poucos arquitetou a vingança contra os comunistas. Primeiro foi a sátira Animal Farm (A revolução dos bichos), publicado em 1945, no qual, à moda de La Fontaine, que socorria-se de história de bichos para expor os homens, fez uma devastadora crítica ao regime soviético. Livro, que correu o mundo alimentado pelas paixões acesas pela guerra fria. Em seguida, em 1949, um ano antes de morrer tuberculoso, editou o Nineteen Eigthy-Four ("1984"), o grande clássico da desilusão de um esquerdista com o comunismo.
1984 foi inspirado na pequena novela "Nós" de Eugênio Zamiatin, de 1920/1, escrita em plena União Soviética, Orwell, com recursos literários bem superiores, colocou o regime de Stalin sob execração universal. Enquanto o ex-bolchevique Zamiatin, que foi o verdadeiro profeta da sociedade anti-utópica, chamou de benfeitor o ditador do seu Estado Uno, Orwell batizou-o de Big Brother. Era o Grande Irmão, que tudo via, tudo sabia e tudo previa, o invisível senhor de uma máquina política totalitária que movia guerra ao mundo e aos seus poucos opositores. Também recorreu a outro best-seller da distopia (isto é uma anti-utopia ou contra-utopia, que visualiza o futuro como um pesadelo), o Brave New World, o Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, que descrevia o funcionamento de uma sociedade pavloviana inteiramente controlada por recursos biológicos e farmacêuticos, publicado em 1931.
Tendo o controle das comunicações, fazendo da televisão, o seu poderoso olho policial, o Grande Irmão dobrava todos à sua vontade. O lema do regime era Big Brother is Watching You, o Grande Irmão te vigia. Nada, portanto, lhe escapava. Invertendo a lógica do aparelho televisor, obrigatoriamente ligado, sem outras alternativas de programas, era por meio do tubo que ele controlava os cidadãos rebaixados a servos obedientes.
Pode-se dizer que, a coesão interna do sistema era obtida não só pela opressão. Lá fora, além do perímetro da Oceania, como Orwell designou aquele paraíso da repressão, o regime enfrentava os seus inimigos eternos sustentando uma guerra interminável na Eurásia e na Eastasia, tudo justificado pela invenção de uma nova linguagem: a novilíngua. Este idioma totalitário, obra-prima dos filólogos a serviço do Grande Irmão - parente próximo do politicamente correto dos nossos dias -, tinha o dom de transmudar em outra coisa todas as palavras com significado desagradável ao regime. Não contente com isso, o Grande Irmão, para extravasar as emoções, promovia sessões de ódio, nas quais, numa tela gigante, aparecia a imagem do principal inimigo dele (Emanuel Goldstein, isto é, Trótski) para que todos descarregassem a fúria sobre aquele inimigo. Situações estas intercaladas com outras cenas enternecedoras, nas quais os súditos, perfeitamente lubrificados pela eficaz e condicionante engrenagem da propaganda, lançavam loas e agradecimentos mil ao Grande Irmão.
As intenções gerais de Orwell com o livro 1984, além de ser uma espécie de acerto de contas com o regime comunista, era tecer certas considerações sobre a experiência socialista até então conhecida. Basicamente ele assegurou que:
A guerra, movida perpetuamente pelo regime, era importante para consumir os produtos do trabalho humano, pois se tal tipo de trabalho for usado na incrementar o padrão de vida, o controle do partido sobre o povo decai, pois a guerra é a base de uma sociedade hierárquica, visto que a guerra contínua, tinha a função de garantir a ordem interna do regime. Desta forma Guerra significava Paz;
Logo, a paranóia do regime stalinista tinha uma função clara de mobilizar os recursos nacionais permanente em função da interminável guerra contra o capitalismo, servindo isto de pretexto para a continuidade da ditadura partidária e do domínio absoluto do chefe sobre o todo;
Havia uma necessidade emocional em acreditar na vitória final do Grande Irmão. Para poder suportar o clima opressivo, as mentes deveriam estar concentradas num perspectiva psicológica otimista;
Coletivismo não significa socialismo, já que a riqueza pertence a uma nova "classe alta", formada pela burocracia e pelos administradores. O coletivismo assegurou a permanente desigualdade;
A riqueza não é transmitida de pessoa a pessoa, mas controlada pelo grupo dominante.
Por isso, diz-se que é no final desse século que o mundo de Orwell poderia vir à tona. Com os megablocos, a novilíngua e a tríade que sustenta o duplipensamento: guerra é paz; liberdade é escravidão; e ignorância é força. Para acreditar nessas diretrizes é preciso duplipensar - cada um dos lemas pode ser usado em sentido oposto, dependendo do seu uso. Para entender o duplipensar é necessário duplipensar.
No livro, o personagem principal, Winston Smith, que trabalha no Ministério da Verdade, é uma crítica à imprensa e sua tarefa é adulterar o passado, contribuindo para a manutenção do Partido no poder. O Ministério da Verdade e o controle de dados da população é fundamental, pois quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado.
Existiam ainda mais três Ministérios, o da Paz (equivalente as forças da paz da ONU), o da Fartura, responsável pelo forjamento de números e metas e pelo entusiasmo da população, assim como o nosso racionamento de energia, e o do Amor, onde os suspeitos eram levados para tortura.
Orwell descreveu um mundo dividido em megablocos, onde os indivíduos eram controlados todo o tempo através de teletelas e dos aparatos de denúncia do estado totalitário. O atual cenário cennário macro-econômico ainda engatinha para essa reformulação politico-econômica. A Oceania, englobava a Alca e o Reino Unido, ou Pista de Pouso nº1 (a definição não era pejorativa segundo o autor, entretanto é uma crítica a pátria colonizadora que virou colonizada). Os ingleses estariam de fora do megabloco da Eurásia (Europa continental e países da Ex-URSS) da mesma forma que atualmente descartam o Euro. Orwell não precisava ser vidente para projetar uma unidade européia sem a Inglaterra. A Lestásia era o terceiro-bloco formado pela união dos tigres asiáticos, China e Japão. Já os outros países integrantes do Oriente Médio, África e do sul da Ásia formariam um quadrilátero geográfico sem unidade. Esses países seriam o motivo de guerra entre os três megablocos. Não muito diferente da situação do Afeganistão, Filipinas, Palestina, Iraque.
Assim como os megablocos, a redução drástica do idioma e o contole total da população estão na "pré-história". A informática é o setor mais necessário e o que mais avança para que transformação da ficção em realidade seja completa. O totalitarismo através do controle da população depende exclusivamente dos avanços tecnológicos.
Orwell criticava o totalitarismo de Estados, o qual poderá ser substituído pelo das grandes corporações. No livro, os membros do partidos eram vigiados em todos os lugares através das teletelas com medo de serem capturados. Orwell era experiente nisso: em 1949, ele denunciou, numa lista, 130 pessoas suspeitas de comunismo ao governo britânico, incluindo Charles Chaplin e Bernard Shaw. Assim, o indivíduo não terá defesa se a realidade caminhar para o mundo de "1984". Mesmo que haja uma oposição, a possibilidade de ela ser efetiva é nula. A oposição pode existir desde que não incomode. Orwell projeta o futuro numa crítica a falta de opção no presente. Se na ficção o cidadão reagisse, ele cometia crimidéia, o que bastava um pensamento ou um ato suspeito diante das teletelas e até dos próprios filhos, incentivados pelo Partido a denunciarem os pais suspeitos. Ao cometer crimidéia, o indivíduo passava a ser alvo fácil do Ministério do Amor, sendo vigiado e caçado pela Polícia do Pensamento. Tornava-se impessoa. Foi o que aconteceu com Winston, que tinha atitudes contrárias ao Partido como anotar num caderno suas idéias. Quando alguém se tornava "Impessoa" ela desaparecia e todos os seus registros eram apagados. Aquela pessoa nunca existira...
Portanto, 1984 não é apenas uma crítica, mas uma metáfora do que está sendo pavimentado pela novilíngua, pelo crimidéia e pelo duplipensar; presentes em 1948, possivelmente em nosso época, em 2011.
 
resenha critica escrita por Odete Liber AAdriano
Obra: 1984. 12ª ed., São Paulo: Nacional, 1979.

Mesquinho e contraditório

Jonas: mesquinho e contraditório

 O Deus que conhecemos através do livro de Jonas, é um Deus que não castiga o povo arrependido e de outro lado, um profeta furioso com Deus, mesquinho e contraditório.
Jonas 2:10. Aqui, o importante é mostrar a ironia de Jonas, pq ele se mostra bastante agradecido quando ele próprio recebe ajuda; em contraposição ele fica com raiva quando outras pessoas são ajudadas (Jonas41). Jonas se revela como uma pessoa que mantém seus preconceitos contra os de outro credos (Jonas 2:9).  Jonas através do texto, mostra sua estreiteza de fé, em especial nos versos 5 e 8. Jonas mostra sua devoção ao templo. Lembrar de Deus é alcançar o templo e vice versa. Deus implica lembrar-se do lugar de sua residência, o templo de Jerusalém.
Esse capitulo, dentre outras informações, nos apresenta o fato de que Deus se preocupa com todos os seres humanos, ninguém é exclusivo. Pessoas de diversas épocas, regiões, origens e credos e com as mais variadas experiências individuais.
A fuga de Jonas foi ampliada e muitas outras vidas foram alcançadas, indo além do próprio plano de Deus. Sua fuga torna-se uma forma de alcançar muitos gentios.
No filme, as meninas aborígines eram obrigadas a deixar família, costumes para seguirem uma nova religião... 
Vocês tem uma missão! Todos nós temos! Que é compreender que o Deus verdadeiro é aquele que dá a vida para todos, e que conta conosco para isso. A diferença, é que seu amor não é oferecido, dado por meio da força mas sim, pelo exemplo de vida. Pela mudança de vida, mudança que implica mudança de atitudes, mudanças na forma de pensar e agir. Isso é conversão.
Foi na fragilidade, estupidez e ignorância de Jonas que o povo se despertou para compreender sua situação e e agir. É a sabedoria e força do povo, construída através da própria condição histórica, social e cultural, que lhe permite interpretar a mensagem que lhe é transmitida por alguém que não tem a mínima noção do que de fato está acontecendo. Mas, Jonas no sue limite se curva diante dessa interpretação e recupera a tradição dos pobres da qual era parte e depositário.
A história das igrejas é marcada pelo exclusivismo de Deus. Esta é a repetição da tragédia experimentada pelo povo de Israel. A busca da hegemonia no cenário das nações, mesmo que encoberta, marcou a vida de Israel e tem marcado vida das igrejas.
A proposta original de Deus é ser uma bênção, um bem para todas as pessoas. Javé é a fonte, a força e o poder da vida. Tudo o que produz mais vida para os que estão no vale da morte é sinal da ação de Javé. E Javé, fala e age por meio da condição anti-vida (fome, violência, drogas, ausência de afetividade, etc). Jonas realizou um trabalho par Deus, mas não o entendeu o que estava fazendo. Muitas vezes não entendemos o que fazemos e nem o que Deus quer!   É preciso deixar de ser como um Jonas contemporâneo, que entende sua missão e não percebe a vontade de Deus para o povo. Se os que não tem passado e nem futuro são tocados pelo Espírito Deus, suscitando força de vida, nós, que recebemos a Palavra do Senhor, deve nos esforçar para descobrir e experimentar e experienciar esse Deus.
O Espírito de Deus se move entre o povo e move o povo por meios muito próprios, que desafiam nossas análises. Sempre somos unilaterais e marcados por nossa própria visão e conceitos sobre a vida e Deus.  Com isso perdemos a visão mais ampla da vida que inclui seus mistérios e os gestos pequenos e simples que dão origem a suas grandes torrentes. Interessante salientar que o Espírito Deus age por aí, sem violentar os códigos culturais e dando preferência aos gestos que, entre o povo geram sinais de que a vida é sempre possível. E Jonas vem nos apresentar a possibilidade de mudança, de nova vida.
ODete Liber
CULTO E LITURGIA
Os termos “culto cristão” e “liturgia cristã” no sentido literal se referem à reunião do povo cristão ou de pessoas cristãs, em nome de Jesus. (Mt 18.20; 1 Co 5.4; 11.17, 18, 20, 33, 34; 14.23, 26) Neste sentido o Novo Testamento usa também o termo “o partir do pão” (cf. At 2. 42; 20.7) indicando que no centro destas reuniões estava a celebração da Santa Ceia, a Eucaristia.
No sentido amplo estes termos abraçam também toda a fé e vida cristãs - (Rm12.1; Tg 1.27; Hb 13.16). De modo que a liturgia do culto cristão nos acolhe com as nossas experiências da vida diária, prepara-nos e nos envia de volta para a vida cristã. Vale ressaltar que o culto na igreja de forma alguma substitui o nosso servir a Deus no dia a dia.
O culto cristão é, e sempre foi, um acontecimento dialogado: Deus age em nossa vida por meio da Palavra e dos Sacramentos, e nós manifestamos a nossa resposta para Deus. Importante é que a iniciativa para o nosso culto parte de Deus. Ele realizou todo o necessário para a nossa salvação e com os meios da graça, Palavra e Sacramentos, o próprio Deus possibilita que os cristãos lhe rendam culto e lhe dediquem toda a sua vida.
Culto é o encontro entre Deus e a comunidade, em determinada hora e em determinado lugar. O culto é, por excelência, comunitário. Assim, a pregação, as orações, a reconciliação, a Ceia do Senhor têm este caráter coletivo. E isso não significa desprezar nem subestimar a importância e o zelo pela espiritualidade individual, fortalecida no culto e, de forma especial, na prática das Orações Diárias da Comunidade[1], um tipo de culto cristão que a tradição protestante carece resgatar.
O termo liturgia provém do grego “leitourgia” que, em sua origem indicava a obra, a ação ou a iniciativa assumida livremente por um particular (indivíduo ou família) em favor do povo ou do bairro ou da cidade ou do Estado. Portanto, a liturgia era a “obra pública” assumida com liberdade. Com o passar do tempo a liturgia perdeu o seu caráter livre e passou a significar um serviço obrigatório. Tempos depois passa a ter o significado de serviço público prestado para o bem comum. 
Assim, a palavra LITURGIA tem sua origem do grego clássico e é composta de duas raízes: Liet – leos – laos: povo, público – ação do povo, obra pública, ação feita para o povo, em favor do povo. Ergomai (ergom): operar, produzir (obra), ação, trabalho, ofício, serviço. Traduzindo literalmente leitourghía significa: “serviço prestado ao povo” ou “serviço diretamente prestado para o bem comum”, serviço público.
Liturgia é o conjunto de elementos e formas utilizados para a efetiva realização do culto. A liturgia, com seus elementos e suas partes[2], forma um conjunto, segue uma lógica, com início, meio e fim, onde cada elemento desempenha função específica a partir do seu significado. Respeitados seu significado e sua função no ordo, que tem uma lógica interna, cada elemento e cada parte litúrgicos podem ser moldados criativamente.
Assim, culto, liturgia, Deus e comunidade se interligam.
CULTO:  é o encontro da comunidade/igreja com Deus
LITURGIA: é o conjunto de elementos e formas através dos quais se realiza esse                     encontro.
QUEM É DEUS?  É quem gerou e fez nascer a comunidade. Ele é a própria razão de ser                        da comunidade/igreja, a fonte da sua existência. Esse Deus chamou pessoas, a adotou como filhos e filhas, através do batismo. Não fosse Deus e o seu chamado, não haveria comunidade/igreja.
QUEM É A COMUNIDADE?  É uma comunhão de pessoas. A comunidade é um corpo vivo, como diz Paulo em Rm 12.5. A comunidade reunida pode ser comparada a uma grande família. E como família, a comunidade tem muitas coisas em comum: um passado conjunto; uma história, tradições, costumes comuns, um jeito mais ou menos parecido de fazer as coisas, de celebrar os momentos importantes da vida, uma certa maneira de ser, de pensar, de se comunicar. 
Segundo Kirst, a comunidade e Deus são dois parceiros[3]. E esses dois parceiros de encontro não são iguais. Há uma diferença entre eles. Há uma diferença infinita entre eles. O encontro no culto não acontece por vontade e iniciativa da comunidade e sim de Deus. O encontro, no culto, não é uma coisa que a comunidade pode exigir ou convocar por sua própria autoridade. É Deus que se coloca à disposição para o encontro com a comunidade no culto. O fundamento de todo culto cristão é a palavra de Jesus em Mateus 18.20.
Deus não indica o monte mais alto ou o lugar mais difícil de alcançar. Deus não nos manda encontrá-lo no deserto ou algo assim. Deus não determina épocas e horários impossíveis para ser achado. Ele nos dá uma fantástica liberdade e se coloca em nossas mãos, ao dizer "Vocês podem se reunir onde quiserem, quando quiserem. Basta que estejam dois ou três reunidos em meu nome, é só chamar o meu nome, que eu vou comparecer".     
Nesse sentido, o encontro no culto é possível, porque Deus permite e porque Ele (Deus) ordenou, conforme I Co 11. 24 e 25.
Por isso, celebrar a ceia/eucaristia, nas primeiras comunidades cristãs era o mesmo que celebrar o culto. Celebrar o encontro com Deus no culto é um ato que a comunidade cristã 'tem que fazer', cumprindo uma ordem de Jesus. Deus não apenas permite que a igreja/comunidade se reúna com ele, como também ordena.
Tal atitude tem uma conseqüência para cada pessoa que se diz cristã. Porque para uma pessoa cristã ir ao culto não apenas uma questão de gosto, de disposição, de ver os amigos. Ou uma questão de vontade de ir ao culto. A questão é "Deus ordenou à sua comunidade que se encontre com Ele no culto", e se a pessoa é membro dessa comunidade, ela é responsável para que a comunidade se reúna com Deus no horário e no local marcados pela comunidade. Ela faz parte desse encontro e não pode deixar de ir, pois tal encontro não é responsabilidade do pastor/a[4]. É responsabilidade da comunidade toda e de cada uma das pessoas que fazem parte dela[5].
E esse culto, ou seja, esse encontro tem uma ordem, um jeito para acontecer. É a liturgia. Na liturgia os dons de Deus são distribuídos ao seu povo. Como a palavra e os sacramentos de Deus não existem num vácuo, a liturgia serve para providenciar uma estrutura através da qual estes dons são entregues à congregação.
A liturgia é algo ordenado, organizado, um todo, inteiro. Tem uma estrutura e partes que se inserem ordenamente dentro dessa estrutura. Por isso, a liturgia é um conjunto de elementos e formas.
Tais elementos podem ser imprescindíveis ou apenas úteis. Quer dizer que, há partes que são úteis, sem ser imprescindível, ou seja, pode faltar que não acontecerá nada. Kirst diz que a liturgia é como uma casa composta com várias dependências. Há certas dependências/cômodos que não podem faltar, como por exemplo, a cozinha, banheiro, dormitório e outras partes que são úteis como a sala de TV, sala de jantar/estar ou varanda. Logo, mesmo que uma casa não tenha sala te TV, sala de estar ou jantar, não deixará de ser uma casa ou um apartamento. Assim, é a liturgia. Ela tem partes imprescindíveis, que nunca podem faltar e outras partes que são úteis, mas podem faltar num culto.
Assim como há liberdade na maneira de se fazer as peças de uma casa, como a liberdade quanto ao material, às cores, cortinas, decoração, igualmente há a liberdade quanto à forma da liturgia, isto é, quanto a maneira ou ao estilo de se realizar as partes da liturgia, como por exemplo, a maneira de se fazer a oração de intercessão ou a distribuição da Ceia/eucaristia.

BIBLIOGRAFIA:
BOROBIO, Dionisio. A Celebração na Igreja, Vol. I, São Paulo, Paulinas, 1990.
KIRST, Nelson. Nossa Liturgia: das origens até hoje. Série Colméia, fascículo 1, Sinodal: São Leopoldo, 2000.
REVISTA TEAR.  Liturgia em revista. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, nº. 7, p. 3-8, maio 2002.



[1] Ver revista  Tear – Liturgia em revista, São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, n. 7, p. 3-8, maio 2002.
[2] A liturgia está dividida em quatro partes, que são: Liturgia de Entrada, Liturgia da Palavra, Liturgia da Ceia do Senhor, Liturgia de Saída.
[3] Nelson KIRST. Nossa Liturgia: das origens até hoje. Série Colméia, fascículo 1, p. 12, Sinodal: São Leopoldo, 2000.
[4] O pastor/a ajuda a comunidade a celebrar.
[5] Nelson KIRST. Nossa Liturgia: das origens até hoje. Série Colméia, fascículo 1, p. 14, Sinodal: São Leopoldo, 2000.

pensamento do dia

"Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias. E nem todas posso contar..." (Clarisse Lispector)